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País testa novo enxerto para pênis
Estudo avaliou tecido usado em cirurgia para doença de Peyronie, que leva à curvatura do órgão
Tela, retirada do intestino do porco, exige que seja realizado apenas um corte, diferentemente do enxerto de aorta, também utilizado
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Um estudo feito em oito centros brasileiros testou por três
anos, com sucesso, um enxerto
retirado da mucosa do intestino do porco para tratar doença
de Peyronie -caracterizada
pela formação de placas fibrosas no pênis, que levam a uma
curvatura do órgão na ereção.
Calcula-se que o problema
atinja cerca de 8% dos homens
com mais de 50 anos, apesar de
acometer também jovens. A
curvatura varia, mas pode causar dificuldades na relação sexual e chegar a até 90 graus.
O problema pode desaparecer sozinho -o que ocorre em
cerca de 15% dos casos, segundo o urologista Sidney Glina,
coordenador do estudo. Também podem ser receitados remédios, mas eles nem sempre
trazem um bom resultado.
Quando há prejuízo à qualidade de vida do paciente, pode ser
feita uma cirurgia, indicada para cerca de 30% dos casos.
Há dois tipos de operação: na
mais comum e mais simples,
reduz-se o lado sadio do pênis
para corrigir a curvatura, o que
encurta o órgão em cerca de 1
cm a 1,5 cm. Na outra técnica,
são colocados enxertos na placa
fibrosa -que podem ser de materiais como o pericárdio (revestimento do coração) do boi
ou a veia safena do paciente.
O enxerto testado no novo
estudo já é usado em outros
procedimentos, como para hérnias ou bexiga caída. Após a cirurgia, a curvatura do pênis
caiu de 65 graus para dez graus,
e quase 90% dos 36 pacientes
disseram que a penetração no
sexo ficou mais fácil. Ninguém
teve o pênis encurtado.
Segundo Glina, aparentemente houve menos rejeição
do que com outros enxertos. O
tecido do intestino suíno é biocompatível e forma uma espécie de rede na qual as células do
próprio paciente crescem.
No caso da safena, que também tem pouca reação imunológica, a desvantagem é ter que
se fazer uma segunda incisão,
na perna. "O enxerto de safena
tem bom resultado. O problema é que há dois cortes e tem
que ser tirado um trecho da safena do paciente. Se ele tiver
um problema cardíaco no futuro, não vai ter mais esse segmento para fazer a revascularização", diz Geraldo Faria, presidente da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual.
Para Marcelo Baptistussi,
urologista colaborador do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto, o menor tempo
cirúrgico é outra vantagem: o
procedimento é feito em duas
horas, uma a menos do que o da
safena. "A internação pode ser
mais curta também", completa.
Uma desvantagem é o custo:
enquanto a safena é retirada do
próprio paciente, o enxerto
custa em torno de R$ 1.800.
O preço é uma dos motivos
pelos quais o urologista Paulo
Egydio, doutor pela USP em
doença de Peyronie, acredita
que o enxerto de intestino suíno não seja uma boa opção. Para ele, em muitos casos ocorre
uma retração do tecido implantado, o que gera perda da correção. Ele diz que já reoperou pacientes que receberam esse enxerto e que a retração é mais
frequente quando se corrigem
curvaturas acentuadas. "Já utilizei esse material e não tive
bom resultado", afirma.
Para Geraldo Faria, porém, a
retração é até menor com esse
enxerto. Ele diz que é implantado um tecido 30% maior do
que a área a ser coberta para
prevenir o problema. Além disso, Faria utiliza um alongador
peniano para manter o enxerto
esticado até ser substituído pelas células do paciente.
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