Ribeirão Preto, Sábado, 28 de Março de 2009

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Endividada, Nilza pede recuperação judicial

Empresa alegou sofrer "grave crise financeira" e diz que entrou com pedido após várias tentativas de renegociar sua dívida

Indústria de Ribeirão começou ontem à tarde a dispensar parte dos mil empregados diretos; outros 10 mil são indiretos


Joel Silva - 26.out.07/Folha Imagem
Funcionário trabalha na linha de produção da indústria de laticínios Nilza, em Ribeirão Preto

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

A indústria de Alimentos Nilza S/A, sediada em Ribeirão Preto, entrou ontem com pedido de recuperação judicial. A fábrica de laticínios, que emprega mil pessoas diretamente, já começou a demitir parte dos funcionários ontem à tarde. A direção da Nilza, no entanto, não divulgou o total de demitidos nem o valor da dívida.
O processo de recuperação foi protocolado ontem na 4ª Vara Cível de Ribeirão Preto.
Em nota, a empresa, presidida por Adhemar de Barros Neto, disse que está "sofrendo os efeitos da grave crise financeira mundial" e que não obteve sucesso em várias tentativas de renegociação com instituições financeiras credoras.
A Nilza afirmou, ainda que o processo de recuperação judicial permitirá à empresa manter sua matriz e o emprego dos trabalhadores.
Responsável por 15% da produção de leite do Estado, o laticínio emprega, além dos mil funcionários diretos, dez mil indiretos, além de 17 distribuidores, 50 vendedores e 30 representantes comerciais.
No ano passado, a Nilza chegou a atingir um pico de produção diária de 1 milhão de litros.
Produtores de leite da microrregião de Ribeirão, Franca e de cidades do sul de Minas Gerais reclamaram ontem que estão há quase três meses sem receber o pagamento da produção pela indústria.
Wanderley Cintra Ferreira, 62, de Ribeirão Corrente, por exemplo, disse que a Nilza lhe deve, desde janeiro, R$ 9.000. Ele conta que também não recebeu 30% do que forneceu no mês de novembro.
"Estou surpreso com essa notícia de renegociação. Cheguei a falar com eles dias atrás e a empresa disse que me pagaria na próxima semana", disse.
Em Patrocínio Paulista, pelo menos dez produtores de leite também aguardam pagamentos da Nilza, segundo o presidente do Sindicato Rural da cidade, Irineu Andrade Monteiro. O mesmo ocorre com produtores das cidades de Brodowski, Franca e Ibiraci (MG).
A Folha apurou junto a produtores do setor que a crise na Nilza começou em meados do ano passado, quando a empresa comprou o laticínio Milênio, em Itamonte (MG), que estava em negociação para ser adquirido pela Parmalat.
A Nilza foi atingida, então, por uma forte diminuição do consumo de leite em todo o país no segundo semestre. Enquanto a produção brasileira cresceu a um forte ritmo de 14% no primeiro semestre, no segundo, caiu até 30%.
Ainda segundo a apuração da Folha, diante da queda no consumo, o presidente da Nilza começou, em agosto de 2008, a atrasar o pagamento ou a nem quitar o leite adquirido dos produtores. O empresário tentou, sem sucesso, uma linha de empréstimo junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).


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