Ribeirão Preto, Terça-feira, 25 de Outubro de 2011

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Doutor Móvel nasce questionado e com atraso de quase três anos

Na posse, prefeita de Ribeirão prometeu programa, inaugurado ontem, para fevereiro de 2009

Especialistas dizem que ônibus oferece solução paliativa; programa não descarta necessidade de construir novos postos

Márcia Ribeiro/Folhapress
Lançamento do Doutor Móvel, ontem de manhã, na Fazenda da Barra, em Ribeirão Preto

ANA SOUSA
DE RIBEIRÃO PRETO

Após dois anos e sete meses de atraso, o Doutor Móvel, promessa de campanha da prefeita Dárcy Vera (PSD), foi inaugurado no assentamento da fazenda da Barra, em Ribeirão Preto.
Durante a entrega do consultório móvel ontem, a prefeita afirmou que o projeto não foi viabilizado em fevereiro de 2009 -conforme ela havia prometido na posse- porque não havia uma estrutura adequada para atender a população do município. "O ônibus não existia no Brasil. Não dá para licitar uma coisa que não existe", disse Dárcy. Questionado por representantes do Conselho da Saúde de Ribeirão, o Doutor Móvel foi considerado uma solução paliativa por especialistas ouvidos pela Folha.
Para o médico da USP (Universidade de São Paulo) Juan Stuardo Yazlle Rocha, especialista em planejamento em saúde, postos de saúde móveis são indicados para populações dispersas em grandes áreas geográficas, como na Amazônia.
"[O Doutor Móvel] Parece mais o cumprimento de uma campanha que talvez não foi muito elaborada", disse. Ele considera a equipe fixa do posto de saúde ambulante da cidade -um médico, uma enfermeira e uma escriturária- "acanhada". "A maioria dos programas é baseada em equipes permanentes polivalentes. Não é o médico sozinho com uma enfermeira. Uma equipe de saúde da família é mais completa", afirmou Rocha.
O presidente do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo) de Ribeirão Preto, Ulysses Strogoff de Matos, disse que o posto de saúde itinerante não descarta a necessidade da construção de novos unidades de saúde onde o acesso é difícil.

SONHO
Mas para a prefeita Dárcy Vera, o Doutor Móvel é o "projeto dos sonhos". "É essencial porque um posto de saúde não consegue vir aqui". De acordo com o secretário da Saúde, Stenio Miranda, a rede municipal tem cerca de 40 unidades que atendem um milhão de pessoas ao ano, mas existem áreas descobertas que serão atendidas pelo programa de saúde.
Apesar do discurso favorável ao projeto, prefeita e secretário divergem sobre o custo do projeto. Miranda disse que a Saúde deve desembolsar cerca de R$ 20 mil para pagar a mão de obra, que foi remanejada de outros postos de saúde. Como o ônibus e a adaptação do posto foram doados pela iniciativa privada, Dárcy diz que o custo será apenas o do combustível.
A ideia é que o posto de saúde permaneça uma semana em cada ponto de parada -após uma semana no assentamento, ele deve ir para o Jardim Itaú e para o conjunto Paulo Gomes Romeo. O posto móvel deve fazer exames de HIV, papanicolau, hipertensão, entre outros. Para o líder do assentamento, Vitor Donizeti Ribeiro, a iniciativa é positiva, mas não substitui o posto.
"Quem mora nos lotes do fundo está a 10 quilômetros do posto mais próximo, que fica no Ribeirão Verde", diz. Mãe de um bebê de quatro meses, Regiane Silva, 26, comemorou a chegada do ônibus. "É bom que a gente tenha algum privilégio."


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