|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"O que esperamos? Que essas pessoas fiquem quietinhas?"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O desconforto de encarar a
morte estampada na tela está
relacionado à forma como
encaramos esse fato da vida.
"Esses blogs chocam porque não suportamos a dor do
outro. O que esperamos, que
esses pacientes fiquem quietinhos?", provoca o psicanalista Roosevelt Cassarola, autor de "Da Morte" (Papirus).
Para Roosevelt, fazer a
classificação "pobre e preconceituosa" de exibicionismo é um erro. "Todo mundo
precisa ser visto para existir."
Como as doenças terminais (o termo politicamente
correto é "sem possibilidades terapêuticas") tolhem a
autonomia, o blog vira um
espaço de atuação. Como diz
Luciana Holtz: "Ali o paciente pode mandar".
E pode editar também, fala
Roosevelt. "Há textos tão otimistas que parecem negação
da realidade. Mas a pessoa
tem o direito de esconder o
que quiser, cada um dosa o
quanto quer se expor."
É o que faz a estudante
Bruna Souza, 20, em seu blog
Linfoma Emocional (http://linfomaemocional.blogspot.com/). Quando seu namorado, Tadeu, iniciou o Linfomaníaco (http://linfomaniaco.blogspot.com),
para falar de seu câncer, Bruna criou um blog paralelo.
"No meu blog, como o Tadeu sempre fazia no seu, tento mostrar um lado positivo,
para deixar a situação mais
leve para quem a vive e para
quem lê", diz Bruna.
Tadeu postou, em 21 de dezembro último, a esperança
de uma "medula limpa" no
Natal. Morreu menos de um
mês depois. O blog dele continua no ar. E Bruna tenta
manter o seu, como dá.
"Quero continuar o meu
blog para ajudar pessoas que
passam por situações parecidas. Agora estou mal, não
consigo escrever coisas "pra
cima", então estou dando um
tempo. Quando a vida melhorar, eu volto", diz.
O blog pode ajudar, segundo Silvana Maria Aquino,
psicóloga especializada em
cuidados paliativos. "Ele facilita a expressão, ventila
emoções dessa fase. Acaba
tendo caráter terapêutico."
E deixa uma marca. Dizia-se, antes, que para morrer em
paz era preciso ter filho, escrever livro e plantar árvore.
Hoje, talvez baste um blog.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Plantão Médico: Os vírus da Copa da África do Sul Índice
|