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OMS associa celular a possível risco de câncer
Classificação indica que há evidências de perigo, mas não são conclusivas
Inclusão do telefone em lista de itens que podem causar tumores significa apenas que são necessários mais estudos
DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE
Pela primeira vez, um painel
de especialistas da OMS
(Organização Mundial da
Saúde) classificou o celular
como "possivelmente cancerígeno".
O uso do aparelho está na
terceira categoria de agentes
que podem levar a tumores -
em uma lista com mais de 200
itens, que inclui de café até o
pesticida DDT.
A presença de um elemento
nessa categoria significa
que pesquisas o ligam a risco
de câncer, mas que não há
conclusão sobre se esse perigo
existe ou não.
As evidências mais contundentes
citadas no relatório da
Iarc (International Agency for
Research on Cancer, agência
internacional de pesquisa sobre câncer,
ligada à OMS) vêm
do estudo "Interphone", que
analisou o uso de celular e os
riscos a longo prazo.
Um apêndice do trabalho
mostra que pessoas que usam
celular durante mais de 30
minutos por dia por mais de
dez anos têm risco maior de
câncer no cérebro.
A inclusão do celular na
lista de agentes possivelmente
cancerígenos indica a necessidade
de novos estudos
sobre os efeitos das ondas eletromagnéticas
emitidas pelo
aparelho no corpo.
"A OMS sentiu que havia
dados suficientes para um
aviso. Não há certeza, mas a
literatura indica que o uso do
celular seja feito com mais
cuidado", diz o oncologista
Paulo Hoff, diretor do Instituto
do Câncer do Estado de
São Paulo Octavio Frias de
Oliveira.
Hoff participou, em novembro
último, de debate
promovido pela Folha sobre
os riscos do celular à saúde.
EFEITO DESCONHECIDO
O mecanismo pelo qual o
celular causaria danos não
está claro. Ele emite ondas
eletromagnéticas não ionizantes,
que esquentam os tecidos
do corpo.
Já a radiação ionizante, como
a do raio-X, tem o poder
de destruir moléculas e causar
mutações no DNA que podem
levar a câncer.
Segundo o engenheiro eletricista
Alvaro Salles, professor
da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, estudos
iniciais já apontaram que
a radiação não ionizante pode quebrar
moléculas de DNA
e levar a mutações. "Há outros
fenômenos, como a alteração
da barreira hematoencefálica,
que protege os neurônios.
Uma alteração pode
causar a penetração de moléculas
de substâncias tóxicas
em tecidos sensíveis, o que
justifica o aparecimento do
tumor", afirma Salles.
De acordo com o biomédico
Renato Sabbatini, professor
da Unicamp, a inclusão
do celular como possivelmente
cancerígeno não é motivo
para "assustar ninguém".
"Isso não é uma recomendação
para que indivíduos
não usem mais celular. Mas,
se as pessoas quiserem reduzir
riscos, podem optar por viva
voz e evitar que crianças
usem o aparelho."
Segundo ele, ainda falta
consenso na comunidade
científica sobre o perigo do
celular para o corpo.
"Essa classificação de risco
ainda pode mudar, para
mais ou para menos", afirma
Sabbatini.
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