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Aumenta índice de artrite reumatóide em mulheres
Após 4 décadas caindo, taxa de afetadas foi de 36 para 54 em cada 100 mil por ano
Motivos de aumento são desconhecidos, mas são citados fatores ambientais como tabagismo; estudo foi feito na Clínica Mayo (EUA)
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de diminuir por quatro décadas, a incidência de artrite reumatóide está subindo
entre mulheres nos EUA. A
descoberta foi apresentada por
pesquisadores da Clínica Mayo
no último encontro anual do
Colégio Americano de Reumatologia, que ocorreu de 24 a
29/10, em São Francisco.
Comparado à década anterior, quando aproximadamente
36 em cada 100 mil mulheres
desenvolviam artrite reumatóide a cada ano, de 1995 a 2005
esse índice passou para 54 em
cada 100 mil. A incidência entre os homens continuou de 29
para cada 100 mil -mulheres
são mais suscetíveis, ainda não
se sabe por quê. A porcentagem
da população com a doença foi
de 0,85% para 0,95%.
Os cientistas não sabem os
motivos para o crescimento,
mas apostam em fatores ambientais. O fumo, por exemplo,
aumenta o risco da doença.
Também se pesquisam se agentes infecciosos poderiam ter relação. "Infecções podem estimular o sistema imune, e a artrite tem a ver com uma desordem desse sistema. Mas não há
um agente específico tido como
desencadeador", diz José Carlos Szajubok, presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia. Trata-se de uma doença
auto-imune -quando as células de defesa agem contra o
próprio organismo.
Para ele, outro fator ambiental que pode ajudar a explicar
os dados é o estresse -tido como possível gatilho para o problema, de causa desconhecida.
Segundo os cientistas da Mayo, são necessários mais estudos para entender o fenômeno
-assim como as causas e os tratamentos dessa doença "devastadora". O problema pode levar
a inflamação das articulações,
rigidez, dor, lesões irreversíveis
nos ossos e deformidades.
Diagnóstico precoce e tratamento correto reduzem danos,
mas não há cura.
A melhora no diagnóstico é,
aliás, outra provável explicação
para os números da pesquisa,
diz Szajubok. O que haveria,
portanto, é uma maior detecção da doença, e não um aumento. "Hoje temos um novo
exame, o anti-CCP, que detecta
sinais da doença precocemente." Sílvio Figueira Antonio,
reumatologista do Hospital do
Servidor Público Estadual, cita
também exames de imagem como a ressonância magnética de
extremidades, que identifica
inflamações articulares e alterações ósseas antes do raio-X.
Gustavo Costa, reumatologista do Hospital de Base de
Brasília, acredita que é preciso
cautela ao extrapolar os dados
para o Brasil, pois um estudo
mostrou que há diferenças nas
características da artrite reumatóide na América Latina em
relação aos países ricos. "Não
sabemos o porquê, mas, enquanto se diz que a doença afeta de três a quatro mulheres para cada homem, na nossa população afeta oito. E parece que,
se o pico da doença ocorre entre os 40 e os 50 anos nos EUA,
aqui ocorre entre os 30 e os 40."
Novo tratamento
Segundo Geraldo Castelar
Pinheiro, professor de reumatologia da UERJ (Universidade
Estadual do Rio de Janeiro),
uma questão que dificulta o
diagnóstico precoce é que muita gente acaba tomando remédios apenas para aliviar os sintomas e não busca um médico a
tempo. "A pessoa acha que toda
"dor nas juntas" é reumatismo e
fica se tratando com o antiinflamatório indicado pelo vizinho.
Na verdade, reumatismo não é
uma doença específica. A artrite reumatóide é só um dos mais
de 120 tipos de reumatismo."
Hoje, o tratamento mais novo é com os remédios biológicos -tido como um grande
avanço, mas com a desvantagem do custo, que chega a R$ 10
mil mensais. Há três classes
desses medicamentos no Brasil, mas, também no encontro
do ACR, foi apresentado o primeiro de uma quarta classe, o
tocilizumab, da Roche. Ele atua
inibindo a interleucina 6, substância produzida em excesso
por pessoas com artrite.
Segundo Szajubok, pode ser
uma boa opção para quem não
responde aos tratamentos
atuais. A Roche acredita que ele
seja aprovado no país em 2009.
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