São Paulo, terça-feira, 05 de janeiro de 2010

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Quimioterapia pode gerar insônia

Segundo estudo, 75% dos pacientes que passavam por esse tratamento tiveram problemas de sono

A pesquisa, feita com 823 pacientes, revelou que aqueles com menos de 50 anos de idade apresentaram mais alterações no sono

Leonardo Wen/Folha Imagem
O coordenador de vendas Rodolfo Bunduk, que teve câncer de pulmão e notou piora no sono após começar a fazer quimioterapia

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um trabalho feito com 823 pacientes que passaram por quimioterapia mostrou que alterações no sono (como insônia e sono não reparador) acometem 75% deles.
O estudo foi publicado no "Journal of Clinical Oncology" e revelou que pessoas com menos de 50 anos de idade apresentaram mais problemas.
Os cientistas não apontaram os mecanismos que levam ao problema. Porém, outros trabalhos mostram relação entre a químio e alterações no ritmo circardiano (ciclo de 24 horas de vigília e sono), como o publicado em setembro na revista "Sleep", que avaliou 95 mulheres com câncer de mama.
Para o oncologista Aldo Lourenço Dettino, do Hospital A.C. Camargo, o próprio diagnóstico da doença já pode trazer alterações no sono do paciente. "Por causa da ansiedade, antes mesmo do tratamento o paciente já pode ter dificuldade para dormir", afirma.
A pessoa que sofre de insônia deve avisar o médico e tratar o problema o quanto antes. "Acreditamos que a insônia pode se tornar crônica para muitos pacientes após o fim do tratamento. Por isso, é importante tentar preveni-la ou tratá-la", disse à Folha a responsável pelo estudo, Oxana Palesh, da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.
O oncologista pode indicar alguns medicamentos específicos, analgésicos e antidepressivos, com o auxílio de especialistas em medicina do sono.
"Se a população normal dorme menos por qualquer razão, a falta do sono diminui o funcionamento do sistema imune. Para quem está em quimioterapia, tratar o sono dá qualidade de vida, conforto, diminui a dor e permite que o sistema imune funcione melhor", explica o neurologista Flávio Alóe, do Centro Interdepartamental para os Estudos do Sono do Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo.
O coordenador de vendas Rodolfo Bunduk, 59, que teve câncer de pulmão, afirma que sempre dormiu bem até iniciar as sessões de quimioterapia. "Percebi uma grande mudança no sono com o início do tratamento. Demorava para dormir e, quando acordava no meio da noite, só conseguia retomar o sono uma hora e meia depois."
O médico lhe indicou remédios para dormir, mas ele parou de usá-los. "Não queria ficar dependente e percebia que acordava pouco disposto", diz.
Agora, Rodolfo se submete a sessões mais curtas de quimioterapia e dorme melhor. "Mas o sono não é tão bom quanto o que eu tinha."


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