São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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País testa novo enxerto para pênis

Estudo avaliou tecido usado em cirurgia para doença de Peyronie, que leva à curvatura do órgão

Tela, retirada do intestino do porco, exige que seja realizado apenas um corte, diferentemente do enxerto de aorta, também utilizado

FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Um estudo feito em oito centros brasileiros testou por três anos, com sucesso, um enxerto retirado da mucosa do intestino do porco para tratar doença de Peyronie -caracterizada pela formação de placas fibrosas no pênis, que levam a uma curvatura do órgão na ereção.
Calcula-se que o problema atinja cerca de 8% dos homens com mais de 50 anos, apesar de acometer também jovens. A curvatura varia, mas pode causar dificuldades na relação sexual e chegar a até 90 graus.
O problema pode desaparecer sozinho -o que ocorre em cerca de 15% dos casos, segundo o urologista Sidney Glina, coordenador do estudo. Também podem ser receitados remédios, mas eles nem sempre trazem um bom resultado. Quando há prejuízo à qualidade de vida do paciente, pode ser feita uma cirurgia, indicada para cerca de 30% dos casos.
Há dois tipos de operação: na mais comum e mais simples, reduz-se o lado sadio do pênis para corrigir a curvatura, o que encurta o órgão em cerca de 1 cm a 1,5 cm. Na outra técnica, são colocados enxertos na placa fibrosa -que podem ser de materiais como o pericárdio (revestimento do coração) do boi ou a veia safena do paciente.
O enxerto testado no novo estudo já é usado em outros procedimentos, como para hérnias ou bexiga caída. Após a cirurgia, a curvatura do pênis caiu de 65 graus para dez graus, e quase 90% dos 36 pacientes disseram que a penetração no sexo ficou mais fácil. Ninguém teve o pênis encurtado.
Segundo Glina, aparentemente houve menos rejeição do que com outros enxertos. O tecido do intestino suíno é biocompatível e forma uma espécie de rede na qual as células do próprio paciente crescem.
No caso da safena, que também tem pouca reação imunológica, a desvantagem é ter que se fazer uma segunda incisão, na perna. "O enxerto de safena tem bom resultado. O problema é que há dois cortes e tem que ser tirado um trecho da safena do paciente. Se ele tiver um problema cardíaco no futuro, não vai ter mais esse segmento para fazer a revascularização", diz Geraldo Faria, presidente da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual.
Para Marcelo Baptistussi, urologista colaborador do Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto, o menor tempo cirúrgico é outra vantagem: o procedimento é feito em duas horas, uma a menos do que o da safena. "A internação pode ser mais curta também", completa.
Uma desvantagem é o custo: enquanto a safena é retirada do próprio paciente, o enxerto custa em torno de R$ 1.800.
O preço é uma dos motivos pelos quais o urologista Paulo Egydio, doutor pela USP em doença de Peyronie, acredita que o enxerto de intestino suíno não seja uma boa opção. Para ele, em muitos casos ocorre uma retração do tecido implantado, o que gera perda da correção. Ele diz que já reoperou pacientes que receberam esse enxerto e que a retração é mais frequente quando se corrigem curvaturas acentuadas. "Já utilizei esse material e não tive bom resultado", afirma.
Para Geraldo Faria, porém, a retração é até menor com esse enxerto. Ele diz que é implantado um tecido 30% maior do que a área a ser coberta para prevenir o problema. Além disso, Faria utiliza um alongador peniano para manter o enxerto esticado até ser substituído pelas células do paciente.


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