São Paulo, sábado, 02 de julho de 2011

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Transplante aumenta risco de ter câncer

Novo estudo americano relaciona cirurgia do coração à probabilidade de o paciente desenvolver tumores de pele

O estímulo para a formação de tumores ocorre por causa do uso de drogas imunossupressoras

RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON

O risco de um paciente de transplante de coração ter câncer de pele é pelo menos quatro vezes maior do que o de uma pessoa que não tenha passado por esse tipo de cirurgia, aponta estudo.
Em casos onde há mais fatores negativos envolvidos, como possuir pele clara e consumir cigarros, o risco pode ser até 30 vezes maior.
As conclusões saíram de um levantamento que acompanhou a saúde de 6.271 transplantados em 32 centros médicos nos EUA.
Dez anos após terem passado pela operação, 15% dos pacientes haviam exibido pelo menos um tumor de pele.
O estudo, liderado pelo dermatologista Murad Alam, da Universidade Northwestern, de Chicago, confirmou uma tendência já observada em estudos menores, mas que vinha sendo questionada por alguns médicos com base em relatos episódicos.
O estímulo ao surgimento de tumores ocorre por causa do uso de drogas imunossupressoras, que ajudam os médicos a combaterem a rejeição do órgão implantado pelo organismo do paciente.
Tais remédios fazem com que o sistema imune deixe de atacar o novo órgão e pare de "achar" que é um estranho.
"O problema é que o sistema imune não combate apenas infecções, mas também as colônias de células malignas [tumorais]" explica Alam. "Então, é de se esperar que drogas imunossupressoras aumentem o risco de câncer. Em alguns tipos de câncer, porém, como leucemias, linfomas e câncer de pele, o risco aumenta mais do que o esperado. Não sabemos com clareza por quê."
Mesmo sem responder a essa questão, o novo estudo conseguiu dar credibilidade à ligação estabelecida entre imunossupressores e câncer de pele. Segundo os médicos que assinam o trabalho, pesquisas menores sobre o assunto que já haviam sido publicadas, mas não convenceram a comunidade médica sobre a extensão do risco.
"Relatos esparsos mais recentes estavam sugerindo que a incidência de câncer de pele associado a transplantes seria menor do que se achava", afirma o novo estudo, publicado na revista "American Journal of Transplantation".

EQUILÍBRIO DELICADO
Segundo Alam, o perfil dos pacientes traçados no novo trabalho deve ajudar os médicos a administrar melhor o tratamento de pacientes que passam pelo transplante, combatendo a rejeição do órgão sem piorar o câncer.
Em casos extremos, médicos poderiam reduzir a dose de imunossupressores, algo raramente feito.
"No caso de pacientes que desenvolvem lesões tumorais cada vez maiores e mais agressivas, os dermatologistas lançam mão dos seus próprios recursos para removê-las e tratá-las agressivamente", conta Alam.
"Mas, se eles veem que não é suficiente, e o paciente se encontra em alta probabilidade de ter uma metástase, o risco de ele morrer por esse problema pode ultrapassar o risco de ele morrer por rejeição do órgão. Nesse caso, o dermatologista tem de chamar o médico do transplante para conversar."


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