Ribeirão Preto, Domingo, 13 de Setembro de 2009

Próximo Texto | Índice

VIPs contratam guarda-costas mulheres

"Eu acabo sendo uma surpresa, caso alguém tente me render ou venha em cima do VIP que eu estou protegendo", diz Soraia

Mulheres têm vantagem porque chamam menos atenção e porque acessam banheiros femininos e salões de cabeleireiro

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

É final de semana e Soraia, 31, se prepara para ir a uma boate em São Paulo. Escolhe blazer preto mais largo, calça da mesma cor e sapatos baixos. Roupa de balada só para a adolescente VIP que ela vai acompanhar. Soraia é uma das raras mulheres que trabalham como guarda-costas no país.
Segundo José Jacobson Neto, presidente da Abrevis (Associação Brasileira das Empresas de Vigilância), existem no Estado aproximadamente 5.000 vigilantes preparados para atuar como agentes de segurança pessoal privada. Desse total, cerca de cem, apenas, são mulheres.
"As mulheres estão ocupando mais esse espaço. Mas o crescimento é pequeno, praticamente vegetativo. Foi de 5% entre 2008 e 2009", disse Jacobson, vice-presidente do Grupo GP, uma das empresas que lideram o setor de segurança privada no Brasil.
Como explica Soraia, que trabalha para o grupo, guarda-costas femininas têm a vantagem de chamarem menos a atenção para si. Além disso, as agentes de segurança têm acesso a ambientes exclusivamente femininos, como salões de cabeleireiros e banheiros.
"O modo como nós agimos depende sempre do VIP [cliente]. Existem mulheres que gostam que a gente ande do lado delas, com bolsa, como se fosse uma amiga mesmo. Eu acabo sendo uma surpresa caso alguém venha a me render ou venha em cima do VIP", afirma.
Embora a demanda pelo serviço esteja mais concentrada nas capitais mais prósperas, como São Paulo e Brasília, grandes empresários do interior também recrutam mulheres como guarda-costas de seus familiares.
A psicóloga Thais Palma Lauand de Melo, de Ribeirão Preto, preparou, durante um ano dezenas de seguranças para proteger uma família ligada ao agronegócio da região. No ano passado, havia dez mulheres nesse grupo.
"Para uma VIP mulher, às vezes não há tanta diferença se [o guarda-costas] é homem ou mulher. Mas para a filha de um empresário, que está brincando com as amiguinhas, vai ser estranho se ficar junto um homem com ela", afirma Melo.
Para se tornar um guarda-costas, um vigilante, seja homem ou mulher, precisa ter trabalhado por, no mínimo, um ano na segurança patrimonial, como guarda de banco, por exemplo. A profissão também exige que o agente faça um curso de extensão específico na área de segurança pessoal privada, que dura 40 horas.
Além disso, a cada dois anos, o profissional precisa passar por um curso de reciclagem. Quanto mais qualificado, mais chances terá de entrar nesse mercado. "É o topo da carreira operacional. Porque quanto você mais trabalha, mais você ganha. Eu já cheguei a receber R$ 13 mil, R$ 14 mil", disse Cléber Ruben, gerente operacional da Defense, um centro de formação e reciclagem de vigilantes com filial em Ribeirão.
O treinamento é idêntico para homens e mulheres, afirma Ruben. Aspirantes a vigilantes têm aulas de educação física, armamento e tiro, por exemplo, no mesmo grupo dos homens. E não podem pedir água.
"No começo é difícil, você sente muita dor no corpo, mas não pode ter dó", afirma Verginia Aparecida Bacagini, 39, uma das dez alunas da Defense e guarda-costas em potencial.
Além de ser mais lucrativo - o salário-base de um vigilante comum gira em torno de R$ 1.000, enquanto o de um guarda-costas pode chegar a R$ 4.500 -, quem faz segurança de VIPs circula por ambientes mais glamourosos.
Foi através de sua profissão que Patrícia (nome fictício), segurança em uma casa de shows em Minas, conheceu Marcelo D2, Zeca Pagodinho, Pitty, e outros artistas. Agora, ela está prestes a virar guarda-costas da mãe de uma dupla de cantores sertanejos da região.
Mas que não se iludam os desavisados, diz Patrícia. Guarda-costas correm risco constante de vida, precisam ter bom preparo físico e foco exclusivo na proteção de seu VIP. "Você esquece a sua vida para viver a vida do VIP", afirmou Ruben.


Próximo Texto: Sequestros e roubos são o maior temor dos executivos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.