Ribeirão Preto, Domingo, 23 de maio de 1999

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GUERRA DOS MENINOS
Dos 11 homicídios em maio, 7 tiveram garotos como vítimas, maior índice já registrado pela polícia
Morte de jovens é recorde em Ribeirão

Ernesto Rodrigues/Folha Imagem
Familia do adolecente F.P.M.S., que foi assassinado em uma quermesse na Vila Virgínia


ALESSANDRO BRAGHETO
da Folha Ribeirão

O adolescente F.P.M.S., 15, saiu de casa à noite no domingo passado para ir a uma quermesse encontrar uma garota. Ligado à sua família, ele gostava de computador e de aviões. Três horas depois, se envolveu em uma discussão, levou um tiro no peito e morreu.
Após perder o pai e a mãe, D.A.M., 15, passou a morar com a irmã. Estava envolvido com drogas e já tinha duas passagens na Febem por roubo. Na noite do último dia 5, estava em casa e foi chamado por um outro garoto na porta. Ao atender, levou cinco tiros.
Os dois casos fazem parte de uma série de sete homicídios que vitimaram adolescentes neste mês em Ribeirão Preto.
Em relação aos 11 homicídios ocorridos até a última sexta-feira, o índice de garotos mortos violentamente é recorde na cidade.
Desde o início de 98, quando a DIG (Delegacia de Investigações Gerais) começou a cadastrar as vítimas de mortes violentas por idade em Ribeirão, nunca o número de jovens mortos em um mês chegou a essa proporção em relação ao total das ocorrências.
De janeiro de 98 a abril deste ano, o maior índice de assassinatos entre adolescentes em Ribeirão havia sido verificado em setembro passado, quando, das 19 mortes violentas registradas, sete foram de menores de idade (36,8%).
O aumento da violência contra os jovens está ligado à própria configuração do mapa da criminalidade em Ribeirão. Antes confinada à zona norte, bairros até então tranquilos da zona oeste passaram a liderar o ranking das mortes.
Para a polícia, o alto número de adolescentes mortos reflete a participação dos jovens no tráfico de drogas e na criminalidade.
"Geralmente, eles entram no tráfico para pagar o consumo e acabam participando das guerras de gangues, onde se mata e se morre", disse o delegado Samuel Zanferdini, do setor de homicídios da DIG.
Para o promotor da Infância e da Juventude de Ribeirão Preto, Luiz Henrique Pacini Costa, a explosão de adolescentes mortos tem uma causa mais ampla do que apenas o envolvimento com o narcotráfico.
"A idade dos 15 aos 23 anos é a de maior risco, pois é a faixa etária em que as pessoas costumam ter uma conduta menos medrosa. Ao mesmo tempo, esses números estão ligados ao alto desejo de consumo."
Os pais e amigos dos adolescentes mortos encaram a situação com indignação, tentando encontrar as causas para a violência.
"Meu filho não merecia morrer. Não é só colocar a polícia nas ruas. É uma questão de criação", disse o radialista Roberto Moreira da Silva, 40, pai de F.P.M.S.



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