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ECONOMIA
Valores de terrenos no município, que abrigará unidade da empresa, tiveram aumento de até 300% desde 2000
"Efeito Embraer" tira Gavião do campo
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
O anúncio da instalação do Pólo
Aeroespacial da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica
S.A.) já alterou o perfil econômico
de Gavião Peixoto.
A cidade deixou de lado a vocação rural e aposta na instalação de
estrutura de serviços e na valorização imobiliária. Os imóveis urbanos valorizaram até 300% enquanto os preços dos rurais despencaram desde junho de 2000,
quando o pólo foi anunciado.
Em 1998, a cidade tinha quase
56% de população rural. Em 2000,
a taxa caiu para 33%.
Os investimentos da Embraer
são da ordem de US$ 150 milhões,
em cinco anos, e há previsão de
geração de 5.000 empregos.
A inflação nos preços de imóveis é tão forte que já há moradores que decidiram mudar para
outras cidades onde encontraram
valores mais acessíveis para alugar ou comprar.
Para administrar essa situação,
duas imobiliárias -palavra inexistente no vocabulário da cidade
até julho do ano passado- se instalaram em Gavião. Os proprietários vieram de fora, um de Matão
e outro de Jaú.
Um dos sócios da mais recente
imobiliária a se instalar (há dois
meses), Aristides Pecorare Filho,
resolveu ir para o município
quando ficou sabendo da instalação da Embraer. "Alugamos um
prédio com um valor mais baixo
em 2000 e deixamos os apartamentos fechados até agora."
De acordo com ele, os aluguéis,
que giravam em torno de R$ 300,
saltaram para até R$ 800. Os terrenos, que, antes do "efeito Embraer", ficavam anos para serem
vendidos por no máximo R$
5.000, hoje são comercializados
facilmente por até R$ 20 mil.
A comerciante Zulina Torrezani
de Camargo afirmou que conseguiu vender uma casa que tinha
na cidade por R$ 30 mil. Antes, ela
ficou três nos tentando vendê-la
por R$ 20 mil, mas não conseguia.
"Depois que chegou a Embraer
"choveu" de comprador", completou o marido de Zulina, Antônio
Luiz de Camargo, 69.
O problema já faz com que comerciantes de Gavião morem em
outras cidades. O açougueiro André Roberto da Silva, 21, tem um
estabelecimento em Gavião, mas
mora em Araraquara.
Ele conta que está há seis meses
no município à procura de uma
casa para alugar. "O preço é muito salgado. Está muito difícil de
encontrar um imóvel por aqui."
Segundo Silva, o aluguel de uma
casa no padrão que ele procura sai
por R$ 300 em Gavião. "Em Araraquara, encontro mais barato do
que isso", afirmou.
Para o frentista Elimar José dos
Santos, 28, sair de Gavião tem outras vantagens. "Se tenho R$ 300
para pagar um aluguel, vou morar
em Araraquara, que tem muito
mais estrutura."
Segundo Pecorare Filho, nas últimas semanas ele suspendeu a
negociação de imóveis em razão
dessa inflação. "Tivemos que fazer isso porque não tinha mais
imóveis, e os que tínhamos estavam com valores muito altos."
O assessor da Prefeitura de Gavião Peixoto, Narciso Zanin, 58,
disse que há pessoas da cidade
que, mesmo tendo casas à disposição, preferem não alugá-las.
"Estão fazendo uma 'especulaçãozinha'", afirmou.
Para a socióloga urbana da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas) Rosana Baeninger, 38,
a elevação dos valores dos aluguéis e imóveis urbanos deve impedir a migração de pessoas de
classes sociais baixas à cidade.
A violência é um dos principais
medos dos moradores da cidade,
que temem o efeito "Califórnia
brasileira" que ocorreu em Ribeirão na década de 80.
Se o "efeito Embraer" foi favorável aos imóveis urbanos, o mesmo não ocorreu com as áreas rurais, segundo imobiliários e fazendeiros da cidade. O motivo,
para eles, são as restrições impostas pela Asa (Área de Segurança
Aérea), que limita o cultivo agrícola e a criação de animais.
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