Ribeirão Preto, Domingo, 23 de Maio de 2010

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Crack cria geração de órfãos na região

Em Ribeirão Preto, de 15 crianças em casa de adoção, todas foram abandonadas por pais usuários de drogas

Por ser barato e viciar bem rápido, o crack está cada vez mais associado a problemas na Vara da Infância, diz promotor

LIGIA SOTRATTI
ENVIADA ESPECIAL A ARARAQUARA

Aos sete meses de idade, os gêmeos Gabriel e Aline (nomes fictícios) são amamentados por funcionária de um abrigo em Araraquara. Há um mês, foram para o local após os pais serem flagrados usando crack em casa, segundo o Conselho Tutelar.
Sob proteção da Justiça, as crianças aguardam a recuperação dos pais para tentar voltar ao convívio familiar.
Problema que se espalhou pelo país, o crack é alvo do governo federal, que lançou plano de combate na última quinta-feira, prevendo, entre outras medidas, aumento de leitos para dependentes.
A estimativa do Ministério da Saúde é que cerca de 600 mil pessoas no país sejam dependentes da droga. Na região, o total de usuários cresce e atinge pais de famílias.
Em Ribeirão, das 15 crianças acolhidas no Carib (Centro de Adoção de Ribeirão Preto), todas foram abandonadas por pais usuários de drogas -pelo menos metade usa crack associado a outras substâncias entorpecentes.
"Pelo jeito que os pais tratam os filhos a gente vê que têm muito carinho, mas a pessoa não cuida da própria vida, por conta da droga, e não consegue ficar com a criança", disse a assistente social da instituição Terezinha do Carmo Santos.
Uma das crianças que chegaram é o quarto bebê de uma mãe que, entre outras drogas, é usuária de crack.
"É uma situação muito difícil porque, por mais que a gente oriente e fale de planejamento familiar, a pessoa está tão perdida nas drogas que não se cuida e acaba engravidando novamente."
As crianças abrigadas no Carib aguardam processo judicial para ver se é possível o retorno para os pais -ou algum familiar- ou se entram em processo de adoção.
De acordo com o promotor substituto da Infância e Juventude de Araraquara Fellipe Demétrio Lopes, o crack tem se alastrado e o problema reflete em várias áreas, sendo o abandono de crianças uma das consequências.
"É uma droga bem barata e que vicia muito rápido. É o pano de fundo para várias questões da Vara da Infância e também na área criminal. É preocupante o avanço do crack", afirmou.
Os casos chegam pelo Conselho Tutelar, que faz a visita e, constatado o problema, recolhe a criança.
"Os pais são encaminhados para tratamentos de internação e têm direito de defesa. Depois a busca é por familiares que possam assumir a criança, como pais, tios, avós. Esgotadas todas as possibilidade é que [a criança] vai para adoção", disse.


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