São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2011

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OMS associa celular a possível risco de câncer

Classificação indica que há evidências de perigo, mas não são conclusivas

Inclusão do telefone em lista de itens que podem causar tumores significa apenas que são necessários mais estudos

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

Pela primeira vez, um painel de especialistas da OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou o celular como "possivelmente cancerígeno".
O uso do aparelho está na terceira categoria de agentes que podem levar a tumores - em uma lista com mais de 200 itens, que inclui de café até o pesticida DDT.
A presença de um elemento nessa categoria significa que pesquisas o ligam a risco de câncer, mas que não há conclusão sobre se esse perigo existe ou não.
As evidências mais contundentes citadas no relatório da Iarc (International Agency for Research on Cancer, agência internacional de pesquisa sobre câncer, ligada à OMS) vêm do estudo "Interphone", que analisou o uso de celular e os riscos a longo prazo.
Um apêndice do trabalho mostra que pessoas que usam celular durante mais de 30 minutos por dia por mais de dez anos têm risco maior de câncer no cérebro.
A inclusão do celular na lista de agentes possivelmente cancerígenos indica a necessidade de novos estudos sobre os efeitos das ondas eletromagnéticas emitidas pelo aparelho no corpo.
"A OMS sentiu que havia dados suficientes para um aviso. Não há certeza, mas a literatura indica que o uso do celular seja feito com mais cuidado", diz o oncologista Paulo Hoff, diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.
Hoff participou, em novembro último, de debate promovido pela Folha sobre os riscos do celular à saúde.

EFEITO DESCONHECIDO
O mecanismo pelo qual o celular causaria danos não está claro. Ele emite ondas eletromagnéticas não ionizantes, que esquentam os tecidos do corpo.
Já a radiação ionizante, como a do raio-X, tem o poder de destruir moléculas e causar mutações no DNA que podem levar a câncer.
Segundo o engenheiro eletricista Alvaro Salles, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estudos iniciais já apontaram que a radiação não ionizante pode quebrar moléculas de DNA e levar a mutações. "Há outros fenômenos, como a alteração da barreira hematoencefálica, que protege os neurônios.
Uma alteração pode causar a penetração de moléculas de substâncias tóxicas em tecidos sensíveis, o que justifica o aparecimento do tumor", afirma Salles.
De acordo com o biomédico Renato Sabbatini, professor da Unicamp, a inclusão do celular como possivelmente cancerígeno não é motivo para "assustar ninguém".
"Isso não é uma recomendação para que indivíduos não usem mais celular. Mas, se as pessoas quiserem reduzir riscos, podem optar por viva voz e evitar que crianças usem o aparelho."
Segundo ele, ainda falta consenso na comunidade científica sobre o perigo do celular para o corpo. "Essa classificação de risco ainda pode mudar, para mais ou para menos", afirma Sabbatini.


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