Ribeirão Preto, Sábado, 19 de junho de 1999

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Fim da "era do ouro" impulsionou Ribeirão

da Folha Ribeirão

O declínio da extração do ouro nas jazidas mineiras definiu a sorte da cidade de Ribeirão Preto, que até no século 18 estava fora das rotas dos bandeirantes e longe do processo de colonização.
Com a escassez do minério, surgiram outras atividades paralelas, como a pecuária e a agricultura -nesse período, variadas e ainda voltadas para a economia local.
"Eram atividades que exigiam terras em abundância, o que provocou a migração", afirmou o historiador José Antônio Lages, que escreveu um livro sobre a história da região até o final do século 19.
A rota dos viajantes desse período passava por São Simão e até por Batatais, de acordo com documentos e mapas da época.
Lages disse que a geografia do Estado mineiro, repleta de áreas montanhosas, acelerou a caçada por terras devolutas, ou seja, áreas que foram entregues pelo Estado a "tutores" e que não foram aproveitadas como exigia a lei.
Os primeiros posseiros plantaram, de início, para subsistência de suas famílias. Depois, principalmente a partir da chegada da família real ao Brasil, em 1810, passaram a aumentar a produção.
O primeiro censo realizado na "Parochia de São Sebastião do Ribeirão Preto", em 1872, mostra que os únicos "forasteiros" do local eram mineiros.
Dos 5.552 habitantes, 96 eram de Minas Gerais.
"O número é pequeno porque perguntavam de onde a pessoa tinha vindo e, como Ribeirão era inexpressivo nessa época, a maioria passava por outra cidade de São Paulo e acabava registrada no censo como nascida no Estado", afirmou Lages.
Documentos da época, reunidos por Lages, indicam que existiam cinco grandes propriedades agrícolas, que, ao longo dos anos, foram sendo redivididas.
O segundo movimento migratório, a partir do final do século 19, envolve produtores de café das regiões do Paraíba e da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
"Eles deixaram as terras cansadas para aproveitar a força da terra roxa que aparecia em Ribeirão, assim que as matas eram derrubadas", disse o historiador Divo Marino, diretor do Arquivo Histórico Municipal.
A partir de 1880, cedendo à pressão dos cafeicultores, o governo paulista começou a trazer imigrantes, principalmente italianos para trabalhar nas lavouras da região no lugar dos escravos.
Faltam dados sobre o número de imigrantes que chegaram a Ribeirão Preto até o fim do ciclo da cafeicultura local.
Na década de 30, com o declínio do café, surgiram outras culturas, como o algodão e a cana.
O movimento migratório para Ribeirão recomeçou na década de 70, com a criação do Pró-Álcool e a expansão da economia sucroalcooleira na região.

Terras
A própria data de aniversário da cidade, comemorada hoje, 19 de junho, está ligada à questão da propriedade da terra.
Na época em que chegaram os posseiros, a forma estratégica de legalizar as posses era doar um pequeno patrimônio para a construção de uma capela.
A doação era registrada nos livros paroquiais e ficava assim reconhecido que o doador era o dono, caso contrário não poderia ter feito o ato de caridade.
No dia em que ficou definido como sendo a data do aniversário de Ribeirão, por exemplo, em 1856, o juiz Rodrigues Mendes despachou favoravelmente ao pedido de demarcação de terras do patrimônio doado para São Sebastião, padroeiro da cidade até hoje, feita pelo fabriqueiro Manoel de Nazareth Azevedo (responsável por demarcar a doação).
Em março de 1863, o vigário de São Simão, padre Manoel Eusébio de Azevedo, definiu que a capela de São Sebastião seria construída onde hoje está a praça 15 de Novembro. A igreja ficava no mesmo lugar da atual fonte luminosa, em frente ao Theatro Pedro 2º.
Segundo Lages, em seu livro "Ribeirão Preto: da Figueira à Barra do Retiro", a demora para se iniciar a obra se explica pela falta de recursos. (ALESSANDRO SILVA)




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