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Hipertensão não controlada pode gerar deficit cognitivo
Aumento na pressão arterial prejudica capacidades de memória, foco e atenção
Pesquisa avaliou 20 mil pessoas com mais de 45 anos; problema pode ser sentido antes da velhice e levar à demência no futuro
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Pessoas com hipertensão arterial descontrolada têm mais
riscos de desenvolver deficit
cognitivo e demência no futuro
do que aquelas com a pressão
normal, aponta trabalho publicado na revista "Neurology".
O estudo, da Universidade do
Alabama, envolveu cerca de 20
mil pessoas com mais de 45
anos e também idosos que nunca tinham sofrido AVC (acidente vascular cerebral) ou pequenas isquemias silenciosas (microinfartos que atingem áreas
não vitais do cérebro).
Os resultados foram ajustados para outros fatores de risco
que poderiam afetar as habilidades cognitivas, como idade,
tabagismo e diabetes.
Segundo a pesquisa, para cada aumento de dez pontos na
leitura da pressão arterial diastólica (o número de baixo da relação), os riscos de problemas
cognitivos e de perda de memória crescem 7%. É considerado
hipertensão quando os níveis
de leitura são iguais ou maiores
do que 140 por 90.
O neurologista Gabriel Rodriguez de Freitas, coordenador do Departamento Científico de Doenças Cerebrovasculares da Academia Brasileira de
Neurologia, diz que a hipótese
mais provável que explica a relação é a ocorrência cumulativa
dos microinfartos cerebrais.
A pessoa com hipertensão
descontrolada pode sofrer até
centenas de pequenos infartos
cerebrais e não apresentar nenhum sintoma, pois eles atingem áreas silenciosas.
O entupimento faz com que o
sangue deixe de circular nessas
regiões, matando neurônios.
"Quando a pessoa envelhecer e
a reserva de neurônios for menor, perceberá o comprometimento neurológico."
O mecanismo que leva ao deficit cognitivo é o mesmo que
leva ao AVC. "Todo mundo teme o AVC, mas antes de ele
ocorrer os microinfartos já podem gerar problemas cognitivos", diz a psicóloga Danielle da
Costa, da equipe de neuropsicologia do Hospital da PUC de
Porto Alegre.
A psicóloga participou de um
estudo apresentado no último
congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão, que ocorreu no início do mês em Belo
Horizonte, que mostrou que hipertensos com idade média de
40 anos tiveram pior desempenho em testes de memória e
função executiva do que as pessoas do grupo controle.
Funções executivas consistem, por exemplo, em manter o
foco e a atenção, e a memória
mais afetada é a verbal.
Costa diz que nem sempre os
cardiologistas levam em conta
os problemas cognitivos. "Os
pacientes chegam ao neurologista quando o deficit é intenso,
mas o ideal é identificar o problema cedo, para prevenir consequências piores", diz. Além
do controle da hipertensão,
programas de reabilitação neuropsicológica podem ajudar.
Gravidade
A gravidade e a proporção
das pequenas isquemias têm
reflexo direto na perda cognitiva. Outro levantamento, publicado em julho no "British Medical Journal", avaliou 639 pacientes e dividiu em três graus
os microinfartos cerebrais (leve, moderado e grave).
Após três anos, os pesquisadores constataram que pacientes com grau mais alto da isquemia silenciosa têm 40% mais
risco de evoluir para demência.
"Além disso, os pacientes que
não tratam a hipertensão evoluem muito mais rápido e mais
gravemente para a demência",
afirma o neurologista Gabriel
de Freitas.
De acordo com o cardiologista Marcos Knobel, coordenador da Unidade Coronariana do
Hospital Israelita Albert Einstein, os resultados do estudo
americano reforçam a importância do controle da pressão
para prevenir as doenças cardíacas e também neurológicas.
"A gente conhecia a relação
da hipertensão com o risco de
problemas na memória, mas
não sabíamos quantificar. Esse
é o primeiro grande estudo epidemiológico que demonstra
exatamente o tamanho do risco
em pacientes que não controlam a pressão", avalia.
Para Freitas, todo mundo deveria medir a pressão com frequência para poder detectar o
problema o quanto antes. "Não
adianta controlar só a pressão
do idoso, pois os microinfartos
acontecem ao longo da vida."
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