São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2011

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China passou da privação à gula exagerada em duas gerações

Cinturas da classe média emergente estão em expansão no país

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Na celebração do Ano-Novo chinês, anteontem, jantei na casa dos pais de um amigo. Havia cinco pessoas à mesa, mas o banquete, com 15 pratos, encheria facilmente outros cinco estômagos.
No centro da mesa havia uma montanha de bacon com canela e alho: "Porco Cozido ao Estilo da Família Mao", explicou o anfitrião, um bancário de 49 anos.
"Antes, só o Mao podia comer esse prato, o país era pobre. Quando eu era criança, havia racionamento."
Os terríveis anos sob a era Mao, que mataram de fome até 30 milhões entre 1959 e 1961, são uma amarga lembrança, hoje, para a segunda economia mundial. O problema agora é o exagero.
A rápida deterioração dos hábitos alimentares chineses é o tema de "Fat China: How Expanding Waistlines are Changing a Nation" (China gorda: como as cinturas em expansão estão mudando uma nação), de Paul French e Matthew Crabbe.
O livro mostra que a obesidade cresce entre jovens urbanos e membros da classe média, o que tende a se agravar com a contínua migração do campo para a cidade.
"Adoraria colocar a culpa só no McDonald's. Infelizmente, não posso", disse o britânico French, em entrevista a um site. "Os tamanhos da porções estão maiores, as pessoas petiscam batatas fritas e chocolate no lugar de sementes e frutas secas."
A urbanização tem levado os chineses a consumir comida pronta. "Isso acontece no Ocidente. Mas, como quase tudo na China, aqui ocorre mais tarde e com velocidade maciça", afirmou French.
O livro analisa ainda a geração dos mimados filhos únicos, frutos do controle de natalidade. "Há muito gasto por criança. É compreensível. Em certo sentido é uma conquista, é passar da fome à gula em duas gerações."


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