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Ribeirão tem "pioneiros" do Bolsa Família
Em seis anos, número de beneficiários saltou de 516 para 11.832, mas há dependentes de subsídios há 18 anos
Antigas contempladas têm em comum a falta de emprego formal, a baixa escolaridade e muitos filhos em casa
Edson Silva/Folhapress
![](../images/r2410201001.jpg) |
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Ana Cláudia Marques (no meio) com a filha caçula Josimara e a mais velha Alcimara, que também recebe o subsídio
JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO
No início de 2004, quando
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) completava um
ano de seu primeiro mandato, o Bolsa Família atingia
516 lares de Ribeirão Preto.
Hoje, as vésperas do segundo
turno, quando Lula tenta eleger sua sucessora, 11.832 famílias recebem o benefício.
Novas famílias são incluídas ano a ano em Ribeirão e
outras saem do programa.
Mas há casos de pessoas que
recebem o Bolsa Família na
cidade desde o início do programa, em janeiro de 2004.
É o caso de Ana Cláudia
Marques, 54, Alba Valéria de
Oliveira Silva, 43, Ana Cláudia de Paula, 36, e Aline Cristina de Castro, 32.
Não é raro que os "pioneiros" do Bolsa Família estejam ligados a subsídios anteriores, como o Bolsa Escola.
Em alguns casos, a dependência já dura 18 anos.
Tanto a prefeitura quanto
o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome) dizem não saber
quantos estão inclusos desde
o início do programa.
Para entender o perfil dos
pioneiros, a Folha visitou as
quatro mulheres citadas acima. Em comum, os relatos
mostram que elas têm muitos
filhos, pouca escolaridade e
não têm emprego com carteira assinada.
A diarista Ana Cláudia,
que mora no Jardim Salgado
Filho 1, recebeu o primeiro
subsídio, o Renda Mínima,
um ano antes do nascimento
de Josimara, 17, a caçula de
seus sete filhos.
Depois, veio o Bolsa Escola
e então o Bolsa Família. Os
R$ 123 que hoje recebe ficam
com a caçula. Mas o Bolsa Família já se estende por duas
gerações: Alcimara, a filha
mais velha, recebe R$ 22.
A faxineira Alba passou a
receber o Bolsa Escola em
1998. Migrou para o Bolsa Família e hoje ganha R$ 75.
O recurso, conta ela, sempre foi usado com "a meninada" -tem três filhos. "É para
eles mesmo, para algum calçado, a mochila da escola ou
um chocolate."
O barraco frágil de Aline,
em uma das favelas do Jardim Aeroporto, denuncia a
carência da família. O marido
tira cerca de R$ 200 por mês
juntando papelão.
O benefício de R$ 134 ajuda a comprar alimento para o
casal e os sete filhos. "O dinheiro já sai do banco direto
pro mercado."
À primeira vista, a situação da outra Ana Cláudia parece destoar das demais. Ela
mora, com o marido e três
dos cinco filhos, em uma boa
casa, com carro na garagem.
O imóvel tem piso de cerâmica. Na sala, há TV e uma bela
mesa de jantar. Mas o "luxo"
foi comprado graças a uma
indenização que o marido
ganhou da antiga empresa.
Com o marido desempregado, a família depende do
salário mínimo que Ana ganha como doméstica.
Desde fevereiro, ela trabalha com registro em carteira
-mas a contragosto. "Eu pedi a minha patroa que não
me registrasse, porque tinha
medo de perder o Bolsa, mas
ela insistiu."
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