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"Não sentia dor nenhuma, é uma doença silenciosa", diz aposentado

DE CURITIBA

Quando se aposentou, em 2008, Darci Moacir Bladt, hoje com 52 anos, começou a beber. "Era uma cachacinha aqui, um uisquezinho ali", diz. Dois anos depois, recebeu o diagnóstico de cirrose hepática. O quadro era de falência irreversível do fígado.

"Tem pessoas que têm limite e outras, não. Eu não tive", afirma Bladt, que, no mês passado, foi o primeiro paciente do país a fazer um transplante duplo de fígado com doadores vivos.

Para que Bladt, de 1,86 m e 86 kg, recebesse uma porção suficiente de fígado para sobreviver, foi preciso unir partes dos órgãos de seu filho Nathanael, 23, e de sua sobrinha Julian, 29. Cada um podia doar até 70% de seu fígado -ou seja, até 720 g cada um. O aposentado precisava de 860 g.

"Foi uma oportunidade para a família se unir", afirma Nathanael. Ele mora em Cuiabá, onde faz faculdade de direito. Sua prima Julian mora em Cascavel, no oeste do Paraná. Agora, eles passam quase 24 horas juntos.

Os dois afirmam que não pensaram em voltar atrás nem ficaram com medo. "Hoje, eu vejo que a gente não tinha ideia da dimensão da cirurgia. Em momento algum a gente parou para pensar: 'E depois?'. Deixamos rolar", diz Julian.

EM COMA

A cirurgia era urgente. Diagnosticado com cirrose em setembro de 2010, Bladt já havia entrado três vezes em coma devido à falência aguda do fígado. Esse quadro é chamado de encefalopatia hepática.

"Eu não sentia nenhuma dor. É uma doença silenciosa, sem-vergonha. Simplesmente acordei e estava no hospital", conta, sobre as vezes em que entrou em coma.

A encefalopatia hepática, apesar de grave, não é considerada um fator prioritário para o transplante de fígado no Brasil. Devido à urgência do caso, a equipe do Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul (PR), resolveu apostar na técnica com dois doadores.

Dezoito dias após a cirurgia, Bladt se recupera bem. Desde que recebeu o diagnóstico, parou de beber. "Claro que sinto falta, mas é preciso ter força de vontade."

Depois da recuperação, prevista para daqui a três meses, Bladt planeja "aproveitar a vida" e viajar.

"Vou visitar os parentes [no Rio Grande do Sul]. Família é a coisa mais importante desse mundo."

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