Ribeirão Preto, Domingo, 24 de Outubro de 2010

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MINHA HISTÓRIA LUCIANA PRINCIPESSA DE OLIVEIRA

Meu ex matou minha filha

Em 21 de setembro de 2007, eu me lembro o dia direitinho, conheci o monstro José Fábio de Almeida. Dias depois de matar minha filha, ele passou a me ligar e me disse que, se a minha dor fosse muito grande, eu poderia escolher um dos três filhos dele que ele o mataria para me compensar...

RESUMO
A manicure Luciana Principessa de Oliveira, 39, perdeu a filha Samira Helena de Oliveira Duarte Ortigoso, 24, de uma forma trágica. A jovem foi assassinada, com uma facada no pescoço, pelo terceiro marido da mãe em 19 de setembro, quando voltava de bicicleta de um estágio. Samira chegou a pedalar alguns metros antes de cair.

(...) Depoimento a
LUIZA PELLICANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE RIBEIRÃO PRETO

Quando conheci o pai da Samira, eu era muito nova. Eu tinha 15 anos e o Nelson, 21. Fomos muito felizes. Três meses depois, descobri que estava grávida do meu anjo, Samira. Um ano e dois meses depois engravidei de novo do José Ricardo. Foram tempos tranquilos, apesar dos ciúmes do Nelson.
Nos separamos quando o José Ricardo tinha três anos e meio. Éramos muito diferentes. Acertamos que ele ficaria com a guarda dos nosso filhos porque tinha mais estrutura financeira.
Um ano depois eu conheci o grande amor da minha vida, o Fauze André Ruiz. Eu tinha 22 anos e ele, 19. Nós tivemos duas filhas, a Kelsilene e a Francilene.
Seis meses depois do nascimento da Fran, começamos a brigar. Eu queria trabalhar e ele não queria. Decidi me separar, vendi a casa e mandei as minhas duas meninas para a casa dos tios dele, José e Maria Ruiz.
Em 1996, quase morri ao ser atropelada por um caminhão. Foram dois anos difíceis, me recuperando e depois fazendo fisioterapia. Tive que reaprender a andar, a comer e a trabalhar e a Samira me ajudou muito.
Em 1998, voltei a namorar o André. Em 3 de outubro daquele ano, ele, que era mototaxista, foi assassinado por dois homens que roubaram a moto dele.
Fiquei, então, um bom tempo sozinha.
Em 21 de setembro de 2007, eu me lembro o dia direitinho, conheci o monstro José Fábio de Almeida. Seis meses depois, nos casamos, na igreja e no civil. Foi um casamento conturbado. Ele começou a brigar comigo por ciúmes do Nelson.
Fui agredida duas vezes, fiz boletim, mas voltei com ele por medo das ameaças. Nossa última briga foi dois dias antes do assassinato. Novamente por ciúmes.
Contei a Samira que estava sendo ameaçada e que tinha medo por meus filhos também, mas ela me disse para ficar tranquila. Foi a última vez que a vi.
Quando a polícia me avisou, fui ao pronto-socorro central. Queria ver o corpo dela, mas ninguém deixou. Acho que tinha umas duas mil pessoas no velório, o pessoal da faculdade, meus filhos. Quando vi o Nelson e a mulher abraçados, chorando juntos, pensei o que seria da minha vida se eu não tivesse me separado dele. Minha filha estaria viva...
Dias depois, o monstro começou a me ligar de um orelhão. Em uma das ligações, me pediu para vender a moto e ir encontrá-lo em Alagoas. Disse que, se a minha dor fosse muito grande, eu poderia escolher um dos três filhos dele que ele o mataria para me compensar...
Quando fez um mês da morte da Samira, o delegado Leandro Árabe me avisou que o monstro tinha sido preso. Entrei com o pedido de divórcio e espero que ele apodreça na prisão.
Não sei mais qual será o meu futuro. Estou em pedaços e acho que vou ficar assim até a minha morte. Só penso em ir para o céu e ficar junto do meu anjinho.


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