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+Línguas

Estudos revelam que aprender um segundo idioma amplia capacidade de concentração em crianças e adia os sintomas do mal de Alzheimer em idosos

RAFAEL GARCIA
EM WASHINGTON

O aprendizado de uma segunda língua traz vantagens que vão além do benefício mais óbvio de permitir a comunicação em outro idioma.

Novas pesquisas mostram que pessoas bilíngues têm, em média, maior capacidade de concentração quando jovens e menos sintomas de demência ao envelhecer.

Esses estudos, muitos deles inspirados em experimentos da linguista canadense Ellen Bialystok, têm aliviado a consciência de pais que receiam expor as crianças a ambientes com duas línguas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum imigrantes "esconderem" dos filhos sua língua natal, para que as crianças aprendam o inglês mais rapidamente.

Um dos estudos mais recentes do grupo de Bialystok revela, porém, que jovens nutridos num ambiente bilíngue se saem melhor em tarefas que exigem atenção, memória rápida, capacidade analítica e flexibilidade de ideias.

"Não é que se tornem mais inteligentes. A diferença é que pessoas bilíngues desenvolvem capacidade de concentrar sua atenção em um objetivo imediato sem se deixar incomodar por ruídos ou outras informações que as distraiam", diz Gigi Luk, linguista da Universidade Harvard, de Cambridge (EUA).

Esse benefício, afirmam os linguistas, acaba se mostrando de uma forma inesperada. Como o segundo idioma dá às crianças uma consciência maior sobre estrutura linguística, algumas delas passam a dominar melhor a gramática da primeira língua.

Barbara Pearson, linguista que realizou boa parte de seus trabalhos em Miami -cidade onde o espanhol é moeda corrente ao lado do inglês- afirma que "crianças que crescem em ambientes bilíngues passam a enxergar antes dos monolíngues as propriedades formais e estruturais da língua, como o fato de que palavras consistem de sílabas e sons".

Isso, segundo ela, dá às crianças uma importante ferramenta para desenvolver suas habilidades de raciocínio.

DA MENTE AO CÉREBRO

Para alguns pesquisadores, os benefícios da exposição à segunda língua ocorrem ainda mais cedo.

Barbara Conboy, linguista da Universidade de Redlands (EUA), realizou neste ano um experimento para medir a capacidade de discernimento entre fonemas de inglês, monitorando a atividade cerebral de bebês.

"Durante um período de dois meses antes e depois dos testes, os cérebros dos bebês se tornaram mais eficientes em processar inglês."

Luk, que participou de vários dos experimentos de Bialystok, investiga o efeito do bilinguismo mapeando o cérebro de voluntários.

Usando uma máquina de ressonância magnética, ela diz estar conseguindo enxergar que o bilinguismo ajuda adultos mais velhos a preservar estruturas de "matéria branca", o tecido responsável por manter as conexões entre neurônios.

Em um estudo que ainda não foi publicado, Luk reúne evidências físicas de um efeito que vem sendo mostrado pelas pesquisas de Bialystok desde 2004.

Investigando a literatura médica, a cientista descobriu que idosos bilíngues conseguem adiar o aparecimento de sintomas do mal de Alzheimer em cinco ou seis anos.

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