Ribeirão Preto, Domingo, 15 de Novembro de 2009

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Reprodução de escravos impulsionou café

Pesquisa diz que plantéis tinham mesmo número de mulheres e homens e que crianças eram numerosas nas fazendas

Leis a partir de 1850 que proibiam tráfico podem ter estimulado coronéis a aumentar a população escrava nas lavouras

Edson Silva/Folha Imagem
Caseiro Clodoaldo Agapto e sua filha Andressa no cemitério para escravos na fazenda Jaborandi

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

A reprodução entre escravos foi estimulada por donos de terras e impulsionou o desenvolvimento do café no século 19 na região de Ribeirão Preto. É o que aponta um estudos desenvolvido pelo historiador Carlo Monti, coordenador do curso de especialização em história, cultura e sociedade do Centro Universitário Barão de Mauá.
Ao analisar 217 inventários pós-morte registrados em São Simão entre 1849 e 1887, com 917 escravos, Monti descobriu que o número de homens e mulheres cativos era praticamente o mesmo e que havia um grande número de crianças nos plantéis (grupo de escravos), o que era atípico para a região e para os padrões do Brasil.
"Os dados indicam que a reprodução entre escravos acabou sendo uma opção local", afirmou Monti. Uma das hipóteses que justificariam o interesse de proprietários na reprodução de seus escravos, segundo ele, está baseado na série de leis publicadas a partir de 1850 voltadas à inibição do tráfico, inclusive entre províncias, e da própria escravidão.
Nesse mesmo período, com o deslocamento do eixo de desenvolvimento da cultura cafeeira do Rio de Janeiro para o Vale do Paraíba, para a região de Campinas e, posteriormente, para a região, a mão-de-obra escrava foi necessária para o aumento das lavouras.
"No geral, havia mais do que o dobro de homens em relação a mulheres. Esse era o padrão. Outro dado é que 33% na região eram crianças. No geral, o padrão era entre 11% e 12% de crianças", disse Monti.
Segundo o historiador, os inventários também apontaram que não se incentivava o casamento entre os escravos, como ocorreu, por exemplo, no sul dos Estados Unidos, e que apenas 41% das crianças nasceram de pais solteiros.
O resultado do estudo é questionado por outros historiadores, como José Antonio Corrêa Lages, um dos primeiros pesquisadores do assunto na região. Ele vinculou a expansão da escravidão na região ao período em que a abolição -1888- estava próxima de acontecer e quando o número de cativos diminuía em outras regiões. Lages disse que o aumento ocorreu mais pela compra de escravos de províncias antigas, como Minas e Vale do Paraíba, ainda que ilegalmente.
Em seu estudo, Monti não analisou de que maneira a reprodução entre os escravos foi estimulada, se como forma de negociação entre senhores e cativos, por exemplo, ou a partir da permissão para a criação de crianças nos planteis.
Outra lacuna da historiografia observada por Monti encontra-se na falta de informações sobre os desdobramentos sociais desse tipo de formação familiar de escravos.


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