Ribeirão Preto, Sábado, 20 de Dezembro de 2008

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Papais noéis de rua e de shopping pedem mais humanidade no Natal

DA FOLHA RIBEIRÃO

São oito meses de cultivo de uma barba impecável para, no mês do Natal, representar a figura do Papai Noel para as crianças que passam pelo centro de Ribeirão Preto. Esta é a sina de José Franklin de Andrade, 64, pelo quinto ano consecutivo um dos titulares da Casinha do Papai Noel, montada no calçadão.
Em 2007 foram 8.626 abraços, contados sistematicamente por ele, além de quase 20 mil balas doadas. Em troca, um salário apenas "razoável" e cinco anos consecutivos com piolho, pelo contato constante com as crianças, situação que trata com humor.
"Se fosse um Papai Noel ambicioso, poderia ir para os shoppings ganhar até R$ 8.000, mas rejeito. Minha responsabilidade é aqui no centro, na Casinha [do Papai Noel], com as crianças que representam o povo", afirmou Andrade, que diz receber R$ 2.200 por 24 dias de trabalho.
Com barba e cabelos naturais, o advogado aposentado já diz ter incorporado o personagem. Integrante de um coral, ele só lamenta o fim do espírito natalino em Ribeirão. Questionado sobre qual seria o seu presente de Natal, foi enfático: "Não tive isso de abraçar Papai Noel na minha infância. Gostaria que isso não acabasse jamais. Até procuro falar com as autoridades para tomar cuidado com essa cultura", afirmou.
No outro lado da cidade, no Novo Shopping, na Nova Ribeirânia, José Rafael Sabino, 53, vive o outro lado da vida de Papai Noel, em contato direto com crianças de nível de vida mais elevado. "De vez em quando vêm aquelas crianças com relógios chamativos e te pedem dez brinquedos. Não é sempre, mas acontece."
O cozinheiro, que trabalha em casa para cuidar da mulher, doente, está no seu primeiro ano na pele do personagem. Ganhou o emprego por indicação do filho, que faz trabalhos para uma agência de modelos. Por 38 dias de trabalho, vai ganhar R$ 1.300, bem menos do que o companheiro que trabalha no centro da cidade. Ainda assim, vibra com a chance.
"Tem muita coisa que vale a pena e marca a gente. Apesar de ser um shopping, já me pediram cesta básica e até para o pai parar de ir no bar todo dia", disse. O paulistano radicado em Ribeirão diz que não gostaria de ganhar nada de material neste Natal. Se pudesse ter um pedido atendido pelo "bom velhinho", queria que o sentido de humanidade fosse resgatado. "Para não ter que ouvir mais pedidos de crianças como os que já ouvi nesta profissão", afirmou.


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