Ribeirão Preto, Domingo, 20 de Setembro de 2009

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Galpão abriga "cracolândia" de Ribeirão

Antigo espaço da Ceagesp é usado em plena luz do dia por viciados em crack que, para fugir da polícia, deixaram a Baixada

Imóvel, que hoje pertence à Prefeitura de Ribeirão, não tem mais cobertura e está abandonado há mais de uma década

Edson Silva/Folha Imagem
Usuário de crack entra no antigo galpão da Ceagesp, na V.Virgínia, zona oeste de Ribeirão, que se transformou em novo ponto para utilização de entorpecentes

VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Para fugir da polícia e dos olhares de quem passa pelo centro antigo de Ribeirão Preto, usuários de crack estão migrando da região da Baixada para um dos antigos galpões da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), transformando o local em uma espécie de "cracolândia".
O imóvel, que pertence à prefeitura, não tem mais cobertura e está completamente abandonado há mais de uma década. "Virou uma "cracolândia" isso daqui. É o dia inteiro gente entrando e saindo. À noite, chegam mulheres. A gente chama a polícia toda hora, mas eles voltam", disse Maria Auxiliadora Andrade, 52, uma das moradoras do entorno, em referência à região central de São Paulo, onde a droga é usada ao ar livre.
No último dia 8, quando a Folha esteve no galpão, havia oito homens dentro do imóvel. Um deles, que se identificou como ex-funcionário de usinas da região, mostrou as pedras de crack à reportagem. "O que eles deviam fazer era arrumar uma clínica de recuperação para nós. Não chamar a polícia. Eu fumo porque eu gosto", disse.
As informações sobre as consequências da ocupação do galpão por usuários do crack são contraditórias. Funcionários do Banco de Alimentos da prefeitura, que funciona no imóvel vizinho, afirmam que dificilmente têm contato com os usuários. Já os moradores se dizem vítimas de furtos praticados por dependentes.
A porta-voz da Polícia Militar Lilian Caporal Nery confirmou que a ocupação do antigo galpão da Ceagesp por usuários de crack é recente, mas negou que haja no município pontos específicos para o consumo da droga. "Os usuários deste tipo de droga procuram lugares pouco iluminados e com pouca circulação", disse.
Na última quarta, a Folha acompanhou a ronda noturna da Cetrem (Central de Triagem e Encaminhamento do Migrante, Itinerante e Morador de Rua), que aborda moradores de rua oferecendo abrigo. O galpão da Ceagesp foi um dos destinos, assim como avenidas escuras e outros pontos comerciais da cidade, o que comprova que os locais de uso de drogas -não necessariamente as ilícitas- são conhecidos.
"No centro, os principais pontos [de consumo de álcool e drogas] são o quadrilátero do Mercadão e a praça Schimidt", afirmou a psicopedagoga da Cetrem, Renata Cristina Correa da Silva.
Para o caso específico do galpão da Ceagesp, a Secretaria da Cultura desenvolveu um projeto para restaurar o imóvel, em parceria com uma fundação espanhola, e usá-lo como centro de educação e cultura.
Segundo a titular da pasta, Adriana Silva, nas vezes em que o local foi visitado, os usuários do crack estavam no galpão. "Isso só evidencia a necessidade de estarmos atuando no local. Nossa ideia é receber a própria comunidade do entorno em projetos de música, dança e cinema", disse. A expectativa é que o contrato de parceria com a fundação seja assinado até dezembro. Em 2008, a nova "cracolândia" chegou a ser posta em leilão, mas a venda foi cancelada a pedido da prefeita Dárcy Vera (DEM), após não aparecerem interessados.


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