Ribeirão Preto, Sexta-feira, 20 de Março de 2009

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PM acha vereador foragido na prefeitura

Presidente da Câmara de Igarapava, um dos 5 acusados de cobrar "mensalinho" do prefeito, estava escondido no "arquivo morto"

Na residência de um vereador preso, polícia apreendeu R$ 800 mil em dinheiro e cheques, além de uma arma calibre 22


Tiago Brandão-18.mar.09/"Comércio da Franca"
O vereador e ex-prefeito Sérgio Augusto Freitas (PP) é preso por policiais militares em Igarapava

JEAN DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

GEORGE ARAVANIS
ENVIADO ESPECIAL A IGARAPAVA

Único foragido do grupo de cinco vereadores acusados de tentar receber "mensalinho" do prefeito de Igarapava, o presidente da Câmara, Alan Kardec de Mendonça (PSDB), foi preso na manhã de ontem, após passar a noite escondido numa sala do "arquivo morto" do Departamento de Recursos Humanos da prefeitura, coberto por uma caixa de papelão.
Mendonça saiu da reunião em que os vereadores davam o ultimato ao prefeito Francisco Molina (PSDB) para pagar R$ 5.000 por mês a cada um pouco antes do flagrante dado por promotores e PMs. Os outros quatro vereadores - José Eurípedes de Souza (PT), José Laudemiro Alves (DEM), Sérgio Augusto Freitas (PP) Roberto Silveira (PSDB)- estão presos desde anteontem.
Na noite da prisão, a polícia apreendeu na casa do vereador petista cerca de R$ 850 mil em cheques e dinheiro, além de uma arma de calibre 22. Em 2008, o então candidato declarou à Justiça Eleitoral bens no valor de R$ 5.700.
Na busca por Mendonça, a Polícia Militar chegou a utilizar um helicóptero. Ele ficou escondido na prefeitura por pelo menos 22 horas. Ao prestar depoimento, permaneceu calado.
A prisão dos vereadores foi o assunto de ontem nas ruas de Igarapava. Os moradores disseram estar envergonhados, surpresos e revoltados com a descoberta do "mensalinho".
"Isso é uma vergonha para toda a cidade", disse a doméstica Cícera da Silva.
Para o ex-prefeito Antonio Augusto Gobbi, que governou a cidade pelo PT por dois mandatos até 2004, a imagem de Igarapava fica arranhada. Ele diz, porém, que enquanto administrou a cidade, nunca foi pressionado para pagar mensalinho. "Nunca ouvi falar disso", afirmou Gobbi, marido da vereadora Denise Mattar Soukef Gobbi, que deve assumir a presidência da Câmara a partir da semana que vem -ela é a primeira secretária e única representante da Mesa Diretora que não foi presa.
Ontem, os quatro vereadores restantes se reuniram de manhã na Câmara e decidiram que vão realizar a sessão de segunda-feira, às 19h. Suplentes devem ser convocados, de acordo com o advogado da Câmara, José Luiz Said.
O prefeito da cidade não foi localizado em sua casa nem na prefeitura. Segundo uma fonte que acompanha as investigações, ele teria declarado que "ou descumpriria o acordo ou renunciaria". Por não ter denunciado a tentativa de extorsão, porém, ele pode ser processado por prevaricação.
Para a diretora de Combate à Corrupção da ONG Amarribo (Amigos Associados de Ribeirão Bonito), Lizete Verillo, "é preciso que as pessoas participem da vida pública das cidades, façam um acompanhamento sistemático dos trabalhadores dos vereadores".
A Amarribo ficou conhecida nacionalmente por, a partir da mobilização da sociedade civil de Ribeirão Bonito, ter dado início a movimentos que derrubaram dois prefeitos da cidade -em 2002 e 2007. Hoje, é uma referência nacional na área de combate à corrupção.
Nas transcrições das ligações entre vereadores e o prefeito interceptadas pelo Gaeco e às quais a Folha teve acesso, o vereador José Laudemiro Alves (DEM), o Zé da Bola, sugere ao prefeito que fraude e superfature licitações para pagar o mensalinho.


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