São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Quimioterapia depois dos 35 anos deixa 60% das mulheres inférteis

Estudo americano mapeou o impacto do tratamento contra o câncer segundo a faixa etária

Risco de não poder ter filhos é uma das maiores preocupações das mais jovens, ao lado do desejo da cura


Rodrigo Capote/Folhapress
Adriana Mendes Pinto, 34, em Santo André, grávida
após tratamento contra câncer


CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Mais da metade das mulheres que passam pela quimioterapia pode sofrer menopausa precoce ou infertilidade, revela uma nova pesquisa publicada na revista "Cancer".
Entre as mulheres avaliadas, 20% das que estavam na faixa dos 20 anos de idade ficaram inférteis. O mesmo ocorreu com cerca de 60% daquelas por volta dos 35 anos.
Ao atacar as células do tumor e evitar a sua proliferação, as drogas quimioterápicas também podem afetar as funções reprodutivas, por interferir na atividade das células dos óvulos.
Pesquisas anteriores já mostraram que o risco de infertilidade é uma das principais preocupações das mulheres jovens com câncer, ao lado do desejo de poder viver livre da doença.
No estudo, foram avaliados dados de 1.041 mulheres, entre 18 e 40 anos, que tiveram leucemia, linfomas de Hodgkin e não Hodgkin, tumores de mama e do sistema gastrointestinal.
Em mulheres que continuaram menstruando após a doença, a incidência de infertilidade aumentou conforme a idade depois do diagnóstico.
No linfoma de Hodgkin, por exemplo, a proporção de mulheres inférteis foi de 18% na faixa de 20 anos e de 57%, por volta dos 35 anos.

FALTA CONSENSO
Apesar do estudo, ainda não há um consenso sobre qual é o real impacto dos tratamentos quimioterápicos na fertilidade, porque isso depende do tempo e da quantidade de drogas usadas.
"A intensidade do tratamento é o que vai determinar os danos à fertilidade. As mulheres são afetadas de formas diferentes. Não dá para prever quem terá ou não problemas para engravidar", diz a oncologista clínica Solange Moraes Sanches, do Hospital A.C. Camargo.
O principal autor do estudo, o médico norte-americano Joseph Letourneau, também vê a limitação do trabalho e reforça a necessidade de mais estudos que se concentrem nas características individuais das pacientes.
"Os médicos ainda se apoiam em resultados de curto prazo. Em geral, essas avaliações jogam os riscos [de infertilidade] para baixo. E nós sabemos que essas mulheres podem sofrer de infertilidade ou menopausa precoce até décadas após o tratamento."

PRESERVAÇÃO
O que especialistas podem afirmar é que a gravidez, na maioria dos casos, não piora o prognóstico da doença.
Anos atrás, imaginava-se que as alterações hormonais do período da gestação pudessem desencadear uma recidiva do câncer.
"Agora, como as taxas de cura e de sobrevida são maiores, essas mulheres querem ter a possibilidade de ser mães no futuro", diz Sanches.
Mesmo assim, diz o ginecologista Eduardo Motta, professor da Unifesp, poucos oncologistas encaminham suas pacientes para programas de preservação da fertilidade.
As opções são o congelamento de tecido ovariano, de óvulos ou de embriões.
Mas há limitações. "Não temos ainda uma boa tecnologia. O congelamento de tecido não emplacou e nem sempre a mulher produz, em um único ciclo, óvulos suficientes e de boa qualidade para o congelamento", diz Motta.
A taxa de gravidez com óvulo congelado é de 10% a 20%, dependendo da idade da mulher. Em geral, após o tratamento de câncer, espera-se de seis meses a cinco anos, dependendo do tipo e do estágio do tumor.


Próximo Texto: 'Depois de tanta dor, mal posso esperar pelo bebê'
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.