Ribeirão Preto, Sábado, 18 de Abril de 2009

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Aluno é obrigado a viajar 2 h para estudar

Buracos e más condições de pistas no distrito de Santa Eudóxia, em São Carlos, prejudica aulas de cerca de 60 estudantes

Pais, alunos, professores e escolas reclamam da situação; prefeitura afirma que o problema está sendo resolvido

JEAN DE SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS

Os buracos e as más condições das pistas da zona rural de São Carlos, uma das maiores cidades da região, obrigam cerca de 60 alunos a viajar até duas horas de ônibus para chegar à escola no distrito de Santa Eudóxia. Em algumas pistas, o ônibus que os transporta não consegue passar, principalmente em dias de chuva.
Por conta das estradas, os atrasos dos estudantes são comuns, especialmente entre os que estudam à noite. A dona de casa Silvia Regina Pedroso Bril, 34, que tem um filho no segundo ano do ensino médio, disse que os atrasos são normais. "A primeira aula, ele sempre perde." Seu filho, Fabio Henrique Bril, 17, pega o ônibus às 19h e só chega ao distrito depois das 20h -a aula começa por volta das 19h30. A volta só acontece após a 0h.
"Isso quando não ligam dizendo que o ônibus está parado na estrada e pedem para arranjar trator para puxar", disse ela, que relata ter passado "muitas vezes" pela situação. A prefeitura admite o problema, mas diz que ele está sendo resolvido (leia texto nesta página).
Com dois filhos estudando em Santa Eudóxia, Andréia Claudino Darvino, 26, disse que, mesmo para os alunos que estudam durante o dia, a rotina é cansativa. "Eles fazem a tarefa de manhã, vão para a escola e só voltam à noite. Não têm tempo para mais nada", disse a mãe dos meninos Lucas e Mateus, de 6 e 8 anos, respectivamente, que saem de casa às 9h e só retornam após as 19h.
Frequentadora de um curso noturno em uma telesala em Santa Eudóxia, uma estudante que não quis ter seu nome revelado afirmou que os atolamentos são constantes. "Daí a gente atrasa, quando não tem que ajudar a empurrar."
Os recorrentes atrasos -ela só conseguia assistir meia hora de aula- levaram-na a reclamar na subprefeitura. "O problema vem de muito tempo e ninguém resolve."
Nos períodos de chuva, a estrada se torna intransitável e o transporte escolar deixa de buscar os alunos, relataram mães, professores e alunos ouvidos pela Folha. Desde o começo de abril, por exemplo, o ônibus percorreu seu trajeto somente duas vezes.
O trabalhador rural Jurandir Topp, 51, pai de Cristiane Topp, 13, aluna da 7ª série, lamenta. "Não tem como a gente parar de trabalhar e vim trazer, então ela fica perdendo aula."
A aluna, que ficou duas semanas sem ir à aula, conta que ainda está tentando colocar as matérias em dia. "Vou emprestar os cadernos para copiar."
Rosilene do Carmo Moreno, coordenadora pedagógica de um dos dois colégios estaduais do distrito, diz que os alunos da zona rural, principalmente os que estão na fase de alfabetização, são prejudicados. "Não acompanham a turma. Isso gera um déficit. E as mães ainda culpam a escola."
A professora Ana Beatris Appel disse que também é prejudicada. Ela afirmou ligar para as mães dos faltosos e ouvir o mesmo discurso. A situação, segundo ela, gera desinteresse dos pais, que não fazem questão de enviar os filhos à escola.


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