São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2011

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Todos à prova

Especialistas discutem como novas ferramentas podem servir para avaliar tanto alunos do século 21 quanto professores

Eduardo Anizelli/Folhapress
Alunas do colégio São Domingos são avaliadas pela professora Milena Soldá Policastro

PATRÍCIA GOMES
ENVIADA ESPECIAL A MADRI

Dia de prova. O professor entra em classe, pede silêncio a alunos enfileirados, distribui um calhamaço de papel com questões de múltipla escolha que, depois de respondidas, devem dizer se o estudante aprendeu ou não.
Esse método tradicional de avaliar, muito comum até hoje, se tornou insuficiente para medir as habilidades esperadas dos jovens do século 21.
Por isso, professores têm desenvolvido avaliações alternativas. E mais: propõem métodos em que seu próprio trabalho é posto à prova. "É um absurdo avaliarmos apenas os alunos em um processo tão complexo [o da aprendizagem]", diz a professora espanhola Maria Acaso. Para ela, a forma clássica de prova, especialmente a de múltipla escolha, é uma "educação bulímica", uma vez que, nela, o aluno "memoriza, vomita e esquece".
O economista James Heckman, professor da Universidade de Harvard e Nobel de economia, concorda. Ele afirma que os testes padronizados, muito usados nos EUA (como o SAT, fonte de inspiração para a elaboração do Enem), não são avaliações eficazes de sucesso escolar.
"Esses exames não conseguem, por exemplo, medir o nível de cooperação e criatividade do aluno, características fundamentais para ele dar certo no mundo de hoje", disse na semana passada, em São Paulo, quando participou de seminário internacional sobre educação realizado pelo Instituto Ayrton Senna.
O professor espanhol José Luis Castillo debateu com docentes de todo o mundo, no Encontro Internacional Educarede, ocorrido neste mês em Madri, a opção de incluir a família no processo de avaliação, além de usar ferramentas, digitais ou não, para medir mais que conteúdo.
Das citadas, a mais comum foi a rubrica. O modelo, focado em medir o processo e não o resultado, serve também para avaliar os mestres.
Funciona a partir de uma planilha que lista os fatores a serem observados pelos professores e o que se espera de cada aluno na atividade.
Se a rubrica for colocada em ambiente virtual, a atuação dos alunos e do professor pode ser acompanhada pela direção e pelas famílias.

BRASILEIROS E RUBRICAS
Cesar Nunes, que pesquisa inovações curriculares na USP e dá workshops sobre a ferramenta, diz que a rubrica é usada no país há mais de dez anos, mas que, para muita gente ainda é novidade.
No colégio São Domingos, na zona oeste de SP, alunos estão construindo a maquete de uma ecovila usando conceitos de geometria e ecologia. No avaliação, não só o conteúdo conta, mas entra na planilha organização, capacidade de trabalhar em equipe e poder de decisão.
Douglas Tomé, professor de informática educativa da rede municipal de São Paulo, tem usado as rubricas no seu dia a dia. Para ele, o método envolve mais os alunos.
"Tem gente que continua dando aula como há 20 anos. É difícil mudar", diz. Para ele, apesar de o método ser trabalhoso, pode ser aplicado em classes com qualquer número de alunos e em qualquer área do conhecimento.

A jornalista PATRÍCIA GOMES viajou a convite da Fundação Telefônica.


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