Ribeirão Preto, Domingo, 27 de Dezembro de 2009

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Velhice não é sinônimo de degradação física, diz USP

Pesquisadora Maria da Graça diz que processo de envelhecimento é particular

Ex-pasteleiro de 82 anos afirma que a descoberta da dança mudou sua vida; idoso começou a fazer academia após os 50 anos


DOUGLAS SANTOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

A velhice é vista como sinônimo de degradação física e psicológica em várias sociedades. Entretanto, esses conceitos são injustos, pois velhice não significa decadência, salvo situações em que o corpo sofre com limitações causadas por doenças. A afirmação é da pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto Maria da Graça da Silva, especialista no estudo do envelhecimento,
Roque, Helena, Marlene, Eleno, Aparecida e Roberto -que o leitor vai conhecer nesse texto- são alguns poucos exemplos de que é possível mudar de vida e ter uma velhice saudável e proveitosa. Todos foram encontrados em um baile exclusivo para maiores de 60 anos, no bairro Campos Elíseos, em Ribeirão.
Segundo Silva, a velhice é uma vivência tão pessoal que só pode ser expressada por quem chega lá. "Alguns pontos podem ser comuns, como os problemas de saúde, mas o processo em si é particular", disse.
O ex-pasteleiro Roque Orestes, 82, garante que antes de descobrir a dança sua vida era muito mais desanimada. "Vou a três bailes por semana. Se eu não danço um dia fico doente, me sinto mal, desmotivado. Dançar me motiva", disse.
Orestes está sempre acompanhado pela mulher, Helena dos Santos Orestes, 78. Ambos começaram a sentir os efeitos da velhice quando estavam perto de completar 40 anos. "Eu comecei a sentir um pouco de dores nas pernas, um certo incômodo", disse Helena.
Foi preciso, segundo Orestes, uma mudança na vida para garantir um envelhecimento mais saudável. "Ninguém escapa de ficar velho. Eu queria ser velho assim, bem e dançando", disse aos risos.
Apressado para terminar a entrevista -concedida em um baile da cidade-, Orestes resumiu:. "Olha, para envelhecer bem o importante é estar bem com a mulher, com a sua companheira, comer bem, não beber muito e não fumar. No meu caso a dança foi fundamental, danço direto há 12 anos e só me fez bem". E voltou rapidinho para a pista de dança.
Outro casal de dançarinos é formado por Eleno Mathias da Silva, 70, e Aparecida Soares de Lima Andrade, 62. A dupla foi formada há 44 anos. "Nosso exercício são os bailes, que frequentamos desde a época do namoro", disse Eleno. Aparecida corrige o marido dizendo que eles fazem muitas caminhadas também.
De acordo com a amiga Mercedes Batista Pereira, 71, a dupla é uma das mais animadas do salão. "Eles dançam pelo salão inteiro, mexem com todo mundo, são bem animados", disse.
Ostentando braços com medidas de dar inveja a muitos jovens que suam em academias, Roberto Pereira, 67, se concentra no jogo de buraco. Ele afirma que, quando era jovem, tinha um corpo bem mais frágil. "Apesar de trabalhar em serviço pesado, sentia meu corpo mais fraco do que hoje."
Pereira começou a fazer academia somente após os 50 anos. O objetivo dele era viver mais tempo. "Eu gosto de viver sempre sorrindo, namorando porque ninguém gosta de ficar sozinho", disse.
Graça da Silva concluiu em seu trabalho que a vontade de viver ajuda muito a manter a saúde e facilita a convivência familiar e social. "Não é porque a pessoa está velha, que ela deixou de viver. A disposição para continuar vivendo e aprendendo é o principal combustível para a velhice", afirmou.


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