Ribeirão Preto, Domingo, 28 de Junho de 2009

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"Vietnã não soube o que fazer com a paz"

Para o jornalista José Hamilton Ribeiro, situação do correspondente de guerra piorou com tecnologia

DA FOLHA RIBEIRÃO

Único correspondente brasileiro na Guerra do Vietnã, o jornalista José Hamilton Ribeiro, 73, participa hoje do Salão de Ideias, às 13h, no último dia da 9ª Feira do Livro de Ribeirão Preto. A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha. (JC)

 

FOLHA - O sr. voltou ao Vietnã em 1995. Que Vietnã encontrou?
ZÉ HAMILTON RIBEIRO -
Na primeira viagem, da guerra, o Vietnã era um lugar onde havia mais esperança, idealismo de criar uma sociedade mais igualitária. Mas quando chego em 1995, já com o Vietnã em paz, encontro um país de escravos. O Vietnã ganhou a guerra e não soube o que fazer com a paz. Transformou-se em um país dirigido por comunistas de camisola, um país miserável. Mas, gostaria de voltar, a passeio.

FOLHA - Como está hoje a cobertura de guerras do Oriente Médio?
RIBEIRO -
Piorou a situação do correspondente de guerra. As guerras do Iraque, Afeganistão e Paquistão são guerras dos americanos. A tecnologia da guerra mudou tanto que o repórter tem pouca possibilidade de acompanhar a operação.

FOLHA - Por quê?
RIBEIRO -
Ele não pode ir in loco, depende de uma informação do Exército. Os americanos não deixam. Aprenderam com a Guerra do Vietnã que, se der muita liberdade à imprensa, isso faz um estrago danado político. Também é muito perigoso obter informações dos insurgentes, do Talebã. Do lado americano, o repórter precisa se credenciar, e as regras são bem estritas. O fato mais importante da Guerra do Iraque foi a captura do Saddam. O homem poderoso foi encontrado em um buraco, barbudo, com comida podre. Aquela imagem rodou o mundo e não tinha um jornalista nem perto. A imagem foi feita pelos militares.

FOLHA - O repórter especial da Folha Sérgio Dávila, que é seu genro, foi cobrir a Guerra do Iraque. Se o convidassem, o sr. iria?
RIBEIRO -
Se não tivesse impedimento físico [ele perdeu uma das pernas no Vietnã], eu iria, sim. A função do repórter é estar onde está a notícia, para ser testemunha da história. E você está no lugar para denunciar crueldades. A presença do jornalista em uma guerra inibe atrocidades dos dois lados.


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