Ribeirão Preto, Sexta-feira, 28 de Novembro de 2008

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"Eles são piores que o assassino de meu filho"

Sônia Modanez, mãe de rapaz que foi morto, se refere aos desembargadores do TJ que inocentaram o promotor Schoedl

Mãe diz que Estado está dando direito ao cidadão de matar e alegar legítima defesa; além de recorrer, ela vai protestar no STF

GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

A comerciante de São Carlos Sônia Mendes Modanez, 50, mãe do jogador de basquete Diego Modanez, morto em 2004, aos 20 anos, pelo promotor Thales Ferri Schoedl, disse considerar os desembargadores do TJ (Tribunal de Justiça) que absolveram o promotor "iguais ou piores" que o assassino de seu filho.
"O Estado está dando o direito do cidadão matar e dizer que foi legítima defesa", afirmou Sônia, que acompanhou o julgamento em São Paulo.
Schoedl foi absolvido anteontem por unanimidade, em julgamento no Órgão Especial do TJ, que reúne os 25 desembargadores mais experientes.
Sônia disse ter acordado ontem com vergonha de ser brasileira. Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha, por telefone.

 

Folha -A senhora vai fazer algum tipo de protesto pela absolvição do promotor Schoedl?
Sônia Mendes Modanez
- Quero fazer uma passeata. Eu [pausa], desculpa, mas hoje eu estou no fundo do poço.

Folha- Quando deve acontecer a passeata?
Sônia
- Em breve, para ontem.
Quero fazer lá em Brasília, na frente do STF [Supremo Tribunal Federal]. Várias pessoas me ligaram dando apoio, graças a Deus, apesar de eu ter acordado com muita vergonha de ser brasileira. Pessoas dizendo que ele (Schoedl) tinha razão. Como pode uma pessoa ter razão de matar e tirar a vida de um jovem? E é mentira a história de legítima defesa. Os jovens não mexeram com a namorada dele. (...) Inclusive o outro menino que sobreviveu [Felipe Siqueira Cunha Souza] disse que o Diego não abriu nem a boca na hora e ele [Schoedl] me descarrega 12 tiros [foram 14].

Folha - O Felipe contou para a senhora que a discussão começou por causa da namorada?
Sônia
- Exato. Ele, o promotor, esse lixo, que pra mim é um lixo, estava discutindo com a namorada quando o Felipe interveio para ele parar. A história verdadeira é essa. As pessoas que votaram ontem a favor da absolvição [de Schoedl] para mim são iguais ou piores que esse lixo.

Folha - A senhora acha que é possível reverter o julgamento?
Sônia
- Meu advogado vai entrar com todos os recursos possíveis. (...) O Estado está dando o direto de todo cidadão matar e falar depois que foi legitima defesa.

Folha - A senhora viu o promotor no julgamento?
Sônia
- Eu o vi o tempo todo.
Ele chorou de felicidade. Mas ainda vai chorar de tristeza.

Folha - A senhora pretende criar algum instituto contra a violência como fizeram outros parentes de vítimas?
Sônia
- A gente vai pôr [o nome] Diego Vida ou Vida Diego. Talvez até março de 2009 o instituto já esteja funcionando.


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