Ribeirão Preto, Domingo, 29 de Agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Engenho antigo vai virar Museu Nacional da Cana

Complexo de 19 prédios em meio a canaviais guarda maquinário original

Propriedade de 130 mil m˛ vai ser transferida pelos Biagi à Prefeitura de Sertãozinho; plano é contar história da cana

ARARIPE CASTILHO
ENVIADO ESPECIAL A SERTÃOZINHO

Rodas dentadas que ajudaram a ditar a economia do país durante a maior parte do século 20 hoje adormecem empoeiradas à espera do momento em que servirão para contar como a cana-de-açúcar fez história no Brasil.
Um complexo de 19 prédios, a maioria do início dos anos 1900, em meio a canaviais de Sertãozinho, na região de Ribeirão Preto, abriga maquinário original do engenho mais antigo do Estado e promete ser o primeiro Museu Nacional da Cana.
A propriedade tem 130 mil m˛ e deve ser transferida pela família Biagi ao poder público para a realização de obras de recuperação de todos os pavilhões e equipamentos que foram preservados por mais de um século no local.
O Ministério da Cultura já aprovou a captação de R$ 10 milhões via Lei Rouanet. A Prefeitura de Sertãozinho e o proprietário das terras, Luiz Biagi, 60, esperam arrecadar ao menos 20% do valor até o final deste ano para alavancar o projeto, que poderá custar até R$ 40 milhões.
Para acelerar o processo, um representante dos parceiros envolvidos na iniciativa irá visitar potenciais interessados em destinar de 4% a 6% do Imposto de Renda devido ao Instituto Cultural Engenho Central. A aplicação dos recursos, por lei, tem de ser fiscalizada pela Receita.
Biagi conta que a decisão foi tomada por ele e sua mãe, Edilah Biagi, 89, com o objetivo de transformar o Engenho Central em um centro educacional de referência sobre o setor sucroalcooleiro.
"Praticamente todas as máquinas da época estão lá. Acredito que seja o engenho mais completo do Brasil", afirmou Biagi. A ideia da família é que o espaço tenha destino semelhante ao da USP Ribeirão, também instalada em uma antiga fazenda.
Toda a história da cana-de-açúcar que se pretende contar no museu nasceu logo após o descobrimento do Brasil, em 1.500, mas o Engenho Central começou a ser construído em 1903 e as primeiras sacas de açúcar foram produzidas em 1906.
"O Francisco Schmidt [primeiro dono da área] anteviu a crise do café [1929] e decidiu produzir açúcar. Em 1961, o Maurilio Biagi comprou o engenho e toda estrutura foi preservada até agora", conta Luiz Biagi.
O arquiteto Mário Sérgio Nobre, 54, coordenador da restauração, afirma que o complexo tem "toda uma riqueza histórica que precisa ser passada para as próximas gerações". Nobre se envolveu tanto no projeto ao ponto de se mudar para um dos prédios.
Ele vive hoje no Centro Social Attílio Balbo, casa que foi do então braço direito da família Schmidt.
"Para comprar um pão tenho que percorrer 9 quilômetros, mas me mudei para cá no ano passado porque percebi que o projeto levaria tempo para se concretizar e também porque me apaixonei por isso aqui", diz.
De olho no potencial turístico do museu, Sertãozinho pretende integrar a iniciativa ao Trem da Cana.


Texto Anterior: Painel Regional
Próximo Texto: Prefeitura espera impulsionar setor turístico com o projeto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.