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Escolas patinam para inserir cultura negra na sala de aula
Lei federal criada há 6 anos estipula o ensino da história afro-brasileira em sala
Ausência do tema atinge rede pública e privada, dizem especialistas; falta material adequado e formação do professor
LIGIA SOTRATTI
DA FOLHA RIBEIRÃO
O mês de novembro, com
eventos relativos ao Dia da
Consciência Negra -comemorado na próxima sexta-, contrasta com o vazio de debates
sobre o tema ao longo do ano
nas escolas. Seis anos após a lei
federal de implementação da
cultura afro-brasileira no currículo, redes públicas e particulares ainda patinam para levar o
conteúdo às salas de aula.
A crítica é feita por pesquisadores ligados à educação, para
quem faltam material pedagógico próprio e formação do docente. "O trabalho é incipiente
e precário, falta comprometimento. É preciso instituir que
os temas tenham mais visibilidade na escolas, que faça parte
do conteúdo pedagógico", disse
o coordenador do Cladim (Centro de Estudos das Culturas e
Línguas Africanas e da Diáspora Negra), da Unesp de Araraquara, professor Dagoberto José Silva.
Para o diretor estadual da
Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Mauro Inácio,
as escolas desenvolveram poucas ações e, em parte, ainda esbarram na falta de orçamento.
"Há carência de material didático e de cursos para os professores. Os municípios até criam
projetos, mas eles são temporários. As iniciativas são válidas,
mas estão longe do ideal", disse.
De acordo com a Secretaria
de Estado da Educação, a rede
de ensino desenvolveu cursos
de capacitação dos professores
e também investiu em um acervo que contempla a área - um
programa instituiu 14 títulos
sobre história e cultura africana e afro-brasileira neste ano. A
pasta não informou quantas escolas receberam o material.
As mesmas medidas afirmam
ter tomado os cinco maiores
municípios da região. As secretarias de educação de Ribeirão
Preto, Franca, São Carlos, Araraquara e Barretos disseram
que, gradativamente, têm feito
cursos para professores e levado o debate aos alunos. A grande dificuldade, segundo as cidades, é encontrar material didático para os alunos.
Para Silva, nem mesmo a escola particular que, em tese, poder investir mais, tem feito seu
papel. "Na rede privada, esse
assunto praticamente não entra, porque depende do aval do
proprietário, apesar de ser uma
lei que se aplica a todos."
O presidente regional do
Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), João Alberto
de Andrade Velloso, afirmou
que as escolas particulares têm
se empenhado.
"Os professores não tiveram
disciplinas sobre a cultura afro-brasileira ou não tinham isso
com destaque na sua graduação. Por isso, têm de procurar
esse conhecimento, complementar o currículo, para então
repassar ao aluno", disse Velloso. "Mas sabemos que isso não
é de uma hora para outra, é um
processo gradativo."
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