Ribeirão Preto, Domingo, 23 de agosto de 1998

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Festa do Peão transmite montarias em telão de última geração e instala até câmeras para 'vigiar' carros
Barretos inaugura o rodeio 'exportação'

do enviado especial

Os peões que deram origem ao rodeio, domando cavalos nas fazendas no século passado, dificilmente se adaptariam à Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, devido às inovações tecnológicas.
Em 43 anos de existência, a Festa do Peão ganhou status de megaevento e hoje atrai mais de 1 milhão de visitantes todos os anos.
A disputa entre caubóis, agora, pela primeira vez em Barretos, será projetada em um telão de 4,5 metros por 6 metros, que foi lançado no mercado japonês há 70 dias.
Os bilhetes de entrada, que até o ano passado eram feitos de papel, viraram cartões magnéticos, que são "engolidos" em catracas eletrônicas, iguais às do sistema do metrô de São Paulo.
No estacionamento, entre animais do rodeio e barracas de churrasco, câmeras fotografam os veículos automaticamente para controlar sua entrada e saída.
Segundo Flávio Silva Filho, presidente do clube Os Independentes, que organiza o evento, a automação reduziu custos com o pessoal que trabalha no evento.
Este ano, pela primeira vez também, os caubóis vão para as telas dos computadores por meio da Internet, a rede mundial de computadores. Imagens geradas no Parque do Peão de Barretos pela produtora Soares serão transmitidas para a rede.
De acordo com a provedora MD Brasil, que gerencia o site do clube Os Independentes, serão pelo menos quatro horas de transmissão diária nos dez dias da festa.
Os competidores do rodeio moderno disputam R$ 300 mil em dinheiro entre os melhores nas montarias, além de nove camionetes zero quilômetro.
Grande parte dos peões que se apresentam hoje em Barretos sobrevive das competições.
No Brasil, segundo a Federação Nacional do Rodeio, são cerca de 1.200 eventos do gênero anualmente.
O idioma fora da arena não é mais universal. Competem em Barretos peões americanos, canadenses e australianos. "Fui contratado como intérprete dos caubóis para a festa deste ano", disse Nonato de Oliveira, professor de inglês em Barretos.
Acompanhando a tendência de usar cada vez mais celulares, a Telesp (Telecomunicações de São Paulo) aumentou a capacidade de funcionamento simultâneo de aparelhos dentro do parque.
Na versão 98 da festa, podem falar ao mesmo tempo 8.800 pessoas, segundo a Telesp, o que equivale a quatro vezes mais que a capacidade da cidade de Barretos.

Tradição
"A primeira festa, em 56, teve como finalidade homenagear os peões de boiadeiro que trabalhavam na região", disse José Sebastião Domingues, 68, um dos fundadores do clube Os Independentes e da festa do peão.
Nessa época, segundo ele, o gado vinha de várias regiões do Estado e de Minas Gerais para um frigorífico de Barretos.
"O peão tocava o gado a cavalo durante dias", afirmou. De tradicional, a festa manteve o desfile das comitivas na abertura do rodeio, que acontece amanhã, e a competição entre os caubóis.
Durante a programação de shows, entre catira (dança típica) e canções sertanejas, há samba e rock. A "queima do alho" é outro resquício da festa originária.
Longe dos cavalos, os peões disputam no forno à lenha quem faz o melhor prato, com carne seca, arroz e feijão. Na época dos tropeiros, essa era a refeição típica dos peões.

(ALESSANDRO SILVA)


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