Ribeirão Preto, Domingo, 17 de Junho de 2001

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ECONOMIA
Valores de terrenos no município, que abrigará unidade da empresa, tiveram aumento de até 300% desde 2000
"Efeito Embraer" tira Gavião do campo

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

O anúncio da instalação do Pólo Aeroespacial da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.) já alterou o perfil econômico de Gavião Peixoto.
A cidade deixou de lado a vocação rural e aposta na instalação de estrutura de serviços e na valorização imobiliária. Os imóveis urbanos valorizaram até 300% enquanto os preços dos rurais despencaram desde junho de 2000, quando o pólo foi anunciado.
Em 1998, a cidade tinha quase 56% de população rural. Em 2000, a taxa caiu para 33%.
Os investimentos da Embraer são da ordem de US$ 150 milhões, em cinco anos, e há previsão de geração de 5.000 empregos.
A inflação nos preços de imóveis é tão forte que já há moradores que decidiram mudar para outras cidades onde encontraram valores mais acessíveis para alugar ou comprar.
Para administrar essa situação, duas imobiliárias -palavra inexistente no vocabulário da cidade até julho do ano passado- se instalaram em Gavião. Os proprietários vieram de fora, um de Matão e outro de Jaú.
Um dos sócios da mais recente imobiliária a se instalar (há dois meses), Aristides Pecorare Filho, resolveu ir para o município quando ficou sabendo da instalação da Embraer. "Alugamos um prédio com um valor mais baixo em 2000 e deixamos os apartamentos fechados até agora."
De acordo com ele, os aluguéis, que giravam em torno de R$ 300, saltaram para até R$ 800. Os terrenos, que, antes do "efeito Embraer", ficavam anos para serem vendidos por no máximo R$ 5.000, hoje são comercializados facilmente por até R$ 20 mil.
A comerciante Zulina Torrezani de Camargo afirmou que conseguiu vender uma casa que tinha na cidade por R$ 30 mil. Antes, ela ficou três nos tentando vendê-la por R$ 20 mil, mas não conseguia. "Depois que chegou a Embraer "choveu" de comprador", completou o marido de Zulina, Antônio Luiz de Camargo, 69.
O problema já faz com que comerciantes de Gavião morem em outras cidades. O açougueiro André Roberto da Silva, 21, tem um estabelecimento em Gavião, mas mora em Araraquara.
Ele conta que está há seis meses no município à procura de uma casa para alugar. "O preço é muito salgado. Está muito difícil de encontrar um imóvel por aqui."
Segundo Silva, o aluguel de uma casa no padrão que ele procura sai por R$ 300 em Gavião. "Em Araraquara, encontro mais barato do que isso", afirmou.
Para o frentista Elimar José dos Santos, 28, sair de Gavião tem outras vantagens. "Se tenho R$ 300 para pagar um aluguel, vou morar em Araraquara, que tem muito mais estrutura."
Segundo Pecorare Filho, nas últimas semanas ele suspendeu a negociação de imóveis em razão dessa inflação. "Tivemos que fazer isso porque não tinha mais imóveis, e os que tínhamos estavam com valores muito altos."
O assessor da Prefeitura de Gavião Peixoto, Narciso Zanin, 58, disse que há pessoas da cidade que, mesmo tendo casas à disposição, preferem não alugá-las. "Estão fazendo uma 'especulaçãozinha'", afirmou.
Para a socióloga urbana da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Rosana Baeninger, 38, a elevação dos valores dos aluguéis e imóveis urbanos deve impedir a migração de pessoas de classes sociais baixas à cidade.
A violência é um dos principais medos dos moradores da cidade, que temem o efeito "Califórnia brasileira" que ocorreu em Ribeirão na década de 80.
Se o "efeito Embraer" foi favorável aos imóveis urbanos, o mesmo não ocorreu com as áreas rurais, segundo imobiliários e fazendeiros da cidade. O motivo, para eles, são as restrições impostas pela Asa (Área de Segurança Aérea), que limita o cultivo agrícola e a criação de animais.


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