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"Eletrochoque" é mais eficaz contra depressões graves
Método recuperou 70% dos pacientes, enquanto drogas antidepressivas tiveram 30% de êxito, diz psiquiatra
Preconceito se deve a mau uso no passado, dizem especialistas; efeitos colaterais vão
de náusea a amnésia
GUILHERME GENESTRETI
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA
No imaginário popular,
eletrochoque é aquela antiga
tortura usada contra pacientes psiquiátricos.
Na psiquiatria, "eletrochoque" é o sinônimo politicamente incorreto de eletroconvulsoterapia, "o antidepressivo mais poderoso que
existe", segundo Harold Sackheim, professor da Universidade Columbia (EUA).
Sackheim, que é americano e participou do Congresso
Brasileiro de Psiquiatria encerrado sábado em Fortaleza, disse que 70% dos pacientes com quadros de depressão grave se recuperaram com eletrochoques. Já a
taxa de de sucesso com antidepressivos, nesses casos,
não ultrapassou 30%.
"Metade dos pacientes que
eu tratei já tentou se matar e
eles acabaram se recuperando", disse à Folha o professor de psiquiatria.
Segundo o brasileiro
Moacyr Rosa, também pesquisador da Columbia, o preconceito contra o método
vem de seu mau uso no passado, quando era aplicado
sem anestesia e para qualquer coisa. "A eletroconvulsoterapia acompanhou a
evolução da medicina e hoje
suas aplicações são muito
mais seguras."
INDICAÇÕES
Se antes havia um uso indiscriminado dessa terapia,
hoje os especialistas só a recomendam para casos em
que o paciente não responde
aos medicamentos ou quando a depressão é severa.
"Se os sintomas forem
muito intensos, a ponto de
causarem estupor ou grandes prejuízos às atividades
profissionais e ao relacionamento, temos um caso grave
de depressão", explica o psiquiatra José Alberto Del Porto, da Unifesp.
As sessões de 20 minutos
são feitas três vezes por semana, por um mês.
O paciente recebe anestesia geral. Os eletrodos induzem uma corrente elétrica no
cérebro que provoca a convulsão, alterando os níveis
de neurotransmissores e
neuromoduladores como a
serotonina e a dopamina.
AMNÉSIA
Apesar de exaltarem a eficácia do método, os especialistas reconhecem que a terapia por convulsão elétrica
causa efeitos colaterais que
variam da náusea até a perda
de parte da memória.
Segundo Del Porto, é comum o procedimento causar
perda transitória da capacidade de memorização. "Depois de duas ou três semanas, tudo volta ao normal. Já
os casos de perda das recordações costumam ser raros".
Segundo Rosa, esses desconfortos são o foco atual das
pesquisas. "A ideia hoje é diminuir a incidência desses
efeitos colaterais."
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