São Paulo, domingo, 06 de março de 2011

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Bloco dos insones

Novo arsenal de combate à falta de sono inclui aplicativos para celular, aparelhos terapêuticos e até bebidas batizadas com hormônio

Letícia Moreira/Folhapress
O aposentado Edgard Costa Medrado, 72, que lê antes de ir para a cama como estratégia para atrair o sono

MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Para combater a insônia sem remédios, engenhocas te e aplicativos para iPhone se somam à lista de saídas ditas alternativas.
Antidepressivos e drogas hipnóticas funcionam, mas podem causar dependência. Não devem ser a primeira opção de tratamento.
O aplicativo para o iPhone Sleeping Pill dá dicas para "esvaziar a mente" e ensina o insone a anotar os pensamentos preocupantes. Há também exercício para, com os olhos, seguir um "Z" que se movimenta pela tela.
Outra invencionice é o aparelho Ecotones Sound Therapy Machine (US$ 299, ou R$ 490, www.soundmachinesdirect.com), que emite sons relaxantes.
Para o neurologista Luciano Ribeiro Pinto, do Instituto do Sono Ribeiro Pinto, essas novidades pinçaram estratégias da terapia comportamental, como anotar os pensamentos e ouvir CDs. "Podem dar resultados por pouco tempo. Mas, sem orientação profissional, é difícil resolver a insônia de vez."
O tratamento que mais funciona, segundo especialistas e pesquisa publicada no periódico "Sleep", é a terapia comportamental.
No estudo, mais de 50% das 64 pessoas que concluíram cinco semanas de terapia passaram a dormir melhor. Entre os que consumiam remédios para dormir, 78% deixaram de usá-los.
No tratamento, o paciente aprende técnicas como relaxamento e respiração profunda, diz Yara Fleury, pesquisadora do grupo de Distúrbios do Sono do Hospital São Paulo, da Unifesp.
Funcionou para o aposentado Edgard Medrado, que sofreu sem sono por 15 anos.
O problema começou em 1992, quando sua mulher morreu. "Cheguei no fundo do poço. Passava semanas sem dormir", conta Edgard, que tem 72 anos.
Em 2007, leu a respeito da terapia e resolveu tentar. "Segui à risca. Como já tinha frequentado o Alcoólicos Anônimos, levei a disciplina de lá para a terapia."
Passou a evitar cochilos durante o dia, a tomar um banho quente e a ler livros por 15 minutos antes de ir para a cama, e a fazer atividade física. Nunca usou remédios.
"Hoje tenho um sono invejável. Depois de dez minutos já estou em sono profundo."

INIMIGOS
Fleury diz que a tecnologia, hoje, complica mais a vida dos insones. "Nossa sociedade é inimiga do sono. Há excesso de atividades cognitivas. As pessoas usam a internet à noite, ficam mais ligadas, depois querem dormir num passe de mágica."
A artista plástica Nice faz o oposto do recomendado. Se não consegue dormir, corre para o computador. Assim virou a maior editora da Wikipedia em português.
Ela, que prefere não dar seu nome completo por causa de ameaças que já recebeu de usuários da enciclopédia on-line ("é um ambiente muito competitivo, que beira o bullying"), já editou mais de 230 mil textos.
Como na maioria dos casos, a falta de sono de Nice, 61, não tem causa definida. Ela é um exemplo do uso produtivo da insônia. Segundo Fleury, em um mundo que funciona 24 horas, o insone pode até se dar melhor.


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