Ribeirão Preto, Segunda-feira, 12 de Outubro de 2009

Próximo Texto | Índice

Crime alicia cada vez mais as meninas

Existem 33 garotas da região de Ribeirão Preto em unidades de internação, aponta levantamento da Fundação Casa

Tráfico de drogas é o crime que mais "recruta" adolescentes; furtos e roubos também estão entre as principais causas


Márcia Ribeiro/Folha Imagem
Camila (nome fictício) foi pega com maconha ao visitar o namorado na cadeia e passou pelo programa de liberdade assistida

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Elas escapam das batidas policiais na maioria das vezes. Na escola, chamam menos a atenção dos professores ou diretores. Juntam-se a rapazes na rua para formar casais acima de qualquer suspeita. O crime em Ribeirão Preto, especialmente o tráfico de drogas, tem aliciado cada vez mais meninas.
Levantamento da Fundação Casa (ex-Febem) mostra que existem 33 garotas menores de 18 anos da região em unidades de internação, recurso máximo de medida socioeducativa. Entre as 33 garotas, 12 foram internadas por tráfico de drogas. Outros crimes, como furtos e roubos, também podem ter relação com o vício.
Por falta de unidades de internação na região, como as que existem para os meninos, as adolescentes vão para núcleos na capital e em Cerqueira César, na região de Ourinhos.
Segundo o diretor regional da fundação, Roberto Damásio, o crime tem visto nas mulheres "uma forma de tentar burlar a fiscalização."
Para atender a demanda de todo o Estado, existem apenas cinco unidades que recebem as jovens: duas em São Paulo, uma em Guarulhos, uma em Cerqueira César e uma unidade materno-infantil, para jovens grávidas. Há ainda uma casa de semiliberdade, na capital.
Além das internações, há em Ribeirão meninas que se envolvem com tráfico ou uso de drogas e precisam cumprir medidas em meio aberto, como a chamada liberdade assistida. Nesse caso, a adolescente permanece com a família, mas é acompanhada pela Justiça.
Atualmente, no universo de 278 adolescentes na liberdade assistida em Ribeirão, 18 são meninas, segundo dados do NAI (Núcleo de Atendimento Integrado) do município. Em anos anteriores, esse número não passava de 10 a 12 garotas.
A principal razão da aplicação da medida é por tráfico ou uso de drogas e furtos. "Tem crescido a participação das meninas, porque elas têm mais facilidades. Por exemplo, um policial masculino não "bate geral". Elas estão mais acima de algumas suspeitas", disse o psicólogo Elvio Bono, do NAI. Das meninas, cinco estão grávidas.
De acordo com a coordenadora técnica do NAI, Maria Carolina Lellis, muitas meninas estão em situação vulnerável para o ato infracional. Muitas vezes pobres, as garotas veem na delinquência uma forma de sobreviver. Se já são usuárias de drogas, se envolvem com namorados expostos ao crime.
Segundo o promotor da Infância e Juventude Naul Felca, a falta de estrutura familiar é um fator que, no caso das meninas, pode levar ao crime.
A reeducação é mais rápida: diz a equipe do NAI, as meninas aderem melhor às mudanças exigidas pela aplicação da medida socioeducativa do que os garotos. É o caso de Camila (nome fictício). Flagrada com maconha, passou pelo programa de liberdade assistida. Hoje, trabalha em uma gráfica e quer concluir o ensino médio.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.