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Endometriose no ovário pode antecipar o parto
Problema ocorre por alterações na placenta ou estímulo de contração uterina
De acordo com pesquisa,
gestantes que têm esse tipo
de endometriose possuem
duas vezes mais chance de
dar à luz prematuramente
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um tipo comum de endometriose pode estar relacionado a
parto prematuro, aponta uma
pesquisa realizada por especialistas australianos, que analisaram dados de 6.750 bebês nascidos por reprodução assistida
entre 1991 e 2004.
O estudo, publicado na edição de fevereiro da revista
"Fertility and Sterility", mostrou que gestantes com histórico de endometrioma de ovário
(cistos de endometriose nos
ovários, que podem ser identificados por meio de um ultrassom transvaginal), têm o dobro
de chances de dar à luz um bebê
prematuro ou com baixo peso.
"Estudos mostram que o endométrio [revestimento interno do útero] é frequentemente
anormal em casos de parto prematuro e, recentemente, que a
endometriose de ovário e essa
anormalidade andam juntas",
disse à Folha o autor principal
da pesquisa, David Healy, da
Monash University.
A relação é nova, afirma
Healy. Entre as hipóteses para
a prematuridade do parto relacionada à endometriose, está a
má-formação da placenta. Alterações no endométrio dificultariam a implantação correta da placenta no útero e seu
bom desenvolvimento durante
a gestação.
Outra possibilidade está relacionada às reações inflamatórias decorrentes da doença.
Processos inflamatórios, de
modo geral, podem estimular
contrações uterinas e antecipar o parto. Ainda não é possível, no entanto, descrever como esses mecanismos interagem na gravidez.
A pesquisa não encontrou
relação estatisticamente significante ao analisar outros tipos
de endometriose. Entretanto, a
forma mais severa da doença,
chamada de profunda (que
chega a invadir o intestino, a
bexiga e ligamentos), também
pode estar associada ao parto
prematuro, já que a endometriose de ovário associada a dor
pode ser um sinal da existência
da doença mais severa, de acordo com trabalhos científicos
recentes.
Alerta
Os resultados do estudo australiano servem de alerta aos
especialistas.
"Em tese, o profissional deve
ter a endometriose como uma
das preocupações importantes,
pois é uma doença prevalente.
Com estudos mostrando a
questão da prematuridade, pode ser que a paciente que sofre
de endometriose deva ser
acompanhada mais de perto
durante toda a gravidez", afirma o ginecologista Maurício
Abrão, responsável pelo Setor
de Endometriose da Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Em alguns casos, é possível
recomendar às pacientes que
reduzam o intervalo entre as
consultas e que permaneçam
mais tempo em repouso. Além
disso, medicamentos que evitem contrações uterinas podem ser receitados.
Outros riscos
Estima-se que de 10% a 15%
das mulheres em idade fértil
sofram de endometriose. A
doença se caracteriza pelo crescimento desordenado de células do endométrio fora da cavidade uterina. Focos do tecido
podem se desenvolver nas cavidades abdominal e pélvica, nos
ovários, na bexiga e no intestino, por exemplo.
Ocorrem, em alguns casos,
reações inflamatórias, que causam cólicas menstruais severas, dor entre as menstruações
e durante a relação sexual e alterações intestinais e urinárias
-a mulher pode sentir dor durante a evacuação ou ao urinar.
Além disso, a paciente pode observar mudanças de padrão durante a menstruação.
A endometriose também tem
sido associada a infertilidade e
aborto no primeiro trimestre
de gravidez.
"Isso pode ocorrer por alterações imunológicas do organismo ou pela obstrução da
trompa. O problema pode ser
na fecundação, só no óvulo ou
no espermatozoide e, ainda, na
nidação [fixação do óvulo fecundado no útero]. Mas é tudo
uma colcha de retalhos de pesquisa", afirma o ginecologista
Carlos Alberto Petta, responsável pelo Setor de Endometriose
do Centro de Atenção Integral
à Saúde da Mulher da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas).
O maior risco de abortamento está relacionado à produção
insuficiente de progesterona
pelo organismo, hormônio
mantenedor da gravidez, relacionado à nutrição do feto e ao
relaxamento da musculatura
uterina. Depois da 12ª semana,
no entanto, o risco cessa: a placenta passa a produzir o hormônio a partir dessa fase.
As causas da doença são, geralmente, multifatoriais, como
tendência familiar e genética,
fatores imunológicos e hormonais e qualidade de vida. "O
problema tem a ver com alterações imunológicas e hormonais, o que também está relacionado com o dia-a-dia da paciente", diz Petta.
Sem cura, a endometriose
pode ser controlada por meio
de cirurgia ou medicamentos,
que também amenizam as dores e outros desconfortos.
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