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Excesso de raios-X expõe pacientes a risco
Brasileiros recebem mais doses de radiação em exames desnecessários, mostram cinco estudos feitos em hospitais
Especialistas criam comissão para tentar aumentar o nível de segurança em radio, tomo e mamografias
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Pacientes brasileiros estão
sendo expostos sem necessidade à radiação em exames
de raios-X e tomografias.
A constatação é de pelo
menos cinco estudos publicados nos últimos anos na revista científica "Radiologia
Brasileira", que reúnem dados de hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Paraná e Pernambuco.
Segundo os pesquisadores, as razões vão desde um
maior número de exames feitos sem necessidade a equipamentos radiológicos descalibrados e funcionários
mal treinados sobre a dose de
radiação mais adequada.
O problema é global e afeta principalmente países
com níveis elevados de tratamento de saúde, segundo relatório da ONU divulgado no
mês passado em Genebra.
Anualmente são feitos 3,6
bilhões de radiografias no
mundo, um aumento de 40%
em relação à ultima década.
Em muitos países, a exposição radiológica médica já supera os casos de exposição
por fontes naturais (radiação
solar, por exemplo).
Radiologistas e físicos ouvidos pela Folha dizem que o
Brasil segue a mesma tendência de aumento, mas não
há estatísticas sobre o nível
de exposição radiológica a
que o paciente é exposto durante os exames.
Os poucos estudos referem-se a serviços de saúde
isolados e usam diferentes
metodologias.
Também são isoladas as
iniciativas para se reduzir as
doses de radiação. "Eu posso
fazer uma tomografia de tórax com uma dose de 20 ou
uma dose de 10 e chegar ao
mesmo diagnóstico", diz
Marcos Menezes, diretor da
radiologia do Instituto do
Câncer e do Sírio-Libanês.
Segundo ele, cada perfil de
paciente (gordo, magro) exige uma dose diferente de radiação. "Mas muitos serviços
adotam protocolos de doses
altas porque, quanto maior a
dose, melhor é a imagem."
O CBR (Colégio Brasileiro
de Radiologia) acaba de criar
sua primeira comissão de radioproteção, que vai elaborar
diretrizes sobre o nível radiológico adequado em diferentes exames de imagem.
"É preciso difundir entre
os médicos e a população
que os exames que envolvem
radiação ionizante só devem
ser pedidos em caso de real
necessidade", diz Sebastião
Mendes Tramontin, presidente do CBR.
DOSES DE RADIAÇÃO
A medida tem apoio da
Aiea (Agência Internacional
de Energia Atômica), que coleta dados no país sobre as
doses de radiação recebidas
por pacientes em mamografias, radiologias pediátricas,
de tórax e intervencionistas.
A exposição a níveis altos
de radiação pode causar de
lesões graves (queimadura e
queda de cabelo) à morte.
Mas isso dificilmente ocorre
em um exame radiológico.
Outra possibilidade são os
chamados efeitos estocásticos, em que a probabilidade
de ocorrência de um câncer,
por exemplo, é proporcional
à dose de radiação recebida.
Porém, esses efeitos -que
constam na literatura internacional- foram calculados
a partir de dados obtidos com
a população sobrevivente de
Hiroshima. "Não sabemos
em que dose isso pode acontecer em um exame. Por isso,
diminuimos a dose ao menor
valor possível para reduzir o
risco", explica a física Helen
Khoury, da Universidade Federal de Pernambuco.
Khory acrescenta: "O risco
zero seria não fazer a imagem. Mas aí eu também não
tenho a imagem." Muitos estudos dizem que o corpo humano tem a capacidade de
restaurar o dano celular causado pela baixa radiação.
"Os benefícios obtidos
com os exames radiológicos
são superiores aos eventuais
riscos da exposição à radiação", afirma Tramontin.
Uma portaria do Ministério da Saúde estabelece os níveis máximos de exposição à
radiação para profissionais
de saúde, mas exclui pacientes que passam por procedimentos radiológicos -por
não existir um limite.
A boa notícia é que os novos tomógrafos já têm softwares que modulam a dose
da radiação de acordo com o
peso. "Assim, temos a certeza de que estamos usando a
menor dose possível", diz o
radiologista Márcio Garcia.
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