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Papais noéis de rua e de shopping pedem mais humanidade no Natal
DA FOLHA RIBEIRÃO
São oito meses de cultivo de
uma barba impecável para, no
mês do Natal, representar a figura do Papai Noel para as
crianças que passam pelo centro de Ribeirão Preto. Esta é a
sina de José Franklin de Andrade, 64, pelo quinto ano
consecutivo um dos titulares
da Casinha do Papai Noel,
montada no calçadão.
Em 2007 foram 8.626 abraços, contados sistematicamente por ele, além de quase
20 mil balas doadas. Em troca,
um salário apenas "razoável"
e cinco anos consecutivos
com piolho, pelo contato
constante com as crianças, situação que trata com humor.
"Se fosse um Papai Noel
ambicioso, poderia ir para os
shoppings ganhar até R$
8.000, mas rejeito. Minha responsabilidade é aqui no centro, na Casinha [do Papai
Noel], com as crianças que representam o povo", afirmou
Andrade, que diz receber R$
2.200 por 24 dias de trabalho.
Com barba e cabelos naturais, o advogado aposentado já
diz ter incorporado o personagem. Integrante de um coral, ele só lamenta o fim do espírito natalino em Ribeirão.
Questionado sobre qual seria
o seu presente de Natal, foi
enfático: "Não tive isso de
abraçar Papai Noel na minha
infância. Gostaria que isso
não acabasse jamais. Até procuro falar com as autoridades
para tomar cuidado com essa
cultura", afirmou.
No outro lado da cidade, no
Novo Shopping, na Nova Ribeirânia, José Rafael Sabino,
53, vive o outro lado da vida de
Papai Noel, em contato direto
com crianças de nível de vida
mais elevado. "De vez em
quando vêm aquelas crianças
com relógios chamativos e te
pedem dez brinquedos. Não é
sempre, mas acontece."
O cozinheiro, que trabalha
em casa para cuidar da mulher, doente, está no seu primeiro ano na pele do personagem. Ganhou o emprego por
indicação do filho, que faz trabalhos para uma agência de
modelos. Por 38 dias de trabalho, vai ganhar R$ 1.300, bem
menos do que o companheiro
que trabalha no centro da cidade. Ainda assim, vibra com
a chance.
"Tem muita coisa que vale a
pena e marca a gente. Apesar
de ser um shopping, já me pediram cesta básica e até para o
pai parar de ir no bar todo
dia", disse. O paulistano radicado em Ribeirão diz que não
gostaria de ganhar nada de
material neste Natal. Se pudesse ter um pedido atendido
pelo "bom velhinho", queria
que o sentido de humanidade
fosse resgatado. "Para não ter
que ouvir mais pedidos de
crianças como os que já ouvi
nesta profissão", afirmou.
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