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Soropositivos morrem mais de doença do coração do que de Aids
Pacientes não recebem cuidados em relação a outros problemas de saúde, revela estudo inédito
Trabalhos recentes mostram associação entre drogas usadas por portadores do HIV e riscos cardiovasculares
GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO
Portadores do vírus HIV
estão morrendo mais de
doenças como infarto, diabetes e câncer do que de causas
diretamente ligadas à Aids.
Novos dados mostram um
aumento desproporcional de
doenças cardiovasculares e
diabetes como causa de óbito
em pessoas com HIV em relação à população sem o vírus.
Estudo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro revelou que, no hospital da
universidade, causas não associadas à Aids já ultrapassaram as ligadas à doença.
"Tudo leva a crer que, se
essa ainda não for uma realidade em todo o país, em breve será", afirma Mauro
Schechter, chefe do laboratório de pesquisas em Aids do
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um dos líderes desse
novo trabalho.
A equipe coordenada por
ele também publicou um estudo que avaliou os índices
de mortalidade em pacientes
com e sem o vírus, a partir de
dados de todas as certidões
de óbito brasileiras ao longo
de cinco anos.
Segundo a pesquisa, a
mortalidade por Aids caiu
entre 1996 (ano em que o Brasil se tornou o primeiro país
em desenvolvimento a fornecer acesso universal aos antirretrovirais) e 1999, e desde
então se mantém estável.
OUTRAS CAUSAS
No entanto, nos portadores do HIV, a mortalidade por
outras causas, como doenças
cardiovasculares, diabetes,
câncer e doenças do fígado
ou dos rins, subiu quase 8%
ao ano. Já entre os não portadores do vírus, esse aumento
não chegou a 3%.
No caso específico das
doenças do coração, houve
um aumento de quase 8% ao
ano entre os soropositivos,
contra apenas 0,8% na população em geral.
Segundo especialistas, a
queda na mortalidade se deu
com o acesso à terapia dos
antirretrovirais. Mas os soropositivos não estão recebendo atenção médica para monitorar outras doenças.
Esse dado foi corroborado
por uma pesquisa inédita, divulgada no último congresso
internacional sobre Aids,
realizado na Áustria.
"O sistema de saúde não
aproveita a oportunidade para tratar esse paciente como
um todo", critica Schechter.
O levantamento divulgado
no congresso ouviu mais de
2.000 pacientes em 12 países,
Brasil incluído, para identificar como o portador do vírus
vê sua infecção e traçar um
perfil de sua relação com médicos e sistema de saúde.
Um terço dos entrevistados foi enquadrado no perfil
considerado de alto risco cardiovascular - mas 65% deles
não estavam tratando seus
fatores de risco para problemas cardíacos.
Além disso, 44% dos fumantes nunca discutiram
com seus médicos as implicações do hábito para a saúde. Para piorar, sabe-se que
há uma associação entre algumas drogas usadas por
portadores do HIV e doenças
cardiovasculares.
"O que mais chama a atenção é a baixa porcentagem de
pacientes que discutem com
seus médicos fatores como
tabagismo, excesso de peso,
entre outros", diz Schechter,
coordenador do estudo no
Brasil. "É como se os médicos
apenas vissem um vírus a ser
tratado naquele paciente."
"Estamos começando a conhecer os efeitos do vírus e
dos remédios a longo prazo.
Esses pacientes estão envelhecendo e as exigências da
doença mudaram. Agora precisamos nos adaptar a isso",
completa o infectologista Esper Kallás, da Universidade
de São Paulo.
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