Ribeirão Preto, Sábado, 19 de Dezembro de 2009 |
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Pela primeira vez, migrante passa o Natal cortando cana
Usinas da região anunciam extensão da safra até o fim do ano ou meados de janeiro
JULIANA COISSI DA FOLHA RIBEIRÃO Pela primeira vez nas últimas duas décadas, o cortador de cana migrante vindo do Nordeste vai passar o Natal e o Ano Novo trabalhando nos canaviais da região de Ribeirão Preto. Revoltados, alguns boias-frias vão fazer protestos e ameaçam ir embora, mesmo sem garantia de acerto salarial. Por causa das chuvas, algumas usinas preveem estender sua safra até a véspera do fim de ano ou meados de janeiro -a colheita normalmente se encerra no dia 20 de dezembro. Na usina Moreno, em Luiz Antônio, a safra deve se estender até o dia 28 deste mês. A estimativa da empresa é que ainda falta colher 6% da safra -de 80 a 90 mil toneladas. A Moreno emprega cerca de 800 pessoas no corte. Quem vira o ano é a usina Maringá, de Araraquara. A empresa estende a safra até o dia 15 de janeiro. "Estamos com 7% a 10% de atraso por causa das chuvas", disse o diretor administrativo da usina, Luís Henrique Scabello de Oliveira. A empresa tem cerca de mil trabalhadores no corte. Segundo Oliveira, há pelo menos dez anos a Maringá não estendia sua safra. Trabalhadores da Cerp (Central Energética de Ribeirão Preto), antiga usina Galo Bravo, de Ribeirão, disseram que a usina deve seguir com a moagem até 24 de janeiro. A extensão, porém, já havia sido anunciada pela Cerp. Segundo a irmã Inês Facioli, da Pastoral do Migrante, o maior temor dos migrantes é que o valor da rescisão fique abaixo da média dos outros anos -de R$ 1.500 a R$ 1.800. Isso porque quando chove o trabalhador não corta a cana e recebe apenas a diária de R$ 18,30. Em um dia normal de trabalho chega a R$ 40. A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) não tem uma estimativa oficial de quantas usinas estenderão sua safra, mas o mercado prevê que 40 usinas do Centro-Sul devam estender sua safra ou até emendar com a próxima. Na opinião de Francisco Alves, professor da UFSCar que estuda o trabalho na cana, obrigar migrantes a permanecer até janeiro é um "ato covarde" e uma "violação do direito do trabalhador". "Mais que o Natal, voltar é o momento de aproveitar as chuvas nas suas terras para plantar o roçado, que será cuidado pela família quando ele voltar para o canavial", disse. Próximo Texto: "É muito chato virar o ano no canavial", diz boia-fria Índice |
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