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Garotos da droga discursam como empresários
DA FOLHA RIBEIRÃO
"Quando você começa um
negócio na cidade, quase
ninguém te conhece. Aí, depois, você vai pegando cliente." A frase pode parecer de
um microempresário legalizado, mas é só a explicação
de Lucas (nome fictício), hoje com 18 anos, que está internado há quatro meses na
Fundação Casa de Ribeirão
por ter sido flagrado traficando droga.
Lucas sempre conviveu
com a droga no Cruzeiro do
Sul, bairro da periferia de São
Carlos. Aos 15 anos, começou
a trabalhar em um lava-rápido. Ganhava R$ 320 por mês.
Foi quando começou a
perceber que os colegas que
vendiam drogas "esbanjavam dinheiro na balada". Aos
16, começou a vender cocaína na pracinha perto de sua
casa. O então adolescente
vendia cada papelote de 8 mg
por R$ 10. A cada dez papelotes, ganhava dois.
"Eu ficava só de noite, mas
um dia vi que estava sozinho,
me arriscando à noite com
pouco ganho." Negociou, então, com seu fornecedor e
passou a pegar 50 g para vender em pontos espalhados
-festas, praças etc.
"O dinheiro é muito, mas a
gente gasta tudo com festa,
balada. Eu comprei bicicleta,
comprei roupas", disse. Após
ser pego em flagrante pela
polícia, foi internado na fundação, em Ribeirão. Agora,
disse que só pensa em sair de
lá e ter um emprego fixo e
formal como o pai, que trabalha como caldeireiro.
Vitor (nome fictício), hoje
com 18 anos, começou também por baixo no tráfico. Aos
14 anos, a função dele era
buscar droga para o traficante em outras cidades. "Eu
viajava de ônibus. Algumas
vezes, me barraram por ser
menor e estar sozinho."
Aos 15 anos, decidiu montar o próprio negócio. Começou a buscar a droga do fornecedor para vender na esquina de casa e contratou um
menino mais novo para ajudá-lo no negócio.
O trabalho era pesado: começava às 14h e varava a madrugada até 6h. De R$ 700,
no início, passou a vender R$
5.000 por semana. Às vezes,
também oferecia droga na
porta da escola.
O lucro, porém, não lhe
rendeu alegrias. "Hoje, estou
aqui e tenho um filho de oito
meses lá fora. A gente acha
que, se for pego, são só alguns
meses, mas o tempo não passa aqui."
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