Ribeirão Preto, Domingo, 15 de Novembro de 2009

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Escolas patinam para inserir cultura negra na sala de aula

Lei federal criada há 6 anos estipula o ensino da história afro-brasileira em sala

Ausência do tema atinge rede pública e privada, dizem especialistas; falta material adequado e formação do professor

LIGIA SOTRATTI
DA FOLHA RIBEIRÃO

O mês de novembro, com eventos relativos ao Dia da Consciência Negra -comemorado na próxima sexta-, contrasta com o vazio de debates sobre o tema ao longo do ano nas escolas. Seis anos após a lei federal de implementação da cultura afro-brasileira no currículo, redes públicas e particulares ainda patinam para levar o conteúdo às salas de aula.
A crítica é feita por pesquisadores ligados à educação, para quem faltam material pedagógico próprio e formação do docente. "O trabalho é incipiente e precário, falta comprometimento. É preciso instituir que os temas tenham mais visibilidade na escolas, que faça parte do conteúdo pedagógico", disse o coordenador do Cladim (Centro de Estudos das Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra), da Unesp de Araraquara, professor Dagoberto José Silva.
Para o diretor estadual da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Mauro Inácio, as escolas desenvolveram poucas ações e, em parte, ainda esbarram na falta de orçamento. "Há carência de material didático e de cursos para os professores. Os municípios até criam projetos, mas eles são temporários. As iniciativas são válidas, mas estão longe do ideal", disse.
De acordo com a Secretaria de Estado da Educação, a rede de ensino desenvolveu cursos de capacitação dos professores e também investiu em um acervo que contempla a área - um programa instituiu 14 títulos sobre história e cultura africana e afro-brasileira neste ano. A pasta não informou quantas escolas receberam o material.
As mesmas medidas afirmam ter tomado os cinco maiores municípios da região. As secretarias de educação de Ribeirão Preto, Franca, São Carlos, Araraquara e Barretos disseram que, gradativamente, têm feito cursos para professores e levado o debate aos alunos. A grande dificuldade, segundo as cidades, é encontrar material didático para os alunos.
Para Silva, nem mesmo a escola particular que, em tese, poder investir mais, tem feito seu papel. "Na rede privada, esse assunto praticamente não entra, porque depende do aval do proprietário, apesar de ser uma lei que se aplica a todos."
O presidente regional do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo), João Alberto de Andrade Velloso, afirmou que as escolas particulares têm se empenhado.
"Os professores não tiveram disciplinas sobre a cultura afro-brasileira ou não tinham isso com destaque na sua graduação. Por isso, têm de procurar esse conhecimento, complementar o currículo, para então repassar ao aluno", disse Velloso. "Mas sabemos que isso não é de uma hora para outra, é um processo gradativo."


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