Ribeirão Preto, Domingo, 28 de Dezembro de 2008

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Newton Lima afirma que gestões foram um sucesso e mira 2010

Prefeito de São Carlos diz querer ser deputado federal para dar voz à região

MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS

Após oito anos de mandato na Prefeitura de São Carlos, Newton Lima (PT) deixa a administração com dois projetos engatilhados: a seqüência do Hospital Escola e a criação da Cidade da Bioenergia, que prevê sediar, entre outras atividades, a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação). Mas Newton também deixa uma dívida de R$ 163,22 milhões, apenas R$ 16,25 milhões a menos que o rombo encontrado ao assumir, em 2001.
Na entrevista à Folha, o petista afirmou que, já em janeiro, iniciará os trabalhos para tentar ser deputado federal nas eleições de 2010. Leia, a seguir, trechos da entrevista.

 

FOLHA - Quais foram as principais realizações de sua gestão?
NEWTON LIMA
- A primeira questão foi o saneamento das contas públicas, me orgulho, os números são muito impactantes.
Houve aumento significativo da renda per capita, o estoque da dívida caiu à metade do Orçamento. Conseguimos captação de recursos também. Nunca na história desse município se captou tanto, cerca de R$ 340 milhões.

FOLHA - Nos oito anos?
NEWTON
- Sim, em oito anos, é um volume extraordinário. É significativo. Do ponto de vista de infra-estrutura, fizemos 600 obras, de todos os tamanhos. As maiores são o Hospital-Escola, a estação de tratamento de esgoto, os complexos viários. Urbanizamos uma favela, aplicamos quase 33% em educação e a saúde sempre [esteve] acima dos índices obrigatórios. Do ponto de vista administrativo, nós organizamos a cidade, fazendo funcionar um programa de modernização administrativa que deu cidadania e promoveu um conjunto de instrumentos de participação popular, com ouvidoria e 27 conselhos municipais. Não havia Guarda Municipal, agentes de trânsito. Recebemos mais de uma dezena de prêmios importantes e significativos. E os grandes investimentos, que deram salto para a cidade foram a conquista de um novo campus da USP, 20 novos cursos na UFSCar, mais dois parques tecnológicos, a atração de novos empreendimentos. Desenhamos o novo distrito industrial, criamos políticas para mulheres vítimas de violência, para os negros, com o centro cultural de africanidades. O centro da juventude é um sucesso. Restaurante popular, quase 100% de atendimento de programas de renda, Caps, que é muito importante, não temos criança fora da escola. Imprimimos uma gestão participativa, moralizadora, que reverteu a situação de degradação que a cidade vivia.
São Carlos, em 2000, estava falida, a cidade às escuras, com grau de deterioração das vias públicas muito significativo, crianças abandonadas, mendigos, ambulantes, crianças na porta de escola pedindo comida.

FOLHA - E como reverteu isso?
NEWTON
- Foram todos os programas sociais que a gente criou. Revertemos em oito anos, disciplinamos a cidade, moralizamos, introduzimos uma nova cultura política, inclusive, com respeito ao Legislativo, participação efetiva dos conselhos populares, fizemos uma revolução cultural nos hábitos, procedimentos. Introduzimos pregão e mecanismos que diminuíram o custo de todo processo. Acabamos com o superfaturamento. Os projetos estruturantes agora são a conclusão do Hospital-Escola, que resolve o nosso déficit de leitos.

FOLHA - Resolve totalmente?
NEWTON
- Totalmente, com mais 190 [vagas], acaba. Tem ainda o centro tecnológico da agricultura familiar, que vai ajudar os pequenos produtores a se capacitarem para melhorar renda. E outras, como parque tecnológico, centro olímpico, a fábrica de semicondutores, que entra em operação em 2012, e a Cidade da Bioenergia, que vai atrair missões internacionais e nacionais.

FOLHA - Quantos leitos em hotéis a cidade precisa para isso?
NEWTON
- Vai depender da demanda, evidentemente [a assessoria informou que a cidade tem 2.260 leitos e, num raio de 50 km, são 7.625]. Agora estamos pedindo dinheiro ao Ministério do Turismo para fazer um novo plano turístico, em razão de dois novos empreendimentos de milhões [fábrica de semicondutores e Cidade da Bioenergia].

FOLHA - Na questão da Agrishow, como está o dinheiro?
NEWTON
- O dinheiro estará no Orçamento da União e caberá aos ministros dizer de onde sairão os recursos.

FOLHA - Não há risco de a Abimaq abrir negociação com outra cidade então?
NEWTON
- A Abimaq veio aqui, falou definitivamente. Teve até padre para celebrar o casamento.

FOLHA - O que o sr. queria ter feito e não conseguiu?
NEWTON
- Eu queria muito, como São Carlos é referência nacional na recuperação de jovem em conflito com a lei, sair com a certeza de que não teríamos um estabelecimento de internação da Fundação Casa, porque São Carlos não precisa.
Queria que a semiliberdade estivesse funcionando, e está parada. A segunda frustração é o Brasil não ter um programa, nem no governo do Estado nem no federal, de recuperação da malha viária. Quando o município está endividado, ele tem dificuldade de fazer a recuperação das vias públicas.

FOLHA - Nas finanças, o sr. sai com uma dívida mais controlada, em relação ao Orçamento, mas ainda é uma dívida alta...
NEWTON
- Ainda é alta, mas uma parte dela é produtiva, a outra é caloteira. Uma parte é de investimentos, todo mundo quer.

FOLHA - Em quanto tempo São Carlos consegue pagá-la?
NEWTON
- Depende da política de juros do Brasil. Se os juros continuarem altos, demora mais uns 20 ou 30 anos. Se houver um processo de diminuição de juros no Brasil, vai mais rápido. Mas o que importa, me orgulho muito, é que peguei a cidade com R$ 34 milhões de dívida de curto prazo e entrego com superávit. O estoque de longo prazo reduzimos à medida do possível, sobretudo por causa da política de juros.

FOLHA - Qual será sua vida a partir de 1º de janeiro?
NEWTON
- Começo a campanha para deputado. Descanso 15 dias e começo a campanha, porque quero dar voz à região central do Estado. Nossa região é muito rica e fértil em empreendimentos, haja vista o que estamos atraindo para cá. Falamos em megainvestimentos. Por isso que eu ficava triste quando falava-se que a Agrishow sai daqui, vai para lá. Não é Agrishow, ela é uma conseqüência, um subproduto do processo. Estamos fazendo uma cidade para render muito, know-how para o mundo. Essa visão não se consegue pôr. Podia ser em Ribeirão Preto, desde que tivessem dado bola aos empresários, mas não deram.

FOLHA - Como a crise mundial vai atingir as prefeituras?
NEWTON
- Ela vai diminuir o Orçamento. O prefeito deve adaptá-lo à nova realidade. Só tem uma alternativa, que é contingenciar parte aguardando o desenvolvimento da crise.


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