Ribeirão Preto, Domingo, 24 de Outubro de 2010

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Ribeirão tem "pioneiros" do Bolsa Família

Em seis anos, número de beneficiários saltou de 516 para 11.832, mas há dependentes de subsídios há 18 anos

Antigas contempladas têm em comum a falta de emprego formal, a baixa escolaridade e muitos filhos em casa

Edson Silva/Folhapress
Ana Cláudia Marques (no meio) com a filha caçula Josimara e a mais velha Alcimara, que também recebe o subsídio

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

No início de 2004, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) completava um ano de seu primeiro mandato, o Bolsa Família atingia 516 lares de Ribeirão Preto. Hoje, as vésperas do segundo turno, quando Lula tenta eleger sua sucessora, 11.832 famílias recebem o benefício.
Novas famílias são incluídas ano a ano em Ribeirão e outras saem do programa. Mas há casos de pessoas que recebem o Bolsa Família na cidade desde o início do programa, em janeiro de 2004.
É o caso de Ana Cláudia Marques, 54, Alba Valéria de Oliveira Silva, 43, Ana Cláudia de Paula, 36, e Aline Cristina de Castro, 32.
Não é raro que os "pioneiros" do Bolsa Família estejam ligados a subsídios anteriores, como o Bolsa Escola. Em alguns casos, a dependência já dura 18 anos.
Tanto a prefeitura quanto o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) dizem não saber quantos estão inclusos desde o início do programa.
Para entender o perfil dos pioneiros, a Folha visitou as quatro mulheres citadas acima. Em comum, os relatos mostram que elas têm muitos filhos, pouca escolaridade e não têm emprego com carteira assinada.
A diarista Ana Cláudia, que mora no Jardim Salgado Filho 1, recebeu o primeiro subsídio, o Renda Mínima, um ano antes do nascimento de Josimara, 17, a caçula de seus sete filhos.
Depois, veio o Bolsa Escola e então o Bolsa Família. Os R$ 123 que hoje recebe ficam com a caçula. Mas o Bolsa Família já se estende por duas gerações: Alcimara, a filha mais velha, recebe R$ 22.
A faxineira Alba passou a receber o Bolsa Escola em 1998. Migrou para o Bolsa Família e hoje ganha R$ 75.
O recurso, conta ela, sempre foi usado com "a meninada" -tem três filhos. "É para eles mesmo, para algum calçado, a mochila da escola ou um chocolate."
O barraco frágil de Aline, em uma das favelas do Jardim Aeroporto, denuncia a carência da família. O marido tira cerca de R$ 200 por mês juntando papelão.
O benefício de R$ 134 ajuda a comprar alimento para o casal e os sete filhos. "O dinheiro já sai do banco direto pro mercado."
À primeira vista, a situação da outra Ana Cláudia parece destoar das demais. Ela mora, com o marido e três dos cinco filhos, em uma boa casa, com carro na garagem. O imóvel tem piso de cerâmica. Na sala, há TV e uma bela mesa de jantar. Mas o "luxo" foi comprado graças a uma indenização que o marido ganhou da antiga empresa.
Com o marido desempregado, a família depende do salário mínimo que Ana ganha como doméstica.
Desde fevereiro, ela trabalha com registro em carteira -mas a contragosto. "Eu pedi a minha patroa que não me registrasse, porque tinha medo de perder o Bolsa, mas ela insistiu."


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