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Reprodução de escravos impulsionou café
Pesquisa diz que plantéis tinham mesmo número de mulheres e homens e que crianças eram numerosas nas fazendas
Leis a partir de 1850 que proibiam tráfico podem ter estimulado coronéis a aumentar a população escrava nas lavouras
Edson Silva/Folha Imagem
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Caseiro Clodoaldo Agapto e sua filha Andressa no cemitério para escravos na fazenda Jaborandi
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
A reprodução entre escravos
foi estimulada por donos de
terras e impulsionou o desenvolvimento do café no século 19
na região de Ribeirão Preto. É o
que aponta um estudos desenvolvido pelo historiador Carlo
Monti, coordenador do curso
de especialização em história,
cultura e sociedade do Centro
Universitário Barão de Mauá.
Ao analisar 217 inventários
pós-morte registrados em São
Simão entre 1849 e 1887, com
917 escravos, Monti descobriu
que o número de homens e mulheres cativos era praticamente
o mesmo e que havia um grande número de crianças nos
plantéis (grupo de escravos), o
que era atípico para a região e
para os padrões do Brasil.
"Os dados indicam que a reprodução entre escravos acabou sendo uma opção local",
afirmou Monti. Uma das hipóteses que justificariam o interesse de proprietários na reprodução de seus escravos, segundo ele, está baseado na série
de leis publicadas a partir de
1850 voltadas à inibição do tráfico, inclusive entre províncias,
e da própria escravidão.
Nesse mesmo período, com o
deslocamento do eixo de desenvolvimento da cultura cafeeira do Rio de Janeiro para o
Vale do Paraíba, para a região
de Campinas e, posteriormente, para a região, a mão-de-obra
escrava foi necessária para o
aumento das lavouras.
"No geral, havia mais do que
o dobro de homens em relação
a mulheres. Esse era o padrão.
Outro dado é que 33% na região
eram crianças. No geral, o padrão era entre 11% e 12% de
crianças", disse Monti.
Segundo o historiador, os inventários também apontaram
que não se incentivava o casamento entre os escravos, como
ocorreu, por exemplo, no sul
dos Estados Unidos, e que apenas 41% das crianças nasceram
de pais solteiros.
O resultado do estudo é questionado por outros historiadores, como José Antonio Corrêa
Lages, um dos primeiros pesquisadores do assunto na região. Ele vinculou a expansão
da escravidão na região ao período em que a abolição
-1888- estava próxima de
acontecer e quando o número
de cativos diminuía em outras
regiões. Lages disse que o aumento ocorreu mais pela compra de escravos de províncias
antigas, como Minas e Vale do
Paraíba, ainda que ilegalmente.
Em seu estudo, Monti não
analisou de que maneira a reprodução entre os escravos foi
estimulada, se como forma de
negociação entre senhores e
cativos, por exemplo, ou a partir da permissão para a criação
de crianças nos planteis.
Outra lacuna da historiografia observada por Monti encontra-se na falta de informações
sobre os desdobramentos sociais desse tipo de formação familiar de escravos.
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