Ribeirão Preto, Terça-feira, 30 de Dezembro de 2008

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História de Oswaldo Barba se confunde com a da UFSCar

Prefeito eleito de São Carlos chegou à cidade em 1970 para estudar na universidade

Barba hasteou a bandeira do Brasil na cerimônia de inauguração da mesma universidade que ele iria comandar 30 anos depois

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

A barba é rente. "Uso pente 1,5, no máximo dois", explica o barbeiro Laudomiro Godoy, 72, de São Carlos. "Lau" refere-se à característica mais marcante de um cliente antigo que chegou à cidade para estudar engenharia há 38 anos, formou-se, fez carreira na universidade e entrou para a política.
Careca mas ainda barbudo, o que lhe rendeu o apelido de Barba, Oswaldo Duarte Baptista Filho, o cliente antigo de Lau, assume na próxima quinta-feira, aos 58 anos, o posto de prefeito da cidade que adotou.
A história de vida de Barba em São Carlos coincide com o início da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). O ano era 1970. Surgia o primeiro curso, de engenharia de materiais. Entre os alunos da primeira turma, Oswaldo, vindo de Taboão da Serra, foi o escolhido para hastear a bandeira nacional, na solenidade de inauguração da universidade.
"Escolheram-no talvez por causa da aparência exótica. Nossas cabeças estavam raspadas, mas a barba dele ficou", conta o colega de classe José Renato Coury, 56, hoje professor da UFSCar e desde sempre amigo pessoal de Barba.
A solenidade nem foi tão solene, conta Coury. "Lembro que foi um episódio hilariante, porque a bandeira encravou e não subia de jeito nenhum. O Barba se pendurou no cabo, com o pé para cima, e empurrou a corda, até se soltar."
Como os demais colegas que vieram da capital ou das cidades vizinhas, Oswaldo dividiu uma casa com 12 amigos da UFSCar e da USP. Hoje, quando Barba sai de seu comitê, na avenida São Carlos, pode observar do outro lado da rua o sobrado onde morou -a república "Tipo Zero".
A república abrigava boa parte das festas universitárias. "Às vezes, a gente conseguia alguns barris de chope que os professores nos davam. Como era a primeira turma, tínhamos muito contato com os docentes", conta o empresário agrícola Edison Thadeu Guerzoni, 57, outro colega de classe do prefeito eleito, que vive hoje em Catanduva.
Barba envolveu-se na história política da universidade. Foi o primeiro presidente do diretório acadêmico. "Ele sempre mostrou liderança. Sempre ponderado e com muito jogo de cintura quando havia divergências. Cordial, se dava bem com todos", disse Guerzoni.
Barba guarda, daquela época, uma marca física: o dedo mínimo torto. Foi a herança de um dos muitos trajetos que fez a pé para participar de reuniões noturnas do diretório acadêmico na UFSCar, que na época era uma fazenda. "À noite era muito escuro, a rodovia estava sendo duplicada, havia um buraco na pista e caímos. O Barba quebrou o dedinho", conta Coury.
Em plena época de ditadura militar, Barba lia Lênin, Marx e outros pensadores de esquerda. "Ele tinha envolvimento político, com o diretório acadêmico", disse o professor George Cury Kachan, 67, orientador do mestrado e doutorado do prefeito eleito.
Barba ainda não era filiado a nenhum partido político, o que só foi acontecer nos anos 80, quando entrou no PT. Na época, já era professor da UFSCar e ajudou a fundar a associação dos docentes.
"Ele já vinha com o engajamento político. Se filiou ao PT, mas nunca havia se candidatado. Fez carreira na UFSCar, como vice-reitor e depois reitor", conta o colega de partido, João Carlos Pedrazzani, 58, atual secretário de Planejamento de Newton Lima (PT).

Newton Lima
A proximidade do atual prefeito com Barba começou em 1976, quando Newton começou a dar aulas em São Carlos. "Construímos o departamento de engenharia química, participamos das lutas políticas pela anistia, redemocratização do país, fizemos movimento docente", disse Lima.
A idéia de que o amigo de universidade poderia ser seu sucessor surgiu em 2000, segundo o prefeito. "Foi desde o momento em que eu tive a dimensão de que ele poderia ser reitor", afirmou. (Lima assumiu a reitoria em setembro de 1992 e deixou o cargo quatro anos depois. Foi sucedido na reitoria por José Rubens Rebelatto, que passou o cargo para Barba em 2000. Antes de assumir a reitoria, o prefeito eleito foi vice-reitor da universidade, que só deixou no meio deste ano para disputar a prefeitura.)
De tantas participações na história da UFSCar e do PT em São Carlos, o homem que assume a prefeitura alimenta hoje em dia, na verdade, três paixões declaradas. São os netos Cauê, 7, Ian, 6, e Raíssa, 5, de sua filha Fernanda, 33 -Barba ainda tem o filho Gustavo, 31. "Não tem coisa mais gostosa na vida do que ser avô", diz ele.
Após oito anos de governo petista na cidade, Barba foi eleito com 43.888 votos, o equivalente a 35,41% dos votos válidos. A votação foi bem apertada -o tucano Paulo Altomani, segundo colocado, recebeu 41.354 votos e o democrata Airton Garcia teve 36.982 votos.


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