Ribeirão Preto, Domingo, 27 de Dezembro de 2009

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Artesãos de Ribeirão sofrem com a falta de profissionalismo

Maioria dos 500 cadastrados na Secretaria da Cultura não tem produção regular e não sabe qual item vai vender mais

Para criar produtos com DNA regional e capacitar os artistas, Secretaria da Cultura está implantando na cidade Projeto Nômade


DA FOLHA RIBEIRÃO

As mãos que têm habilidade de produzir peças de madeira, colares e produtos de tecido não possuem a mesma destreza para escolher produtos que sejam fáceis de vender e gerem renda. Os chamados artesãos em Ribeirão Preto carecem de organização e profissionalismo para que atividade deixe de ser apenas um hobby.
Estão cadastrados 500 artesãos em Ribeirão, mas, em muitos casos, o registro é velho, e a pessoa mantém contato esporádico com a prefeitura.
Um dos principais diagnósticos da Secretaria da Cultura é o de que faltam instrumentos ao artesão para vender seus produtos. Além disso, a cidade precisa formar um mercado consumidor dessa arte.
"Queremos criar uma alternativa econômica. Muitos nem sabem se é melhor produzir um bandeja ou um abajur. Não sabe qual vende mais", disse a secretária Adriana Silva.
Os dois grupos mais organizados atuam nas principais praças da cidade -Bandeiras e Sete de Setembro. O Arte Vida, que reúne 200 associados e trabalha, principalmente, Sete de Setembro aos domingos, acaba de ganhar sede própria.
O grupo também participa da feira de artesanato realizada na época de Natal, no Palace Hotel, no centro. Os artesãos comemoram o espaço conquistado para expor os produtos, mas ainda relatam dificuldades.
Artesã de produtos de biscuit há um ano, Rita de Cássia Justino de Lima, 30, disse ter muita dificuldade para vender seus produtos. "Eu sou boa em produzir, mas não sei negociar. O biscuit é um material caro, mas o preço final tem que ser bem barato ou não vende."
Rosalva Arantes Lopes de Oliveira, 66, produz bordados em tecido -alguns dos desenhos trazem símbolos da cidade, como o Theatro Pedro 2º. Na sua visão, uma das principais dificuldades é que o verdadeiro artesão acaba por competir na cidade com produtos mais baratos. "A pessoa vai na 25 de Março [rua popular em São Paulo], compra coisa pronta e diz que é artesanato. É uma concorrência desleal."
Benedita Delfina da Silva, que há 15 anos trabalha com tear mineiro, diz que faltam espaços para expor o artesanato na cidade. "Vendo muita coisa na rua. Antes tínhamos mais opções, como o Fórum."
Além do Arte Vida, se destacam na cidade os artesãos da praça das Bandeiras, que, atualmente, vive um racha. Alguns se consideram artesãos genuínos e querem a saída dos que vendem produtos comerciais.

Identidade
No Estado, 68 mil pessoas possuem a carteira de artesãos emitida pela Sutaco (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades), órgão criado há 30 anos.
Além de ser responsável por aplicar a prova e certificar que a pessoa sabe produzir sua arte, a Sutaco incentiva o artesanato regional ao comprar produtos e revendê-los na loja, no centro de São Paulo, e nas principais feiras do gênero no país.
A região, infelizmente, está fora desse circuito. O superintendente da Sutaco, Valmir Madazio, disse não se lembrar de ter comprado produtos de artesãos da região.
Uma das lacunas é a falta de um produto artesanal com identidade local, que use matéria-prima da terra, a exemplo do artesanato do Vale do Ribeira, que usa o bananal como matéria-prima.
Para criar produtos com DNA regional e capacitar o artesanato, está sendo implantado em Ribeirão o Projeto Nômade. A ideia é usar matéria-prima da cana e do café para produzir peças locais.


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