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Newton Lima afirma que gestões foram um sucesso e mira 2010
Prefeito de São Carlos diz querer ser deputado federal para dar voz à região
MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS
Após oito anos de mandato
na Prefeitura de São Carlos,
Newton Lima (PT) deixa a administração com dois projetos
engatilhados: a seqüência do
Hospital Escola e a criação da
Cidade da Bioenergia, que prevê sediar, entre outras atividades, a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola
em Ação). Mas Newton também deixa uma dívida de R$
163,22 milhões, apenas R$
16,25 milhões a menos que o
rombo encontrado ao assumir,
em 2001.
Na entrevista à Folha, o petista afirmou que, já em janeiro, iniciará os trabalhos para
tentar ser deputado federal nas
eleições de 2010. Leia, a seguir,
trechos da entrevista.
FOLHA - Quais foram as principais
realizações de sua gestão?
NEWTON LIMA - A primeira questão foi o saneamento das contas
públicas, me orgulho, os números são muito impactantes.
Houve aumento significativo
da renda per capita, o estoque
da dívida caiu à metade do Orçamento. Conseguimos captação de recursos também. Nunca na história desse município
se captou tanto, cerca de R$
340 milhões.
FOLHA - Nos oito anos?
NEWTON - Sim, em oito anos, é
um volume extraordinário. É
significativo. Do ponto de vista
de infra-estrutura, fizemos 600
obras, de todos os tamanhos. As
maiores são o Hospital-Escola,
a estação de tratamento de esgoto, os complexos viários. Urbanizamos uma favela, aplicamos quase 33% em educação e
a saúde sempre [esteve] acima
dos índices obrigatórios. Do
ponto de vista administrativo,
nós organizamos a cidade, fazendo funcionar um programa
de modernização administrativa que deu cidadania e promoveu um conjunto de instrumentos de participação popular, com ouvidoria e 27 conselhos municipais. Não havia
Guarda Municipal, agentes de
trânsito. Recebemos mais de
uma dezena de prêmios importantes e significativos. E os
grandes investimentos, que deram salto para a cidade foram a
conquista de um novo campus
da USP, 20 novos cursos na
UFSCar, mais dois parques tecnológicos, a atração de novos
empreendimentos. Desenhamos o novo distrito industrial,
criamos políticas para mulheres vítimas de violência, para os
negros, com o centro cultural
de africanidades. O centro da
juventude é um sucesso. Restaurante popular, quase 100%
de atendimento de programas
de renda, Caps, que é muito importante, não temos criança fora da escola. Imprimimos uma
gestão participativa, moralizadora, que reverteu a situação de
degradação que a cidade vivia.
São Carlos, em 2000, estava falida, a cidade às escuras, com
grau de deterioração das vias
públicas muito significativo,
crianças abandonadas, mendigos, ambulantes, crianças na
porta de escola pedindo comida.
FOLHA - E como reverteu isso?
NEWTON - Foram todos os programas sociais que a gente
criou. Revertemos em oito
anos, disciplinamos a cidade,
moralizamos, introduzimos
uma nova cultura política, inclusive, com respeito ao Legislativo, participação efetiva dos
conselhos populares, fizemos
uma revolução cultural nos hábitos, procedimentos. Introduzimos pregão e mecanismos
que diminuíram o custo de todo processo. Acabamos com o
superfaturamento. Os projetos
estruturantes agora são a conclusão do Hospital-Escola, que
resolve o nosso déficit de leitos.
FOLHA - Resolve totalmente?
NEWTON - Totalmente, com
mais 190 [vagas], acaba. Tem
ainda o centro tecnológico da
agricultura familiar, que vai
ajudar os pequenos produtores
a se capacitarem para melhorar
renda. E outras, como parque
tecnológico, centro olímpico, a
fábrica de semicondutores, que
entra em operação em 2012, e a
Cidade da Bioenergia, que vai
atrair missões internacionais e
nacionais.
FOLHA - Quantos leitos em hotéis a
cidade precisa para isso?
NEWTON - Vai depender da demanda, evidentemente [a assessoria informou que a cidade
tem 2.260 leitos e, num raio de
50 km, são 7.625]. Agora estamos pedindo dinheiro ao Ministério do Turismo para fazer
um novo plano turístico, em razão de dois novos empreendimentos de milhões [fábrica de
semicondutores e Cidade da
Bioenergia].
FOLHA - Na questão da Agrishow,
como está o dinheiro?
NEWTON - O dinheiro estará no
Orçamento da União e caberá
aos ministros dizer de onde sairão os recursos.
FOLHA - Não há risco de a Abimaq
abrir negociação com outra cidade
então?
NEWTON - A Abimaq veio aqui,
falou definitivamente. Teve até
padre para celebrar o casamento.
FOLHA - O que o sr. queria ter feito
e não conseguiu?
NEWTON - Eu queria muito, como São Carlos é referência nacional na recuperação de jovem
em conflito com a lei, sair com a
certeza de que não teríamos
um estabelecimento de internação da Fundação Casa, porque São Carlos não precisa.
Queria que a semiliberdade estivesse funcionando, e está parada. A segunda frustração é o
Brasil não ter um programa,
nem no governo do Estado nem
no federal, de recuperação da
malha viária. Quando o município está endividado, ele tem dificuldade de fazer a recuperação das vias públicas.
FOLHA - Nas finanças, o sr. sai com
uma dívida mais controlada, em relação ao Orçamento, mas ainda é
uma dívida alta...
NEWTON - Ainda é alta, mas
uma parte dela é produtiva, a
outra é caloteira. Uma parte é
de investimentos, todo mundo
quer.
FOLHA - Em quanto tempo São
Carlos consegue pagá-la?
NEWTON - Depende da política
de juros do Brasil. Se os juros
continuarem altos, demora
mais uns 20 ou 30 anos. Se houver um processo de diminuição
de juros no Brasil, vai mais rápido. Mas o que importa, me
orgulho muito, é que peguei a
cidade com R$ 34 milhões de
dívida de curto prazo e entrego
com superávit. O estoque de
longo prazo reduzimos à medida do possível, sobretudo por
causa da política de juros.
FOLHA - Qual será sua vida a partir
de 1º de janeiro?
NEWTON - Começo a campanha
para deputado. Descanso 15
dias e começo a campanha, porque quero dar voz à região central do Estado. Nossa região é
muito rica e fértil em empreendimentos, haja vista o que estamos atraindo para cá. Falamos
em megainvestimentos. Por isso que eu ficava triste quando
falava-se que a Agrishow sai daqui, vai para lá. Não é Agrishow,
ela é uma conseqüência, um
subproduto do processo. Estamos fazendo uma cidade para
render muito, know-how para
o mundo. Essa visão não se
consegue pôr. Podia ser em Ribeirão Preto, desde que tivessem dado bola aos empresários,
mas não deram.
FOLHA - Como a crise mundial vai
atingir as prefeituras?
NEWTON - Ela vai diminuir o
Orçamento. O prefeito deve
adaptá-lo à nova realidade. Só
tem uma alternativa, que é contingenciar parte aguardando o
desenvolvimento da crise.
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