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ARTIGO
Violência e criminalidade
CARLOS ADELMAR FERREIRA
Além da globalização, a violência e a criminalidade transformaram-se em temas de absoluta atualidade. Hoje, quando se fala em
violência, por exemplo, não mais
se pensa em algo distante, quase
imaginário.
O que, de verdade, aconteceu?
Como tratar dessas questões, sem
desembocar em intelectualismo
estéril?
Será que uma simples mudança
de enfoque do setor público resolveria o "imbróglio", por meio de
política pública de segurança mais
coerente?
A resposta seria afirmativa, se
formulada décadas atrás. Hodiernamente, poucas pessoas restariam concordes, dentro outros
motivos, em razão do minimismo
estatal e, consequentemente, da
perda da capacidade do Estado em
resolver problemas de forma unilateral.
Carentes de profundidade, alguns aferram-se à adoção de duvidosas medidas paliativas.
Dentre elas, poderíamos invocar
a chamada teoria de tolerância zero para a redução da criminalidade, à guisa de pesados investimentos financeiros em todo o sistema
de segurança pública, o que poderia resultar em importantes recuos
na criminalidade.
Todavia, trata-se de operar nos
efeitos, ignorando as reais causas.
Vivemos numa sociedade cujo
grau de complexidade tende a ampliar-se.
Medidas tópicas carecem da indispensável consistência requerida por soluções duradouras.
Ademais, questões complexas
anseiam por providências que
abranjam uma maior diversidade.
Medidas de puro cunho jurídico-policiais não são suficientes
"per si".
Torna-se indispensável o manejo de vasta gama de ações multidisciplinares, que implicaria no
envolvimento de educadores, psicólogos, antropólogos, sociólogos, criminalistas, policiais, políticos e juristas, além de outros profissionais que militam nas ciências
humanas.
Há que se agregar também as
importantes contribuições permitidas pelas ciências exatas. Não se
trata, portanto, de solução simplista.
Sua análise, primeiro de tudo,
enseja considerar que a resolução
da problemática passa pela conscientização da comunidade, que
deve querer e saber enfrentar os
males que lhe afligem e impõem
desafios inquietantes.
A sociedade necessita aglutinar
forças para o controle da violência
e da criminalidade.
Não resolve delegá-lo apenas a
profissionais do ramo. Do contrário, o problema teimosamente
persistirá.
No atual cenário, o cidadão precisa reescrever "O Contrato Social", de Rosseau.
Não basta, por conseguinte, optar pela cômoda atitude de delegar
direitos e deveres do Estado.
A violência e a criminalidade estão entranhadas no tecido social e
o seu adequado tratamento exige,
em princípio, uma efetiva mudança de atitude.
Mudança traduzida no abandono da passividade em prol de uma
atitude proativa.
A segurança pública não pode
permanecer apartada do modo de
vida da sociedade moderna.
As pessoas precisam cultivar
práticas saudáveis de convivência
coletiva em detrimento do usufruto egoístico de prazeres individuais, que vêm marcando o presente modo de ser.
Aliás, estudos indicam que a criminalidade dispõe de campo fértil
numa comunidade de baixa integração.
Com efeito, torna-se indispensável buscar-se revitalizar as formas
e organismos sociais da participação, valorizando os benefícios da
vida em comum.
As nações avançadas caracterizam-se por elevada participação
voluntária, pilastras de regimes
democráticos e livres. Nelas, o capital social (potencial humano)
faz a diferença...
Carlos Adelmar Ferreira, 48, é coronel da Polícia Militar de Ribeirão Preto e comandante do
policiamento de área dos municípios da região
de Ribeirão
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