Ribeirão Preto, Sábado, 19 de junho de 1999

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Escolas relatam violência alastrada por Ribeirão

Lucio Piton/Folha Imagem
O garoto Pedro Ernesto Alpino da Silva, 11, faz redação na escola municipal Maria Ignês Lopes Rossi, no Conjunto Manoel Pena


da Folha Ribeirão

Medo e assalto foram as palavras mais frequentes usadas nos textos que estudantes preparam a pedido da Folha sobre "Ribeirão Preto e a Violência".
A proposta era ouvir, sem interferência da reportagem, o que garotos de 10 e 11 anos estavam vivendo em seus bairros e queriam dizer para os adultos.
Participaram da experiência duas escolas, uma pública e outra particular, escolhidas por estarem em diferentes pontos da cidade. A intenção era mostrar contrastes.
Dos 67 estudantes que fizeram redações, 34 relataram terem sido vítimas da violência ou conhecerem alguém que já foi assaltado.
Surgiram relatos, como de uma garota que ouviu tiros enquanto brincava com as amigas, na Vila Tibério. "Vimos dois garotos que aparentavam ter 16 anos correndo na rua. Eles estavam armados e um estava baleado", escreveu Sylvia Lucyolo Pezzuto, que mora na Vila Tibério.
As redações foram feitas por alunos da 5ª série da escola municipal Maria Ignês Lopes Rossi, no Conjunto Habitacional Manoel Pena, e do colégio particular Marista, no centro de Ribeirão Preto.
Os depoimentos evidenciaram que a violência deixou de ser uma particularidade da periferia e hoje se alastrou por toda a cidade.

Método
No dia combinado, a Folha acompanhou a realização das redações e explicou aos alunos a intenção do trabalho. Eles poderiam fazer um texto, de forma livre, e do tamanho que desejassem, desde que pensassem no tema.
Quem não contou histórias, pediu aos adultos e a Deus que façam esforços a favor da paz. "Eu peço toda noite a Deus para me proteger", disse Marina Fernando Antunes.
Depois de escritos, os próprios professores das classes indicaram os textos que poderiam ser publicados nesta edição.
As escolas foram escolhidas para debater o assunto no aniversário da cidade devido ao aumento da violência entre os alunos.
Somente este ano na região de Ribeirão Preto, de janeiro a abril, dois estudantes foram assassinados na porta de colégios, dois foram feridos a bala e um adolescente acabou detido com um revólver calibre 38.
Da última vez, no dia 28 de maio, Luidi Pires de Oliveira, 16, foi baleado e sua namorada, Crislaine Tostes Pereira, 16, morreu dentro do Cemitério Municipal da Saudade.
Segundo a polícia, o autor do disparo é irmão de um rapaz com quem Oliveira havia brigado, dias atrás, na saída da escola estadual Dom Alberto José Gonçalves.
O crime ocorreu a cem metros do colégio, meia hora depois de os estudantes da manhã terem sido liberados da aula.
Em abril, o garoto Jair Galasso Filho, 17, foi morto dentro da escola Rafael Leme Franco, no Jardim Antártica, zona oeste.
Galasso Filho foi atingido por vários disparos de uma pistola calibre 380 na quadra da escola. O autor dos disparos estava do lado de fora, atirando por uma fresta do muro. A estudante Josana Carla de Paula, 14, também foi baleada.
Em fevereiro, Alglene Nogueira Pereira, 17, foi morto a tiros no portão de uma escola em Serrana.

Causas
Em comum, a polícia descobriu que os crimes da escola Rafael Leme Franco e de Serrana foram provocados por adolescentes. O motivo: vingança por causa de brigas.
As mortes fizeram com que várias campanhas fossem deflagradas em colégios da região. Hoje, a USP (Universidade de São Paulo), por exemplo, assessora pelo menos quatro escolas em Ribeirão no combate à violência.
Desde a janeiro, a Polícia Civil investiga traficantes que estariam "locando" armas para adolescentes. Em troca, os traficantes estariam recebendo parte do que os garotos roubam na cidade.



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