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Velhice não é sinônimo de degradação física, diz USP
Pesquisadora Maria da Graça diz que processo de envelhecimento é particular
Ex-pasteleiro de 82 anos afirma que a descoberta da dança mudou sua vida; idoso começou a fazer academia após os 50 anos
DOUGLAS SANTOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO
A velhice é vista como sinônimo de degradação física e psicológica em várias sociedades.
Entretanto, esses conceitos são
injustos, pois velhice não significa decadência, salvo situações
em que o corpo sofre com limitações causadas por doenças. A
afirmação é da pesquisadora da
USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto Maria da
Graça da Silva, especialista no
estudo do envelhecimento,
Roque, Helena, Marlene,
Eleno, Aparecida e Roberto
-que o leitor vai conhecer nesse texto- são alguns poucos
exemplos de que é possível mudar de vida e ter uma velhice
saudável e proveitosa. Todos
foram encontrados em um baile exclusivo para maiores de 60
anos, no bairro Campos Elíseos, em Ribeirão.
Segundo Silva, a velhice é
uma vivência tão pessoal que só
pode ser expressada por quem
chega lá. "Alguns pontos podem ser comuns, como os problemas de saúde, mas o processo em si é particular", disse.
O ex-pasteleiro Roque Orestes, 82, garante que antes de
descobrir a dança sua vida era
muito mais desanimada. "Vou a
três bailes por semana. Se eu
não danço um dia fico doente,
me sinto mal, desmotivado.
Dançar me motiva", disse.
Orestes está sempre acompanhado pela mulher, Helena
dos Santos Orestes, 78. Ambos
começaram a sentir os efeitos
da velhice quando estavam perto de completar 40 anos. "Eu
comecei a sentir um pouco de
dores nas pernas, um certo incômodo", disse Helena.
Foi preciso, segundo Orestes,
uma mudança na vida para garantir um envelhecimento
mais saudável. "Ninguém escapa de ficar velho. Eu queria ser
velho assim, bem e dançando",
disse aos risos.
Apressado para terminar a
entrevista -concedida em um
baile da cidade-, Orestes resumiu:. "Olha, para envelhecer
bem o importante é estar bem
com a mulher, com a sua companheira, comer bem, não beber muito e não fumar. No meu
caso a dança foi fundamental,
danço direto há 12 anos e só me
fez bem". E voltou rapidinho
para a pista de dança.
Outro casal de dançarinos é
formado por Eleno Mathias da
Silva, 70, e Aparecida Soares de
Lima Andrade, 62. A dupla foi
formada há 44 anos. "Nosso
exercício são os bailes, que frequentamos desde a época do
namoro", disse Eleno. Aparecida corrige o marido dizendo
que eles fazem muitas caminhadas também.
De acordo com a amiga Mercedes Batista Pereira, 71, a dupla é uma das mais animadas do
salão. "Eles dançam pelo salão
inteiro, mexem com todo mundo, são bem animados", disse.
Ostentando braços com medidas de dar inveja a muitos jovens que suam em academias,
Roberto Pereira, 67, se concentra no jogo de buraco. Ele afirma que, quando era jovem, tinha um corpo bem mais frágil.
"Apesar de trabalhar em serviço pesado, sentia meu corpo
mais fraco do que hoje."
Pereira começou a fazer academia somente após os 50
anos. O objetivo dele era viver
mais tempo. "Eu gosto de viver
sempre sorrindo, namorando
porque ninguém gosta de ficar
sozinho", disse.
Graça da Silva concluiu em
seu trabalho que a vontade de
viver ajuda muito a manter a
saúde e facilita a convivência
familiar e social. "Não é porque
a pessoa está velha, que ela deixou de viver. A disposição para
continuar vivendo e aprendendo é o principal combustível
para a velhice", afirmou.
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