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VIPs contratam guarda-costas mulheres
"Eu acabo sendo uma surpresa, caso alguém tente me render ou venha em cima do VIP que eu estou protegendo", diz Soraia
Mulheres têm vantagem porque chamam menos atenção e porque acessam banheiros femininos e salões de cabeleireiro
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
É final de semana e Soraia,
31, se prepara para ir a uma
boate em São Paulo. Escolhe
blazer preto mais largo, calça
da mesma cor e sapatos baixos.
Roupa de balada só para a adolescente VIP que ela vai acompanhar. Soraia é uma das raras
mulheres que trabalham como
guarda-costas no país.
Segundo José Jacobson Neto, presidente da Abrevis (Associação Brasileira das Empresas de Vigilância), existem no
Estado aproximadamente
5.000 vigilantes preparados para atuar como agentes de segurança pessoal privada. Desse
total, cerca de cem, apenas, são
mulheres.
"As mulheres estão ocupando mais esse espaço. Mas o
crescimento é pequeno, praticamente vegetativo. Foi de 5%
entre 2008 e 2009", disse Jacobson, vice-presidente do
Grupo GP, uma das empresas
que lideram o setor de segurança privada no Brasil.
Como explica Soraia, que trabalha para o grupo, guarda-costas femininas têm a vantagem
de chamarem menos a atenção
para si. Além disso, as agentes
de segurança têm acesso a ambientes exclusivamente femininos, como salões de cabeleireiros e banheiros.
"O modo como nós agimos
depende sempre do VIP [cliente]. Existem mulheres que gostam que a gente ande do lado
delas, com bolsa, como se fosse
uma amiga mesmo. Eu acabo
sendo uma surpresa caso alguém venha a me render ou venha em cima do VIP", afirma.
Embora a demanda pelo serviço esteja mais concentrada
nas capitais mais prósperas, como São Paulo e Brasília, grandes empresários do interior
também recrutam mulheres
como guarda-costas de seus familiares.
A psicóloga Thais Palma
Lauand de Melo, de Ribeirão
Preto, preparou, durante um
ano dezenas de seguranças para proteger uma família ligada
ao agronegócio da região. No
ano passado, havia dez mulheres nesse grupo.
"Para uma VIP mulher, às vezes não há tanta diferença se [o
guarda-costas] é homem ou
mulher. Mas para a filha de um
empresário, que está brincando
com as amiguinhas, vai ser estranho se ficar junto um homem com ela", afirma Melo.
Para se tornar um guarda-costas, um vigilante, seja homem ou mulher, precisa ter
trabalhado por, no mínimo, um
ano na segurança patrimonial,
como guarda de banco, por
exemplo. A profissão também
exige que o agente faça um curso de extensão específico na
área de segurança pessoal privada, que dura 40 horas.
Além disso, a cada dois anos,
o profissional precisa passar
por um curso de reciclagem.
Quanto mais qualificado, mais
chances terá de entrar nesse
mercado. "É o topo da carreira
operacional. Porque quanto você mais trabalha, mais você ganha. Eu já cheguei a receber R$
13 mil, R$ 14 mil", disse Cléber
Ruben, gerente operacional da
Defense, um centro de formação e reciclagem de vigilantes
com filial em Ribeirão.
O treinamento é idêntico para homens e mulheres, afirma
Ruben. Aspirantes a vigilantes
têm aulas de educação física,
armamento e tiro, por exemplo, no mesmo grupo dos homens. E não podem pedir água.
"No começo é difícil, você
sente muita dor no corpo, mas
não pode ter dó", afirma Verginia Aparecida Bacagini, 39,
uma das dez alunas da Defense
e guarda-costas em potencial.
Além de ser mais lucrativo -
o salário-base de um vigilante
comum gira em torno de R$
1.000, enquanto o de um guarda-costas pode chegar a R$
4.500 -, quem faz segurança de
VIPs circula por ambientes
mais glamourosos.
Foi através de sua profissão
que Patrícia (nome fictício), segurança em uma casa de shows
em Minas, conheceu Marcelo
D2, Zeca Pagodinho, Pitty, e
outros artistas. Agora, ela está
prestes a virar guarda-costas da
mãe de uma dupla de cantores
sertanejos da região.
Mas que não se iludam os desavisados, diz Patrícia. Guarda-costas correm risco constante
de vida, precisam ter bom preparo físico e foco exclusivo na
proteção de seu VIP. "Você esquece a sua vida para viver a vida do VIP", afirmou Ruben.
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