São Paulo, quinta-feira, 05 de março de 2009 |
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HC cria projeto para aliviar a dor infantil
Hospital de Ribeirão Preto desenvolve, em parceria com o Canadá, programa que padroniza tratamento de crianças internadas
CLÁUDIA COLLUCCI DA REPORTAGEM LOCAL O Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto criou um programa inédito no país para identificar, avaliar e tratar a dor infantil. O projeto será desenvolvido em parceria com um grupo canadense, referência mundial no manejo da dor na infância e na adolescência. Estudos têm demonstrado que os médicos subestimam e não tratam de forma correta a dor das crianças, especialmente a dos bebês. No ano passado, uma pesquisa britânica monitorou a atividade cerebral de recém-nascidos e concluiu que eles demonstram a dor não só quando choram mas também quando dobram os pés e pernas, arqueiam as costas e esticam os dedos, por exemplo. Expressões faciais, como caretas, olhos espremidos e testa franzida, também são sinais de que os bebês estão sentindo dor. Os pesquisadores também demonstraram, por meio das imagens cerebrais, que alguns bebês prematuros tinham reações cerebrais associadas à dor, mas não a expressavam por meio de respostas físicas. No Brasil, vários hospitais avaliam e tratam a dor por meio de protocolos internacionais, mas a maioria das iniciativas é isolada e não consegue integrar todas as áreas médicas. Não há um programa nacional que padronize as rotinas e dê treinamentos às equipes de saúde. O projeto desenvolvido no HC de Ribeirão visa justamente mudar esse panorama. Segundo Maria Beatriz Linhares, professora da Faculdade de Medicina da USP-Ribeirão, o projeto pretende integrar todas as áreas do HC que atendem crianças e estabelecer uma linguagem única na identificação e tratamento da dor. "Várias áreas do HC avaliam e tratam a dor, mas é preciso estabelecer uma articulação entre elas, manter uma avaliação sistemática com instrumentos adequados a cada tipo de dor." Linhares explica que há diferentes tipos de dor, que podem estar relacionados à própria enfermidade ou aos procedimentos médicos. "A criança sofre duplamente, com a enfermidade e com a dor aguda dos procedimentos." O projeto do HC tem como parceiro o médico canadense Gordon Allen Finley, referência mundial na área da dor. Ele já desenvolveu projetos semelhantes na Jordânia, na China e na Tailândia. Os recursos iniciais do projeto vieram de uma agência de fomento canadense. Atualmente, está sendo feito um retrato (com questionários) de como a dor infantil é tratada no HC e em outros hospitais da cidade, sob o ponto de vista dos profissionais de saúde, das crianças e dos pais. "Precisamos conhecer de perto como a dor é tratada hoje para propor mudanças. Todo profissional de saúde sempre teve no alívio da dor o principal objetivo. Mas, com tanta tecnologia, nos distraímos um pouco em relação a isso", afirma o neurologista José Geraldo Speciali, coordenador do ambulatório de cefaleia do HC e um dos coautores do projeto. Speciali diz que a dor não tratada corretamente fica marcada no inconsciente da criança e cria situações que se manifestam na fase adulta. Recém-nascidos Maternidades que têm tradição em programas para minimizar a dor do recém-nascido, como a Pro Matre/Santa Joana, adotam uma série de medidas para evitar a dor e o estresse nos recém-nascidos, entre elas, manipular o mínimo o bebê e concentrar todos procedimentos em um só horário. Outra prática, segundo Silvana Darcie Maccagnano, uma das médicas responsáveis pela UTI neonatal do Santa Joana, é a hora do "psiu", um momento de descanso em que fica proibido mexer no bebê -a não ser em casos de emergência. Segundo a neonatologista Rita Balda, médica-assistente da Universidade Federal de São Paulo, um dos grandes desafios hoje no país é conseguir detectar e tratar a dor do recém-nascido. "Os médicos ainda temem dar analgésicos ao bebê. Mas os riscos são minimizados quando há treinamento e essas drogas são bem utilizadas." Próximo Texto: Frase Índice |
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