Ribeirão Preto, Quarta-feira, 22 de Junho de 2011

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Linguistas apoiam livro com linguagem informal

Ato em "defesa" do uso coloquial da língua ocorreu em evento na UFSCar

Para especialistas, texto polêmico deixa claras diferenças com a língua culta; já críticos veem preconceito velado

Silva Junior/Folhapress
A linguista Heloisa Ramos, durante debate na UFSCar

ELIDA OLIVEIRA
JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

Linguistas e estudantes da área se reuniram ontem na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) para um ato em defesa ao livro "Por uma vida melhor", da linguista Heloisa Ramos.
Distribuído pelo MEC (Ministério da Educação) a alunos jovens e adultos, o livro foi foco da polêmica sobre o ensino do padrão da norma culta porque coloca a linguagem formal ao lado da coloquial, legitimando-as.
Em um dos capítulos da obra, um trecho afirma: ""Mas eu posso falar "os livro?". Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico."
"O livro não está errado. É um livro didático para apoio do professor em sala de aula. Foi elaborado para adultos que voltam à escola depois de um tempo afastados", disse ontem a autora.
Segundo Heloisa, o livro deixa claro as diferenças nas linguagens orais e na escrita.
A posição defendida na UFSCar é polêmica e divide opiniões. Para o pós-doutor em linguística da Universidade Federal do Paraná Carlos Alberto Faraco, ensinar o coloquial não legitima o erro.
"O princípio pedagógico é ensinar a norma culta sem desmerecer as demais variedades linguísticas". Ele diz que essa abordagem, que ele adota em seus livros, estimula a aprendizagem.
Para Cristine Gorski Severo, doutora em teoria e análise linguística da UFSCar, o preconceito hierarquiza a fala e vem acompanhado do preconceito social.

CRÍTICAS
Membro da Academia Brasileira de Letras, o gramático e filólogo Evanildo Bechara diz que a discussão é válida, mas não no meio escolar.
"A autora diz que existe um local, um momento e um material próprio para se aprender a língua escrita culta. O livro didático não é nem o local, nem o momento nem o material para esse tipo de sugestão ao aluno."
O estudante, diz, aprende na escola a língua padrão. "Ela [a autora] cria na expressão ["claro que pode'] a possibilidade de ele continuar dizendo assim."
Especialista em gramática, Maria Helena de Moura Neves, da Unesp de Araraquara, diz que permitir "nós pega o peixe" pode parecer democrático, mas acaba por reforçar o preconceito.
"É como dizer: "Está errado, não é bom, mas estou fazendo uma concessão"." O indicado, diz, é deixar claro ao aluno que há diferentes formas de falar, mas que "o normal, no sentido de normas", na língua escrita não é "nós pega o peixe".


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