São Paulo, quarta-feira, 02 de dezembro de 2009

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Estigma da Aids é mais prejudicial

Soropositivos perdem emprego e têm piora financeira, mas maioria declara boas condições clínicas, diz estudo

Especialistas afirmam que, com a melhora das terapias, transtornos psicológicos podem levar o paciente a se afastar de seu trabalho


Danilo Verpa/Folha Imagem
Seis bolhas com cincometros de diâmetro e laços vermelhos no interior foram instaladas no rio Pinheiros, entre as pontes Cidade Jardime Estaiada; a Secretaria de Estado da Saúde prorrogou até o dia 15 a campanha de incentivo à detecção precoce do HIV

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Embora o tratamento esteja cada vez mais avançado, o diagnóstico de HIV afasta as pessoas do trabalho e prejudica os pacientes com o vírus. A constatação é de uma pesquisa feita pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e divulgada ontem pelo Ministério da Saúde.
Foram entrevistados 1.260 soropositivos que tomam antirretrovirais. Eles representam todo o universo da população em tratamento contra Aids.
Um dos resultados mais importantes do levantamento foi o contraste entre as condições clínicas dos pacientes e o prejuízo decorrente do diagnóstico para a vida social.
A maior parte dos pacientes (65%) declarou se sentir em boas ou ótimas condições de saúde, índice até maior do que na população em geral (53%).
Apesar disso, 36,5% relataram que a situação financeira piorou após o diagnóstico e 20% disseram ter perdido o emprego. Conclusão: o estigma da doença é, hoje, mais prejudicial do que as condições clínicas decorrentes dela.
Infectologistas ouvidos pela Folha afirmam que, com a evolução do tratamento da Aids, a doença não faz com que a pessoa perca a capacidade de trabalho. "O que pode estar acontecendo é que algumas pessoas requerem aposentadoria ou afastamento em função do transtorno psíquico", afirma o infectologista da Unifesp Ricardo Sobhie Diaz.
Outra explicação está na discriminação por causa da doença. "Muitos pacientes me dizem que existe preconceito e têm medo de que o convênio médico mande o resultado de exames para a empresa", conta Rosana del Bianco, infectologista do Instituto Emílio Ribas.
O maior grupo de homens que deixaram de trabalhar é o dos que pediram aposentadoria por doença. Segundo ela, isso ocorria em quase todos os casos antigamente, mas hoje é raro.
De acordo com Célia Landmann, coordenadora da pesquisa, outra explicação pode estar relacionada ao receio dos pacientes de se exporem: como precisam se ausentar para pegar medicamentos e ir a consultas médicas, pessoas com Aids acabam deixando o trabalho para não dizerem que têm um problema de saúde.
Veriano Terto, coordenador-geral da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids), reclama que as empresas não têm uma política em relação à Aids, de garantir o respeito à privacidade. "Quando a pessoa que descobre o vírus já desenvolveu a doença, é muito difícil, porque ela vai ter que se afastar e pelo menos o pessoal do RH vai ficar sabendo", diz.
Outro indicador do estigma social da Aids é o fato, apontado pela pesquisa, de 17% dos pacientes não terem contado aos seus familiares que são portadores do vírus e de 33% não terem falado aos amigos.
Apesar do preconceito, a maioria dos pacientes tem uma avaliação boa dos serviços médicos oferecidos pelo SUS. Por outro lado, eles avaliam como "regular" o acesso aos medicamentos e o tempo de espera.
Com base nos dados da pesquisa, o ministério lançou uma campanha com o slogan "Viver com Aids é possível. Com o preconceito, não". Uma das principais peças é um vídeo em que um rapaz soropositivo dá um beijo em uma garota sem o vírus. Transmitido por via sexual, o HIV não passa de uma pessoa para outra pela saliva.


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