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"Eles são piores que o assassino de meu filho"
Sônia Modanez, mãe de rapaz que foi morto, se refere aos desembargadores do TJ que inocentaram o promotor Schoedl
Mãe diz que Estado está dando direito ao cidadão de matar e alegar legítima defesa; além de recorrer, ela vai protestar no STF
GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
A comerciante de São Carlos
Sônia Mendes Modanez, 50,
mãe do jogador de basquete
Diego Modanez, morto em
2004, aos 20 anos, pelo promotor Thales Ferri Schoedl, disse
considerar os desembargadores do TJ (Tribunal de Justiça)
que absolveram o promotor
"iguais ou piores" que o assassino de seu filho.
"O Estado está dando o direito do cidadão matar e dizer que
foi legítima defesa", afirmou
Sônia, que acompanhou o julgamento em São Paulo.
Schoedl foi absolvido anteontem por unanimidade, em
julgamento no Órgão Especial
do TJ, que reúne os 25 desembargadores mais experientes.
Sônia disse ter acordado ontem
com vergonha de ser brasileira.
Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha, por telefone.
Folha -A senhora vai fazer algum tipo
de protesto pela absolvição do promotor Schoedl?
Sônia Mendes Modanez - Quero fazer uma passeata. Eu [pausa],
desculpa, mas hoje eu estou no
fundo do poço.
Folha- Quando deve acontecer a passeata?
Sônia - Em breve, para ontem.
Quero fazer lá em Brasília, na
frente do STF [Supremo Tribunal Federal]. Várias pessoas me
ligaram dando apoio, graças a
Deus, apesar de eu ter acordado com muita vergonha de ser
brasileira. Pessoas dizendo que
ele (Schoedl) tinha razão. Como pode uma pessoa ter razão
de matar e tirar a vida de um jovem? E é mentira a história de
legítima defesa. Os jovens não
mexeram com a namorada dele. (...) Inclusive o outro menino que sobreviveu [Felipe Siqueira Cunha Souza] disse que
o Diego não abriu nem a boca
na hora e ele [Schoedl] me descarrega 12 tiros [foram 14].
Folha - O Felipe contou para a senhora
que a discussão começou por causa da
namorada?
Sônia - Exato. Ele, o promotor,
esse lixo, que pra mim é um lixo, estava discutindo com a namorada quando o Felipe interveio para ele parar. A história
verdadeira é essa. As pessoas
que votaram ontem a favor da
absolvição [de Schoedl] para
mim são iguais ou piores que
esse lixo.
Folha - A senhora acha que é possível
reverter o julgamento?
Sônia- Meu advogado vai entrar com todos os recursos possíveis. (...) O Estado está dando
o direto de todo cidadão matar
e falar depois que foi legitima
defesa.
Folha - A senhora viu o promotor no
julgamento?
Sônia - Eu o vi o tempo todo.
Ele chorou de felicidade. Mas
ainda vai chorar de tristeza.
Folha - A senhora pretende criar algum
instituto contra a violência como fizeram outros parentes de vítimas?
Sônia - A gente vai pôr [o nome] Diego Vida ou Vida Diego.
Talvez até março de 2009 o
instituto já esteja funcionando.
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