|
Próximo Texto | Índice
Válvula é utilizada para tratar enfisema
Técnica minimamente invasiva é usada por hospital de Porto Alegre em pacientes com a doença em estágio avançado
Aprovado pela Anvisa em
2008, procedimento tem
um impacto positivo na vida
do doente, mas nem todos
podem se beneficiar dele
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um procedimento minimamente invasivo, que consiste na
colocação de válvulas endobrônquicas no pulmão, está
sendo empregado para tratar
pacientes com enfisema pulmonar em estágio avançado no
Hospital Moinhos de Vento,
em Porto Alegre (RS).
O enfisema é uma doença
progressiva das vias respiratórias, caracterizada pela dilatação excessiva dos alvéolos.
Com o tempo, o paciente perde
a capacidade de respirar normalmente, pois o ar se acumula
nos pulmões, que aumentam
de volume. O tabagismo é o
principal fator desencadeante.
Em caráter experimental, a
Santa Casa de São Paulo vem
utilizando uma outra técnica
para permitir a saída do ar represado no pulmão doente.
Trata-se de um dreno, que fica
exposto ao ambiente, que deve
ser trocado semanalmente e
usado a vida toda. Nove pacientes foram operados até agora.
No Moinhos de Vento, cerca
de 40 pessoas já foram atendidas. Antes do procedimento, o
paciente é sedado e recebe uma
anestesia tópica. Com o auxílio
de um broncoscópio, o médico
coloca as válvulas -três, em
média, com cerca de 4 mm cada
uma- no pulmão afetado. O
procedimento dura cerca de
uma hora e o paciente pode ter
alta já no dia seguinte.
"A válvula permite isolar
uma área do pulmão para evitar
que ela aprisione ar e comprima áreas menos afetadas", diz o
médico Hugo Goulart de Oliveira, um dos coordenadores
do Núcleo de Tratamento do
Enfisema do hospital.
Amarilio Macedo, outro
coordenador do núcleo, explica
que as válvulas são levadas aos
brônquios segmentares ou subsegmentares do pulmão, onde
se abrem. A partir de então,
quando o paciente inspira, a
válvula se fecha, redirecionando o ar para outras áreas do pulmão. Ao expirar, o dispositivo
se abre, permitindo que o ar
saia da parte doente e reduzindo o volume pulmonar.
Embora não seja capaz de reverter a doença, o procedimento melhora a qualidade de vida
dos pacientes com enfisema em
grau avançado ao permitir que
eles voltem a fazer atividades
que tinham sido obrigados a
abandonar -coisas simples,
como tomar banho ou andar na
rua. "Nós apostamos na qualidade de vida, não no aumento
da sobrevida. Isso é uma interrogação porque não existe tempo nem estudo para saber se [a
técnica] está aumentando o
tempo de vida", afirma.
O procedimento não é indicado para todos os pacientes. O
alvo do tratamento são aqueles
que sofrem de enfisema heterogêneo, que não acomete todo
o pulmão igualmente. "Estima-se que a cada dez, três sejam
candidatos", diz Oliveira.
Até agosto do ano passado,
quando as válvulas foram aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
para tratar o problema, as únicas alternativas para pacientes
com a doença severa eram a cirurgia de redução do volume
pulmonar e o transplante.
De acordo com Oliveira, a colocação da válvula é a técnica
endoscópica que se encontra
em estágio mais avançado. "Já
passou por todas as fases de
pesquisa e está em uso comercial na Europa e no Brasil."
Para Arthur Rothman, pneumologista do hospital Albert
Einstein, ela tem bom respaldo
fisiopatológico porque age de
maneira contrária à doença,
mas são necessários mais casos
para avaliar a relevância do tratamento. "Ainda faltam evidências estatísticas para referendá-la, mas a técnica promete.
Ela vem "substituir" a cirurgia
de redução de volume pulmonar porque é muito pouco invasiva, relativamente simples e
traz pouca complicação. É uma
enorme vantagem", acredita.
Já a pneumologista Iara Fiks,
do Hospital São Luiz, ressalta o
fato de que nem todos os pacientes podem ser tratados
com essa técnica. "É uma luz no
fim do túnel para alguns que se
encaixam no critério de inclusão. A vantagem é que não tem
a morbidade da cirurgia redutora, mas, se indicar a colocação para o paciente errado, ele
não vai ter benefício algum."
No fim de outubro, médicos
de São Paulo, Rio de Janeiro e
Bahia estiveram em Porto Alegre para aprender a técnica.
Embora tenha sido aprovada
em 2008, nem todo plano de
saúde paga o procedimento. A
válvula custa R$ 10 mil.
Próximo Texto: E eu com isso? Índice
|