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"Vietnã não soube o que fazer com a paz"
Para o jornalista José Hamilton Ribeiro, situação do correspondente de guerra piorou com tecnologia
DA FOLHA RIBEIRÃO
Único correspondente brasileiro na Guerra do Vietnã, o jornalista José Hamilton Ribeiro,
73, participa hoje do Salão de
Ideias, às 13h, no último dia da
9ª Feira do Livro de Ribeirão
Preto. A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha.
(JC)
FOLHA - O sr. voltou ao Vietnã em
1995. Que Vietnã encontrou?
ZÉ HAMILTON RIBEIRO - Na primeira viagem, da guerra, o Vietnã
era um lugar onde havia mais
esperança, idealismo de criar
uma sociedade mais igualitária.
Mas quando chego em 1995, já
com o Vietnã em paz, encontro
um país de escravos. O Vietnã
ganhou a guerra e não soube o
que fazer com a paz. Transformou-se em um país dirigido
por comunistas de camisola,
um país miserável. Mas, gostaria de voltar, a passeio.
FOLHA - Como está hoje a cobertura de guerras do Oriente Médio?
RIBEIRO - Piorou a situação do
correspondente de guerra. As
guerras do Iraque, Afeganistão
e Paquistão são guerras dos
americanos. A tecnologia da
guerra mudou tanto que o repórter tem pouca possibilidade
de acompanhar a operação.
FOLHA - Por quê?
RIBEIRO - Ele não pode ir in loco, depende de uma informação do Exército. Os americanos
não deixam. Aprenderam com
a Guerra do Vietnã que, se der
muita liberdade à imprensa, isso faz um estrago danado político. Também é muito perigoso
obter informações dos insurgentes, do Talebã. Do lado americano, o repórter precisa se
credenciar, e as regras são bem
estritas. O fato mais importante da Guerra do Iraque foi a
captura do Saddam. O homem
poderoso foi encontrado em
um buraco, barbudo, com comida podre. Aquela imagem rodou o mundo e não tinha um
jornalista nem perto. A imagem
foi feita pelos militares.
FOLHA - O repórter especial da Folha Sérgio Dávila, que é seu genro,
foi cobrir a Guerra do Iraque. Se o
convidassem, o sr. iria?
RIBEIRO - Se não tivesse impedimento físico [ele perdeu uma
das pernas no Vietnã], eu iria,
sim. A função do repórter é estar onde está a notícia, para ser
testemunha da história. E você
está no lugar para denunciar
crueldades. A presença do jornalista em uma guerra inibe
atrocidades dos dois lados.
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