Ribeirão Preto, Domingo, 26 de Setembro de 2010

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Lá vem o palhaço Biriba

Palhaço de 82 anos, que mora em Ribeirão Preto, só fecha a cara quando assunto é política

Silva Junior/Folhapress
Carlos Antônio Spindola, o Biriba, na casa de seu filho, em Ribeirão

ARARIPE CASTILHO
DE RIBEIRÃO PRETO

Por uma diferença de 180 cruzeiros no salário, Carlos Antônio Spindola escolheu ser artista de circo em vez de aceitar uma vaga de torneiro mecânico na Romi, empresa que fabricou o primeiro carro brasileiro, a Romi-Isetta.
Era 1947. Spindola tinha 18 anos e vivia em Santa Barbara d'Oeste. Hoje, aos 82, é mais conhecido como Biriba, o palhaço que fez sucesso em Ribeirão Preto e no restante do interior do Estado por quase meio século.
Considerado o mais antigo comediante circense do Brasil em atividade, Biriba mantém apurados bom humor e "tempo cômico". Traduzindo: ainda conta piada como ninguém (narrada por ele, a do homem que foge do "bicho cabeludo" é riso certo).
Há, porém, um assunto em evidência neste ano para o qual Biriba fecha a cara. É a política. Se for convidado a se apresentar em Brasília, diz que não vai nem que seja para receber homenagem.
O motivo da bronca é a lei que proíbe a apresentação de animais nos picadeiros. "Foi muito ruim para os circos." E o que dizer, então, do Tiririca e outros palhaços (profissionais) disputando a eleição?
"Sou contra. Acho que não se deve misturar as coisas. Não é porque ele [Tiririca] é comediante, mas é que não vejo nele preparo para representar o povo", afirma.
Biriba fala do assunto até com certa familiaridade. No final dos anos 90, o palhaço foi candidato a vereador.
Bom para o personagem Biriba que o Spindola não se elegeu. Não teria graça trocasse o nariz vermelho, a calça larga, o paletó e o chapéu desengonçados pelo traje engomado de político.

PELANCA
Biriba não nasceu para o circo vestido de palhaço. A brincadeira começou no rádio, em São Paulo, onde ele foi estudar após o primário.
Aos 14 anos, em 1944, ele conheceu Cassiano Gabus Mendes, que mais tarde se tornaria radialista e um dos pioneiros da televisão no Brasil. O pai do colega tinha programa na rádio Tupi.
O futuro palhaço entrou no ar pela primeira vez para fazer uma "declaração de amor". "O show da Chica Pelanca era um sucesso. Era uma caipira e quem fizesse a melhor declaração em tom de farra ganhava um pacote de cigarro. Eu ganhei."
A aventura na capital não durou muito. Sua mãe, que morava em Santa Barbara d'Oeste, escreveu para a avó de Biriba perguntando se o filho ia bem nos estudos.
"Nos estudos não sei, mas ele anda querendo ser artista de rádio", foi a resposta da avó. "Minha mãe foi logo me buscar e disse que, se eu não queria estudar, ia ter que ajudar em casa."

GALÃ
Não adiantou forçar. Em 47, o Circo Teatro Irmãos Fernandes passou por Santa Barbara d'Oeste e levou Spindola de casa.
Resultado 1: Biriba teve de escolher entre o palco e a oficina. "Meu pai tinha me arrumado um emprego de torneiro mecânico para ganhar 420 cruzeiros na Romi. O circo me ofereceu 600."
Resultado 2: "Meu pai ficou quase 11 anos sem falar comigo e não deixou ninguém da família ir ao meu casamento", recorda o galã que se casou Carmelita, a sobrinha do dono do circo.

O APELIDO
No começo de sua vida no circo-teatro, Spindola não era palhaço, era ator. Mas quando montou o próprio circo, em 1955, teve de procurar um palhaço. "Palhaço bom era muito caro. Era o artista com maior salário."
Ele decidiu, então, fazer as vezes de principal atração. Faltava escolher um nome e essa foi a grande sacada. Uma editora estava lançando uma revista em quadrinhos com o nome Biriba.
Na década de 50, os donos de banca pintavam os muros das cidades anunciando os novos lançamentos.
"Escreviam "Lá vem Biriba" ou "Não percam, Biriba", mas muita gente não sabia o que era. Eu copiei o nome da revista e, quando chegava nas cidades com o circo, a propaganda já estava feita."
Biriba brinca que, de alguma forma, continua no ramo circense porque é dono de uma fábrica de lonas em Brodowski. O antigo Circo do Biriba acabou na década de 90.


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